Capítulo 42. Sede

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Parte 5
Ocitocina

Terceiro círculo do Império
Torre de Delitos

Retornamos para Venerna na noite seguinte, enquanto os soldados piones recém conquistados ficaram no Distrito de Veneno, para conquistá-lo em uma reação em cadeia.

Me escondi no aposento das columbas, fugindo de Kadi e dos líderes da revolução - aqueles que podiam ser os verdadeiros responsáveis pela morte da minha mãe... Mas eu não podia me esconder para sempre.

Naquela noite, quando eu estava me preparando para dormir, Korrok entrou no ambiente.

Pulei para trás e me encolhi contra uma das paredes rochosas. Como eu esmagaria a cabeça dele contra as pontas negras daquela parede de pedra se ele me atacasse? O puro terror no meu rosto o fez rir.

- Não acho que eu estaria tão bem-vestido para matá-la no meio da noite... - Korrok debochou, e então eu percebi que ele realmente estava elegante, vestindo uma espécie de terno vorrampe.

- Esse é mínimo que eu mereceria, não acha? Um traje apropriado. - Sua risada rouca arranhou meus ouvidos. - Qual a ocasião então?

- Comemorar a tomada do Distrito de Veneno.

Ergui uma sobrancelha.

- Não acha cedo demais para isso?

- Os Áulicos costumam revidar mais rápido quando acham que tem alguma chance de recuperar o planeta. - Explicou. - O silêncio deles é nossa vitória.

- E você está me convidando? - Korrok confirmou. E eu transbordei de desconfianças: - Por que não pediu que Plumala viesse me chamar?

- Porque o lugar para onde vamos não é para columbinhas.

- E é para uma humaninha?

- Você já nos mostrou que não é só isso. - Abri a boca, mas ele me continuou: - E, antes que pergunte, Phaga não quis vir chamá-la porque ele "não quer vê-la com essas camas por perto", seja lá o que queira dizer com isso. - Corei.

E imediatamente mudei de assunto:

- Por que você o chama de Phaga, afinal?

- Pelo mesmo motivo que você o chama de Kadi.

- Por que os nomes que damos são partes de nós que deixamos com os outros para que carreguem consigo?

- Não. Porque irrita ele. - Revirei os olhos. - Estaremos no estacionamento em trinta minutos.

E então ele saiu sem rasgar a minha garganta.

• • • ֍ • • •

O ecoar dos meus saltos contra o piso de pedra anunciou a minha chegada no estacionamento. Kadi me esperava do lado de fora da nave, enquanto todos os outros já estavam dentro. Ele estava usando um terno negro minimalista que se encaixava ao seu corpo com perfeição e, assim como eu o saboreei, ele me explorou de cima a baixo com os olhos. Eu estava coberta por um vestido acetinado que se prendia às curvas de meu corpo, tingido de vermelho para que ninguém nunca visse meu sangue caso ele fosse derramado. A peça tinha um decote em "V" que subia em duas finas alças para os ombros. Deles se penduravam correntes de pedrarias que caiam nas minhas costas nuas e tilintavam a cada passo que eu dava, como o chocalho de uma cascavel. Aquele vestido me transformava na criatura elegante e perigosa que eu precisava ser... Alguém que poderia sobreviver a tudo.

Ao perceber a minha presença, Kadi abriu um sorriso felino.

- Você parece estar pronta para matar um homem.

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