Capítulo 71 | Armadilha

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[Jungkook pov]

Até o limite do corpo. Perturbadoramente, aguentando, suportando até a dor ser tudo o que seja capaz de entender e então, você não pensa mais, você não lamenta mais... apenas a sente. Sente queimar até te deixar tão lúcido como nunca esteve antes. Vivo, mesmo que a beira da morte. E a agonia é o seu combustível, alimentando suas forças, te obrigando a se manter consciente até o último instante daquele inferno. Te obrigando a sentir, como um castigo por seus pecados.

Mas é um preço que você pagaria por quem ama... quantas vezes for necessário.

E mesmo que a visão oscilasse, meu olhar ainda se mantinha fixo no meu reflexo a minha frente, minha imagem e semelhança, por sangue e alma, parte do meu eu.

Assim como eu, ele estava agachado a minha frente, joelhos no chão, suas mãos fechadas sobre o gramado, em punhos tão apertados que os nós dos dedos se tornavam brancos. Sua dor era palpável, perceptível através dos músculos tensionados e contraídos, veias visíveis, pele brilhando em suor... dentes trincados evidenciando a agonia em sua expressão.

Como ter o corpo sendo consumido lentamente por chamas, eu sabia que ele estava sentindo exatamente o mesmo inferno que eu, mas... os olhos verdes-esmeralda permaneciam concentrados em uma espécie de foco inabalável. Um olhar firme e seguro, desafiador e perturbadoramente fixo no meu.

Me provando que minha impulsividade não era páreo para o seu controle... que força física não é nada diante o dom da resistência.

Assisti enquanto as veias escuras da contaminação se espalhavam por sua pele, subindo por seu pescoço, enquanto a dor ganhava novas proporções, os olhos verdes-esmeralda sendo consumidos até estarem ardentes em vermelho-sangue...

E ele permanecia imóvel e inexpressivo, sob controle, suportando.

Eu sentia que já não aguentava mais, agachado na mesma posição que ele, sentia que as forças se esgotavam, a exaustão me consumindo. Queria me render a dor, gritar e implorar para que parasse, mas... aqueles olhos à minha frente me desafiavam. Zombavam de mim, já certos de que sou fraco demais para suportar e decepcionado por isso.

Então o orgulho gritava mais alto do que a dor dentro de mim, me obrigando a permanecer imóvel no meu lugar, suportando a agonia, sustentando o olhar de Taehyung, com gosto de sangue na boca e o sentindo escorrer do meu nariz.

- Não se concentrem na dor, não deixem se expandir. Não devem senti-la e sim controlá-la. - a voz de Soobin pairava a nossa volta, em orientações secas e impacientes. E ao não perceber o progresso que exigia, ele suspirava com irritação ao murmurar: - Vocês seriam pateticamente inúteis sem Jimin.

Estávamos de volta ao nosso ponto de encontro no meio da floresta, desta vez, na pequena clareira onde vi Junny pela primeira vez. E só quando o nome do menino anjo foi pronunciado, os olhos vermelhos de Taehyung se desviaram dos meus.

Meu olhar seguiu o dele, chegando até Jimin, do outro lado da clareira. Longe o suficiente, o loirinho estava inconsciente, seu corpo sem quase nenhuma energia, cuidadosamente deitado sobre uma pedra escura de um metro e meio de autoria.

Não havia nenhum vestígio do seu dom, nenhum alívio por sua presença. Não podíamos senti-lo.

- Uma hora. - a voz de Junny soou próximo a mim enquanto o garoto provavelmente verificava em seu relógio. - Estão indo bem, já suportam mais facilmente chegar a uma hora inteira sem o auxílio de um serafim!

A voz infantil do menino soava esperançosa e animada, mas Soobin não compartilhava da mesma empolgação.

- Isso não significa nada. - murmurou secamente. - Não precisamos que suportem. Precisamos que se adaptem. Se Jimin morrer em combate, eles terão que se virarem sozinhos ou morrerão também. E se eles morrerem... nós perdemos.

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⏰ Last updated: Oct 16, 2023 ⏰

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Último Pecado | JikookWhere stories live. Discover now