XXII - Definição de uma nova estratégia

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Um ronco cauteloso de Chewbacca fê-los reagir com um espasmo de surpresa, como se tivessem estado hipnotizados e acabassem de despertar de um longo e estranho sono. Cada um reagiu à sua maneira, em trejeitos que indicavam que não queriam que pensassem que estiveram assim tão afetados pelo suposto transe. Uma nota era comum a todos, porém. A sua estupefação, o pasmo e uma leve desorientação. Bekbaal saíra repentinamente do abrigo e a história ficara a meio. Havia mais perguntas, mas o velho, cioso do conhecimento vital que guardava, dera-lhes apenas o que ele quisera oferecer e não tinha sido particularmente generoso. Demasiadas lacunas que ocupavam aquele relato e que o tornavam frágil e desacreditado.

Eles mexeram-se inquietos, em dúvida, um pouco ansiosos.

Luke tomou a palavra e quis serená-los.

- Ele disse-me que existiriam verdades e mentiras. Não podemos acreditar em tudo o que Bekbaal nos revelou.

- Creio que era um antigo mestre Jedi bastante venerável – observou Threepio e Artoo piou discretamente. Os androides também estavam a processar aquela informação e não ousavam ser demasiado expansivos para não criar atritos com os humanos. – Oh, céus... Tudo isto parece-me demasiado complicado... Por que razão não me convocam para missões mais simples? Sou um intérprete, deem-me coisas para interpretar... Sou fluente em mais de seis milhões de formas de comunicação... Oh, céus! Cala-te tu também, Artoo!

Levantaram-se todos do banco, cirandaram pelo espaço apertado do abrigo, entreolharam-se. Os roncos de Chewbacca prosseguiam. Pequenas perguntas soltas que não careciam de respostas. Fazia barulho para que não caísse simplesmente o silêncio e para que a voz sintetizada e irritante de Threepio não fosse o único ruído ali dentro.

- Acho que ele disse o que precisávamos de saber – discordou Han, passando uma mão pelos cabelos. O gesto indicava nervosismo. – Serve para me orientar. Temos uma guerra para travar aqui, em Hkion. Ou se formos mesmo inteligentes, saímos daqui e deixamo-los com os seus problemas. Não existem escravos que a República precisa de libertar, os dois príncipes que disputem o ouro das minas. Quanto aos fantasmas da Força, são... bem, são fantasmas e não serão úteis a ninguém a não ser aqueles que usam a Força.

- Han, depois de termos ficado a saber que está a ser criado um exército massivo de clones, não podemos ignorar essa informação – censurou Luke, num tom calmo. – Poderá ser um problema enorme para a Nova República. Imagina que a guerra é declarada.

- Hkion não vai declarar guerra à galáxia.

- Eles têm os recursos para se financiarem com o seu ouro e terão um exército ilimitado para combater. O que os poderá impedir?

Leia mordeu os lábios, olhando de Han para Luke. Pensava.

- O que pensas disto, Lando? – indagou Han mexendo um braço.

- Esse Bekbaal é um jogador.

Han exclamou:

- O quê? Estás do lado do Luke e contra mim?!

Luke revirou os olhos. Leia arqueou as sobrancelhas.

- Não se trata de escolher lados, amigo – esclareceu o socorriano. – Sei reconhecer um jogador quando vejo um e esse velho é claramente um jogador. Está a jogar connosco, assim como jogou com os senhores deste planeta durante todo o tempo que por aqui tem passado. E é bastante tempo! Quantos anos... vinte e cinco?

- À volta disso... – corroborou Leia, curiosa para saber onde levaria a argumentação de Lando.

- Ele é um sobrevivente – prosseguiu o socorriano. – Foi um mestre Jedi que fugiu de Vader, que iludiu o Império e que se estabeleceu num sistema hostil que nunca gostou de forasteiros. Especialmente aqueles que lidam com a Força! Conseguiu enganar tudo e todos e manteve-se sempre à margem dos acontecimentos. Ao mesmo tempo conquistava a confiança dos príncipes e muito possivelmente deve ter servido como conselheiro secreto do rei anterior. Está bem, pode ter-nos contado verdades e mentiras, mas podemos sempre verificar as informações que nos deixou.

- Oh... Queres continuar a arriscar o teu pescoço por causa disto... – observou Han, cínico.

