Capítulo 63 | Molothrus

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Boa leitura!

Cinco dias depois...

[Jimin pov]

Uma vez, li em um artigo, algo sobre um transtorno mental chamado despersonalização/desrealização. Lembro que os sintomas envolviam se sentir longe de si mesmo, como estar perdido na própria mente, assistindo de longe seu corpo agindo no automático sem que você consiga se reconectar ou interferir. Se sentir fora da realidade, como se uma névoa densa apagasse o realismo e tirasse seu foco das coisas a sua volta, distante de tudo como se estivesse vivendo em um sonho mesmo estando acordado.

Preso em sua própria mente.

Lembro de estremecer ao imaginar o quanto isso poderia ser completamente perturbador e até mesmo, evitei ler o resto do artigo.

Por isso, agora, foi arrepiante me dar conta que me sinto exatamente assim.

O tempo escorria por meus dedos, eu me desligava tão facilmente do resto a minha volta que chegava a ser assustador. Não tinha consciência das tarefas que executava, quando me dava conta, eu já tinha feito o que era preciso sem nem ter lembranças disso. A mente tão distante dali que, às vezes, quando algum som alto me assustava, eu me dava conta de que estava parado tempo demais no mesmo lugar encarando um ponto fixo qualquer, mas sem realmente ver nada.

Não vi o dia passar, mas já era hora do jantar, eu tinha tomado banho e de alguma forma, já estava sentado em um dos troncos caídos em volta da fogueira. Arfei confuso ao olhar para as minhas próprias mãos e queria erguer o olhar, dar mais atenção ao resto a minha volta, mas... além das minhas mãos, meu olhar se focou na marquinha avermelhada já quase sumindo na pele da minha coxa, um pouco acima do joelho, onde o shorts não cobria e... eu já estava sendo puxado para distante novamente.

O ar escapou lentamente por meus lábios, enquanto as imagens e sensações voltavam a me consumir... lembranças dos poucos minutinhos que conseguimos nos encontrar. Acolhidos pelas sombras da noite, embaixo dos cobertores em nossa barraca, o corpo pesado de músculos grossos e rígidos, a pele morena e brilhante, as mãos grandes que me agarravam com firmeza, me apertando nos lugares certos, a boca gostosa e sempre tão faminta... os olhos negros expressivos de tirar o fôlego.

Tão lindo, tão irresistível... não conseguia tirá-lo da cabeça.

Eu não conseguia limpar a mente, meu olhar perdia o foco e tudo se apagava à minha volta. Em minha mente tudo o que eu podia ver eram os olhos escuros, cegos de luxúria, seu cheiro me cercando, o calor de sua pele, sua respiração quente acariciando meu rosto... o desespero dos beijos intensos por matar a saudade, as coisas que fizemos debaixo dos lençóis e... a angústia por saber que logo teríamos que nos separar outra vez.

Em uma dessas noites, eu já estava quase perdido no sono, estava tudo tão calmo e aconchegante, meu corpo estava anestesiado, esgotado e satisfeito. Minha mente ia se apagando aos poucos, mas eu ainda podia sentir a carícia suave e doce das pontinhas dos seus dedos sobre a minha pele exposta, desenhando as curvas do meu corpo, ainda podia sentir o peso do seu olhar sobre o meu rosto e antes de me perder de vez na névoa do sono, pude sentir a maciez dos seus lábios sobre a minha testa em um beijinho doce, o sussurro baixinho no tom rouco:

- A profecia sobre o último pecado estava certa, afinal. - ele confessou para si mesmo ao provavelmente acreditar que eu já dormia. - Nunca vou me arrepender de amar você, menino anjo... Seu amor é a minha vida.

Mesmo que já estivesse envolvido demais na entorpecência do sono para conseguir me mover, senti o meu coração reagir de imediato, batucando forte em resposta e sei que Jungkook pôde ouvir, mas não lembro de mais nada depois disso.

Último Pecado | JikookWhere stories live. Discover now