Capítulo 38. Inconsciência

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Quando Korrok me disse o tamanho da recompensa, eu não consegui negar o convite de participar daquele ataque. Ele sabia muito bem o quanto eu ainda precisava, e eu sabia muito bem que ele tinha o suficiente necessário para que eu alcançasse o meu objetivo, mas Korrok continuava me dando migalhas. Um pagamento considerável era uma oportunidade que eu não podia deixar passar, e, mesmo que o medo em mim conforme seguíamos pela floresta nevada gritasse que não era uma boa ideia continuar, eu não recuei.

– Tudo que temos que fazer é disparar primeiro. – Korrok sibilou para mim, depois de me ver pular de susto a cada movimento ao meu redor. – Desviamos, disparamos e recolhemos os corpos. Simples assim. – Mas nós não estávamos ali para matar, porque, ao invés de balas, nossas armas estavam munidas com o mesmo pó branco que eu despejei sobre um Áulico na festa do Distrito de Destruição; estávamos ali para convertê-los. – E, quando menos esperar, estaremos comemorando a nossa vitória.

Ajustei a máscara no meu rosto, completando a armadura que me cobria assim como os demais soldados, impenetrável para o pó. Korrok não queria que aqueles que estavam no seu controle fossem contaminados pelo metriona, afinal, e mudassem sua lealdade para ele.

– Aposto que você já a planejou... – Murmurei.

Korrok abriu um sorriso com as presas afiadas saindo pelos cantos da boca.

– Eu não estaria aqui se não estivesse tão confiante.

– Achei que você fosse mais inteligente, Korrok, e não confiasse em planos de humanos. – Provoquei.

– E eu não achei que você fosse inteligente o suficiente para criar um plano em que eu pudesse confiar.

– Pelo visto subestimamos um ao outro.

– De fato. – Korrok riu. – Mas não hoje.

Confirmei em silêncio e segui para uma das pontas do acampamento inimigo, enquanto outros grupos o cercavam por outros lados. Korrok bateu no meu ombro com aquelas garras e rumou para outra parte, enquanto eu era responsável por essa. Me abaixei e caminhei para a ponta de uma rocha de onde eu podia ver o acampamento a alguns metros abaixo, circulado por soldados do Império.

Observei por alguns minutos o perímetro, como um caçador experiente aguardando pela oportunidade perfeita para atacar, até que vi um soldado se afastar dos demais. Ele perscrutou a área por entre as árvores brancas próximas à rocha em que eu me escondia, se afastando de tudo e todos o suficiente para que, quando caísse inconsciente sobre a neve macia, ninguém o ouviria ou veria. Aquela era a chance perfeita.

Mirei o cano da arma na sua nuca de longe e esperei que ele parasse de andar, lentamente apertando o gatilho mais e mais... Até que, quando eu soube que não erraria, disparei.

O pó branco voou da minha arma e se chocou contra a sua pele azulada, penetrando nas profundezas da sua mente. Ele se virou para mim, tão confuso que o gatilho nas suas garras perdeu o sentido e, por um instante, vi um vazio abismal tomar seus olhos, como se o espaço se rasgasse em fenda dentro da sua mente e feras cruzassem por dentro, contando-o os segredos que o universo não teria dito para mim. No instante seguinte, porém, ele perdeu a consciência e desabou, o som do seu corpo pione sendo abafado pela neve macia e o seu ferrão negro, a arma mais perigosa de um pione, caindo incapacitado ao chão.

Senti um sorriso se abrir no meu rosto.

O ataque ao Distrito de Veneno tinha começado.

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