Lando assentou as mãos na cintura, devolveu o mesmo cinismo no olhar.

- Preciso de me livrar do Tomason e já percebi que só conseguirei ajuda se continuar a arriscar o meu pescoço por causa disto! Então, parece que não temos outra escolha... senão o de resolver este assunto de Hkion! – Volveu os olhos para o Jedi e para a senadora – O que vamos fazer a seguir?

A cabeça de Leia movimentou-se num curto aceno positivo. Ela tomou a palavra e anunciou:

- Vamos dividir-nos em dois grupos. Um para investigar o exército dos clones... Para isso teremos de viajar até à lua onde se encontram as minas e vamos precisar de uma nave. Temos a Millenium Falcon connosco, pelo que proponho que Han lidere esse grupo. O segundo grupo irá investigar os fantasmas da névoa e nada melhor do que um Jedi para o fazer. O Luke, obviamente, estará ao comando desse grupo.

- Grupo? – estranhou o corelliano. – Somos apenas quatro humanos, dois androides e um wookie. Ou estarás à espera de reforços de Chandrila... senadora?

- Esta missão continua a ser secreta. Encomendei ao Artoo a tarefa de nos arranjar uma linha de comunicação encriptada para conseguir contactar com a Chanceler e assim que estiver preparada vou dizer à Mon Mothma o que aconteceu aqui, com o velho Bekbaal. Dar-lhe-ei as últimas informações e irei falar-lhe do exército de clones. Sem um mandato do Senado Galáctico, a Chanceler não poderá enviar reforços, nem mais ajuda. Tenho quase a certeza que, dado o secretismo deste projeto, vai pedir-nos que continuemos com os meios atuais. Por isso, general Solo, continuaremos a ser quatro humanos, dois androides e um wookie.

- Isso é bastante animador...

- No início era só o Luke.

- No início não havia um exército contra nós.

- Existia um planeta com um conflito latente, a possibilidade da existência de escravos que teriam de ser libertados e um eventual acordo secreto com antigos militares imperiais. Não me parece pouca coisa.

- Para além da guerra local, temos agora que enfrentar fantasmas e clones. O perigo aumentou, ao que me parece... Alteza!

Luke colocou-se entre a irmã e o amigo, abriu os braços.

- Por favor, acabem com a discussão. Não nos levará a lado nenhum. Apoio a decisão da Leia, seremos dois grupos. Grupos reduzidos, é verdade, porque não somos muitos. Proponho o seguinte... Eu ficarei com a Leia e com o Artoo, para investigar os fantasmas da névoa. Não sei o que poderei encontrar e ficarei mais confiante se tiver outro utilizador da Força ao meu lado. Tu, Han, ficarás com o Lando, o Chewie e o Threepio. Estão habituados a situações complicadas, que precisam de um pouco de imaginação para obter uma resolução, pelo que investigar os clones será perfeito para as vossas capacidades.

O androide dourado comentou, inclinando-se para o companheiro que girava a sua cúpula:

- Vão separar-nos outra vez... Oh, sim! Para ti tudo é sempre muito fácil.

- Acho que é uma distribuição justa de meios – completou Luke. – Devemos estar sempre contactáveis e retirar logo que aparecerem sarilhos. Não consigo arranjar uma ideia melhor. Aceitam-se sugestões.

Han rendeu-se à evidência.

- Muito bem, miúdo. Não há mais nada que possamos fazer, não é? Já nos metemos na cova, agora temos de trepar para sair dela.

- Apoiado – concordou Lando com pouca convicção.

Threepio levantou um braço rigidamente.

- Posso sugerir... uma refeição e algum descanso antes da nossa partida?

Leia disse:

- Concordo. Vamos comer e dormir um pouco. O perímetro está protegido, Artoo?... Ótimo! E a linha de comunicação?... Quando estiver pronta, avisa-me.

Luke foi preparar uma refeição com a ajuda de Lando. Fez-lhe sinal para que o acompanhasse. No entanto, não conseguiu juntar a princesa com o contrabandista. Han procurou pela companhia de Chewie, sentou-se no chão e o peludo wookie serviu de encosto enquanto ele relaxava, de olhos fechados, fingindo dormitar. Leia, por sua vez, sentou-se próximo de Artoo e foi-lhe fazendo perguntas sobre a linha de comunicação.

Os dois estavam zangados e Luke só agora se apercebia, triste com isso.

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