Capítulo 31 - A Pasta

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| Lisa |

Ouço a porta fechar, anunciando a saída do Mark, e friamente me dirijo até a mesa onde as pastas estão

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Ouço a porta fechar, anunciando a saída do Mark, e friamente me dirijo até a mesa onde as pastas estão. Olho-a uma por uma, com vaga lembrança de uma pessoa ou outra. Já perdi a conta da quantidade de pessoas que vi na trigésima pasta e ninguém me chamou atenção... ninguém tem os olhos frios a ponto de me fazer relembrar da fisionomia do meu esqueleto guardado a sete chaves em minha mente.

Parece estranho esquecer do rosto daquele que mais me feriu na vida, no entanto, sei que quando o trauma é grande, há uma parte da sua mente que o faz arquivar. A chamada amnésia dissociativa.

Sei disso porque no início meus medos se rodeavam em pesadelos constantes, fixados em olhos, e todos que me olhavam com um interesse além do comum na rua, eu me retraía e tinha ataques de pânico e surtos que me faziam voltar para qualquer lugar que eu estivesse habitando, e me excluir do mundo.

Tentava a todo custo lembrar do rosto do malfeitor e não apenas dos olhos; mas nada vinha além dos olhos frios e calculistas que me torturavam, e foi em um desses desesperos, que pela falta financeira de ir a uma psicóloga (e da minha falta de segurança para confiar em alguém), bem nas primeiras semanas em que cheguei a Seattle, que apelei para o tão cobiçado e prestativo Google, em uma biblioteca pública no subúrbio de Seattle, e após incessante busca, descobri que esse meu buraco vazio na mente se tratava de uma amnésia psicogênica.

"A amnésia psicogênica ocorre porque aquelas memórias que não se consegue lembrar provocam sensações fortes de dor e sofrimento, e assim o cérebro age bloqueando as informações como mecanismo de defesa".

Dor e sofrimento.

Essas são as duas palavras chaves que me corrói até hoje, só que em uma intensidade mais moderada. A dor vem pelo fato da lembrança ser vívida em minhas entranhas psicológicas e o sofrimento por eu não ter o poder de apagar isso também; de levar essas duas bagagens para o meu arquivo mental.

Compreendo que a intenção do Mark em me dar esta alternativa, é boa; no entanto, tenho medo da lembrança; mesmo sendo algo que um dia já almejei tanto. Na verdade, tenho o medo do desconhecido que essa descoberta, revirando a caixa de pandora, possa me trazer internamente. Não quero ser um bug humano e muito menos viver em minha mente em um loop temporal do meu pior dia.

 Não quero ser um bug humano e muito menos viver em minha mente em um loop temporal do meu pior dia

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