Capítulo 35. Ansiedade

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Dois noxdiems tinham se passado desde que eu tinha visto Arkadi. E, mesmo com a passagem das horas, eu não conseguia parar de pensar na nossa conversa. Eu precisava me distrair e focar nos outros milhares de problemas que eu tinha. Então usei meu tempo para conhecer Venerna com Plumala.

Aquela cidade era mais do que um refúgio para a revolução... Era uma metrópole, mais avançada e intrigante do que qualquer outra cidade que eu já tinha visto na Terra, fervilhando de vida e sonhos que reluziam nas pontas das lâminas da revolução. E, quando mais eu descobria as reentrâncias daquela caverna, mais havia o que se conhecer.

Descemos a escada escavada da rocha até um dos níveis mais profundos de Venerna, onde as paredes negras ganhavam faixas de tom avermelhado que revelavam as épocas impregnadas na rocha. Em um dos níveis inferiores a encosta se abria para que pudéssemos ver de um parapeito os soldados treinando abaixo.

Uns deles usavam uniformes vermelhos, outros azuis e um terceiro grupo, brancos. Observei-os lutar por um tempo, até que percebi que os que vestiam azul sempre perdiam contra os outros dois grupos, enquanto que os vermelhos, ainda que parecessem mais eficientes, eram sempre derrotados por aqueles em branco, impecáveis e imbatíveis. Estariam os soldados mais fracos sendo marcados com os uniformes azuis?

E por quê?

Paramos nosso tour em um pequeno restaurante encravado na parede, decorado com pontos de luz amarela pendurados em finas cordas. Nos sentamos em uma mesa logo à frente, próxima do parapeito, e observamos o rio brilhante de Venerna sibilando pela pedra abaixo.

– Todas as belezas e mistérios desse mundo aos nossos pés e as suas sobrancelhas continuam tão franzidas... Tão preocupadas... – Plumala sussurrou e eu imediatamente suavizei a minha expressão.

– Com tudo que está acontecendo... Seria um sonho se eu não estivesse.

– Preocupação é a ciência de que não se tem controle sobre algo. – Ela disse, me dando uma gota da sua sabedoria. Talvez sem essa ciência eu não tivesse preocupação nenhuma... Ou talvez se eu tivesse controle. – O que a está preocupando, especificamente, sobre tudo que está acontecendo?

Eu não podia contá-la que estava incerta sobre o quanto podia confiar na rebelião, buscando por respostas para as escolhas da minha mãe... E também não queria contar que precisava da distração para fugir dos meus pensamentos sobre aquele outro humano... Mas eu tinha muitas outras preocupações na minha lista para compartilhar.

– Não sei se consigo chegar à altura das expectativas que colocaram em mim... – Confessei. – Acho que cometeram um erro em me deixar entrar...

– O que eu vi você fazer não foi um erro. – Me voltei para ela. – Você tinha os mesmos olhos que as criaturas ao redor daquele círculo, Donecea... E pertence demais a tudo isso para chamar de erro.

Eu não sabia se aquilo era uma coisa boa ou ruim.

– Mas e se eu falhar?

– Bem... Com a morte não há mais preocupações para se sentir... Há um consolo, afinal, para as nossas derrotas.

Eu definitivamente não podia perder.

– O que estão fazendo aqui papeando? – A voz de Deinos interrompeu nossa conversa. – Voltem ao trabalho! Essa revolução não é movida a conversas!

E, enquanto eu era escoltada de volta, não consegui me impedir de falar:

– Talvez eu também devesse treinar com aqueles soldados lá embaixo... – Deinos me encarou, apenas para rir diretamente no meu rosto.

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