Capítulo 57. Metástase

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Primeiro círculo do Império
Distrito de Poder

Meus passos me levaram para o palácio do Distrito de Poder pela ponte agora rachada.

Eu sabia o que viam os olhos que me encaravam: um fantasma, assombrando onde pisava, a sombra daquela que antes vivera no meu lugar e onde eu já não sabia ter se escondido, assustada com tudo que vimos, ferida com tudo que passamos, destruída com tudo que perdemos...

Gaxy estava morta.

Sapiens estava morta.

Doxy estava morta.

E só restara a Imperatriz.

Na última vez em que, seguida pelo meu exército, eu pisei à frente das portas destruídas do palácio, os Áulicos barraram o meu caminho, como se tivessem previsto a minha chegada – como se pudessem impedi-la – porque simplesmente não havia caminho diferente para mim.

– Korrok estava certo... – Uma voz se ergueu no silêncio. Lupan. – Vocês humanos realmente são os piores. – E, talvez em outra vida, eu teria rido com ele... Mas não mais nessa.

– Você não viu nada ainda.

– O que quer aqui?! – Um dos Áulicos subitamente latiu na minha direção, ao que não me dei o trabalho de responder.

Apontei com a cabeça para frente, mandando aos meus soldados que avançassem e tirassem os Áulicos do caminho para que eu pudesse voltar ao salão central da construção. E os guardas do Aulicado não ousaram se aproximar nem um passo do meu exército fiel, mais infinito do que o horizonte.

– Você não pertence ao Aulicado! – O Áulico de antes rosnou e eu me voltei para ele, enviando-o um olhar esguio como se o encarasse do topo de uma pilha de ossos.

– Não existe mais Aulicado. – Sibilei. – Apenas eu.

E o novo Império.

Me voltei para o caminho e segui até que meus pés parassem diante das portas do salão destruído, os escombros me encarando sem que eu quisesse mergulhar nos restos do poder que lutamos tanto para ter. Toquei sua parede e senti o silêncio... Sem segredos para me sussurrar sobre o universo, sem pulsação para indicar que estava vivo...

Até o palácio nós tínhamos matado.

Ouvi os antigos Áulicos resmungarem atrás de mim, seus xingamentos sempre tão vazios e insignificantes até que algo me atingiu:

– Uma humana? Não podemos deixar que um deles arruíne o Império como eles fizeram com o próprio mundo...

Então eu ergui a mão e explodi minha toxina contra o corpo do Áulico que ousara dizer aquilo, lançando-o para trás com a velocidade de um raio. Ele se chocou contra a parede com tanta força que seu corpo se esfacelou em uma chuva de órgãos, pintando a pureza da parede de morte vermelha... Sangue inocente, misturado com o violeta que pingava das minhas mãos, as armas que eu empunhava.

Eu teria tirado o mundo inteiro do caminho se tivesse.

Naquele momento os guardas do aulicado se encheram de coragem e avançaram para me conter, mas eu estalei os dedos... E todas as suas cabeças rolaram pelo piso, decapitadas com precisão cirúrgica, enquanto os corpos colapsavam no chão frio e os meus soldados me cercavam em uma muralha impenetrável.

O silêncio caiu como noite sobre os que restaram, seus olhos voando da onda de morte até mim, um pilar de ossos ao centro de tudo.

– Achei que humanos tivessem humanidade... – Um dos antigos Áulicos tremeu, desabando ajoelhado ao chão assim como os demais em reverência a mim.

Endossimbiose | Versão Em PortuguêsWhere stories live. Discover now