Capítulo 13. Hemorragia

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Eu não podia ficar ali nem mais um minuto sequer.

Nada garantia que eles não iriam me matar assim que tivessem o que queriam de Arkadi. E, mesmo que acreditassem na minha medula e decidissem me manter viva, nada garantia que em algum outro momento eu conseguiria fugir.

Nada garantia que eu conseguiria fugir agora.

Mas eu não me conformaria antes de tentar.

Balancei a perna até que o bisturi que eu tinha guardado no bolso caísse e o peguei do chão depois de muito contorcionismo. Guiei a lâmina para as amarras que me prendiam e as rasguei com o atrito. Quando outros humanos trabalhavam no Oásis comigo eles diziam que eu era paranoica em sempre manter comigo um bisturi com a lâmina montada; o que eles diriam agora?

Tateei as paredes pelo escuro até a porta por onde Arkadi tinha saído e abri apenas o suficiente para ver algo do lado de fora; e continuei vendo nada. Me embrenhei pelo escuro até alcançar uma fraca lâmpada amarela e o quanto aquele lugar era escuro para mim só me fazia pensar no quanto deveria estar iluminado para os vorrampes... E eu provavelmente estava completamente visível no meio do corredor. Mas o fato de que eu ainda estava viva me dizia o contrário.

Naquele corredor o teto era tão alto que parecia um céu escuro sem estrelas e incontáveis containers se empilhavam por todo seu comprimento próximos à parede, deixando no centro uma via para o trânsito dos vorrampes. Me espremi entre os containers e a parede, tentando avançar enquanto o tornozelo ferido me atrasava. Cambaleei pelo caminho estreito o mais rápido que consegui e me abaixei atrás do metal enferrujado quando vi vorrampes passaram. Prendi a respiração para que não me ouvissem e implorei que não sentissem o cheiro do meu sangue, tão pungente que até eu conseguia senti-lo. Ouvi seus passos se aproximando, suas garras raspando o piso, seus rosnados se tornando mais audíveis... Mas então eles passaram direto pelo corredor. Espreitei para além do container, sem entender como eu ainda estava viva, e vi os vorrampes correndo apressados pelo corredor, sem tempo para investigar a fonte daquele cheiro e indo para... Algo.

Eles carregavam armas maiores do que a minha cabeça, todos vestidos com um traje vermelho manchado, como se tivessem pegado o uniforme branco do exército do Império e o tingido de sangue... Para transformá-lo em um uniforme seu. Roupas já sangradas; para que ninguém soubesse quando eles estivessem sangrando.

Algo estava acontecendo...

E eu só podia esperar que fosse suficiente para que eu pudesse sair dali.

Quando passei por uma caixa de cartuchos entreaberta e me lembrei daqueles que tínhamos perdido. Talvez se eu pudesse me esticar um pouco...

Mas então os vorrampes me viram.

Eles dispararam na minha direção e eu fugi aos tropeços por entre os containers que eles amaçavam, me espreitando pelo metal a centímetros de suas garras e de seus olhos ensanguentados. Cada pisada do meu tornozelo era um choque que invadia toda a minha perna e mente. Eu corri com os olhos por sobre os ombros e, antes que pudesse parar, tropecei no corredor escuro para além dos containers, caindo diretamente nas garras de Korrok.

Estremeci quando me vi incapaz de escapar, rodeada por vermelho e dor.

– Nós precisamos de você mais agora do nunca, sapiens... – Ele sibilou, violência na voz.

– Não... – Grunhi. – Essa guerra não é minha!

Então rasguei o ar com o bisturi, atingindo seu terceiro olho.

Um rugido explodiu da garganta da criatura e suas garras nos meus braços se afrouxaram apenas o suficiente para que eu conseguisse me desvencilhar.

Endossimbiose | Versão Em PortuguêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora