II - Um plano de resgate

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Quando lhe fora comunicado que as negociações tinham corrido terrivelmente mal, na sua mente imparável começou desde logo a delinear-se os contornos de um projeto para que o cavaleiro Jedi fosse resgatado da sua prisão injusta.

O relatório sucinto, elaborado pelo capitão que acompanhara Luke Skywalker naquela missão, como chefe de uma pequena escolta de dez soldados republicanos, uma mera formalidade pois ninguém se podia apresentar como representante do Senado Galáctico sem ser acompanhado por uma guarda legitimamente nomeada, era parco em pormenores. Fora redigido à pressa, conseguia ela perceber, e com meios limitados. A linguagem tinha um tom premente, os dados eram praticamente inexistentes com muitos espaços em branco que seriam fundamentais para classificar melhor a ocorrência, como coordenadas, responsáveis, aliados e possibilidades, o canal de comunicação fora abruptamente cortado, a mensagem tinha todo o aspeto de ser parcial e incompleta.

Mas era tudo o que tinha sobre o Jedi e sobre o que tinha acontecido em Hkion.

Desconfiava que o Skywalker tivera mais sorte do que a sua escolta. Acreditava que, naquele momento em que lia o relatório, já estariam todos mortos, executados sumariamente já que não tinham qualquer valor para se transformarem numa moeda de troca válida. Apenas o cavaleiro Jedi importava. Ela desconfiava, apreensiva e zangada, de que não hesitariam em livrar-se dele também para demonstrar uma posição de força perante o governo central.

Leia Organa pousou o holopad.

A sua mente passava do projeto ao plano concreto.

O tempo corria a seu desfavor. Não podia solicitar autorização ao Senado Galáctico antes de partir para Hkion. Iria encalhar em formalismos e em autorizações que acabariam por empatá-la e agravar a situação, pois o assunto tornar-se-ia público. A missão do Skywalker no sistema que se revoltava – ela não tinha quaisquer dúvidas, depois daquelas recentes notícias, de que a prisão do Jedi significava uma rejeição formal à Nova República que teria como consequência uma revolução antidemocrática – a missão, relembrou, era delicada por ser secreta. Um pedido quase particular da Chanceler Mon Mothma para verificar rumores que tinham chegado a Chandrila sobre uma guerra civil entre clãs rivais, uma sublevação de escravos e um esquema dúbio, parcialmente desvelado, que supostamente tinha o apoio encapotado de antigos oficiais do Império Galáctico.

Skywalker nunca chegara a verificar nenhuma dessas questões, em especial a última, pois era esta que mais preocupava a Chanceler. Apesar de despachados vários informantes e colaboradores a Hkion, não foi possível concretizar essa eventual ameaça que contava supostamente com a colaboração de ex-militares imperiais. A definição de esquema dúbio mantivera-se, havia até diversos reportes que negavam determinantemente a existência de qualquer apoio externo ao sistema. Hkion era um lugar fechado e isolado, que detestava forasteiros e que afastava estrangeiros, que possuía uma cultura primitiva recheada de costumes bárbaros que escondia dos olhares curiosos dos escassos visitantes.

O fracasso da missão era notório e seria um embaraço se viesse a saber-se que a Chanceler andava envolvida com a aristocracia conflituosa de Hkion por causa de boatos postos a circular por agitadores profissionais que procuravam desestabilizar os passos da jovem Nova República. Por isso, se ela pretendia resgatar o cavaleiro Jedi, para salvar a face de Mon Mothma, pela razão forte e determinante de se tratar do seu irmão gémeo, Leia teria de fazer as coisas discretamente e, o mais provável, totalmente desacompanhada. Ninguém podia saber o que ele se propunha a realizar, nem podia usar qualquer canal oficial.

Levantou-se da sua cadeira, guardou o holopad em gaveta especial que trancou através de um código. Solicitou à sua secretária pessoal a presença do androide protocolar See-Threepio nos seus aposentos e acrescentou que cancelasse todas as reuniões agendadas para aqueles dias. Depois saiu do gabinete.

Percorreu descontraída, dentro da medida do possível, para não chamar as atenções sobre si, os corredores do Senado Galáctico. Voltara a ocupar o posto de senadora nessa magna instituição que foi reinstalada após o fim da guerra que acontecera com a assinatura da Concordância Galáctica. O frenesim no Senado era constante e ela sentia-se realizada num ambiente tão ruidoso e sempre efervescente. Havia demasiadas coisas a fazer, a reconstruir, a reorganizar depois da queda de um regime totalitário. As missões diplomáticas multiplicavam-se, os encontros bilaterais de alto nível eram frequentes, decisões eram tomadas todos os dias.

Porém, naquele dia em que soubera que Luke estava preso num sistema hostil, tinha lançado um alarme incómodo na sua alma e Leia sentia-se desamparada, infeliz e desesperada.

Enquanto cavaleiro Jedi, em representação de uma Ordem milenar que fora impiedosamente perseguida pelo Império, todos os seus membros extintos, Luke ocupava uma posição de privilégio na reconstrução da galáxia. Era muitas vezes requisitado como juiz de causas nobres, assistira como convidado de honra a algumas sessões plenárias do Senado, muitos dias tinha ele passado nos arquivos oficiais de Chandrila trazidos de Coruscant, com acesso total a qualquer documentação, para recuperar antigos preceitos, leis, normas. Congeminava ideias grandiosas sobre o ressurgimento do Templo dos Jedi, das academias, dos cânones do ensino sobre a Força.

Quando surgira a missão a Hkion, Luke apresentara-se como voluntário. Sendo um Jedi era alguém isento e confiável perante uma gente que era, segundo as informações, demasiado desconfiada com estranhos. Leia achou a ideia excelente, pois Luke iria triunfar onde outros tinham falhado.

Pelo seu intercomunicador soube que Threepio estava a caminho. Era reconfortante poder contar com o androide na preparação da viagem que ela iria fazer, por outro lado enervava-se ao antecipar o escândalo que este faria ao descobrir que Luke estava em perigo e que ela se colocava em perigo por ir atrás dele.

Distribuiu cumprimentos polidos, conversou brevemente com algumas comitivas que ela sabia terem chegado recentemente a Chandrila, dando-lhes as boas-vindas. Mostrava o seu sorriso mais luminoso, devolviam-lhe simpatia similar, admirando a sua postura plena de dignidade.

Chegou, por fim, aos seus aposentos e permitiu-se ao desalento. Expirou o ar do peito, os ombros descaíram, dobrou o pescoço que se fixou na bainha do seu vestido formal. Como senadora tivera de voltar a usar trajes que implicavam saias longas e vaporosas. Secretamente sentia falta dos fatos práticos de casaco e calças que usara quando estava em plena ação, durante a guerra civil.

Focou todos os seus sentidos, abstraindo-se do mundo externo. Procurou pela assinatura espiritual do irmão entre os fogachos, os brilhos e as chamas intensas que pululavam o espaço imenso cósmico onde ela e as demais criaturas se movimentavam, ora rápidas, ora lentas, ora preguiçosas, ora lestas, ora pujantes, ora moribundas.

Não o encontrou.

Algo estaria a bloquear a Força. Já estava desconfiada de que tinham isolado Luke, provavelmente com o auxílio de Ysalamiri, aqueles malditos lagartos bloqueadores de energia, usados pelos cobardes que temiam os poderes místicos dos sensíveis à Força. Pois ele nunca a tinha conseguido contactar e ela, que o tentava agora, também não o conseguira fazer.

A sua partida revelava-se mais urgente do que nunca.

Em cima do móvel estava um objeto tubular. Agarrou no seu sabre de luz, sopesou-o. Tinha-o construído com o auxílio de Luke, durante os seus treinos com ele nos caminhos da Força. Eram exercícios práticos, curtos, sem qualquer pretensão, que ela realizara por curiosidade, por dedicação, por passatempo. Naquele dia percebia que iriam, finalmente, ser úteis. Ela iria lutar para salvar o irmão e fá-lo-ia não com uma arma laser, mas munida de uma espada luminosa. Sabia-o. O pressentimento era muito forte.

A porta dos aposentos deslizou para abrir-se.

Leia Organa encarou Threepio com uma expressão grave no rosto contraído. 

Os Fantasmas da NévoaTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang