XXXV - Entre paredes de metal

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Threepio confirmou o que eles já sabiam.

- A porta está trancada com um código e não conseguirei abri-la sem danificar o mecanismo de fecho – explicou, conciso e profissional. – Se tivesse o Artoo comigo ele poderia tentar contornar a segurança do processador, mas o Artoo não está e o máximo que conseguirei fazer é ir por tentativas, tentando descobrir o dialeto da máquina. Um qualquer passo em falso e reforço a tranca.

O corelliano agitou um braço na direção do androide.

- Então, o que estás à espera? Fala com a máquina e vai tentando saber o código!

- General Solo, será um processo muito demorado. Levarei dias...

- Não me interessa!

- E não nos convinha que a tranca fosse reforçada. Se utilizo uma palavra errada...

- Começa já!

Lando, que andava de um lado para o outro dentro da arrecadação, parou com o grito. Chewbacca grunhiu espantado. Threepio empertigou-se, voltou-se para o painel e suspirou, sinceramente surpreendido com a brusquidão:

- Que homem impossível...

O socorriano seguiu Han com os olhos que fazia um reconhecimento ás paredes metálicas. Estavam perfeitamente encaixadas no soalho e não existiam grelhas de exaustão, quer em cima, quer em baixo. Aquele era um compartimento interno, provavelmente inserido entre corredores para aproveitar um espaço morto na estrutura, usado para acondicionar mercadorias. Era uma excelente prisão, concordou Han. Um lugar provavelmente insonorizado, conhecido por poucos, ignorado por muitos.

Ficou a imaginar por quanto tempo iriam ficar ali trancados. Não via que preparativos pudessem estar a ser feitos que obrigassem a fechá-los ali. Já lhes tinham confiscado as armas, talvez soubessem onde estava a Falcon e tinham ido verificar o que escondia nos seus porões... Imaginá-los a colocar as mãos na sua preciosa nave irritou-o ainda mais. Voltou a cabeça e focou-se em Threepio que ligava os circuitos do painel da porta. Aquilo não iria dar em nada, sabia-o muito bem. Era só para ocupar o androide protocolar e dar-lhe tempo para pensar no que podiam fazer a seguir.

- Ei, não vamos conseguir sair daqui iludindo o mecanismo da porta. Tu sabes isso melhor do que eu – acusou Lando.

Han esmurrou a parede e criou uma concavidade no local do impacto do murro.

- Eu sei disso!

- Acreditas mesmo que o Tomason está por detrás da fabricação de clones em Hkion? – perguntou Lando. – Foste um pouco longe demais com essas suposições.

- Não são suposições – defendeu-se Han. Limpou o suor da testa com a ponta dos dedos. – O teu amigo Yur Tomason está mesmo metido no negócio dos clones clandestinos em Hkion. Não acreditas? – Voltou-se bruscamente e espetou um dos seus dedos. – O que aconteceu não foi nenhuma coincidência e o Tomason não negou nenhuma das afirmações. A base do taanabiano é aqui, nesta lua de Hkion. Ele está metido no negócio dos clones, afirmo-o com toda a certeza. Talvez se tenha cruzado algures com um kaminoano que conhecia a existência dessa tecnologia aqui e resolveu investir nesta empresa. A guerra estaria a terminar, havia confusão na galáxia, este sistema sempre esteve longe de tudo. Por um acaso, apareces em Hkion, deves-lhe dinheiro e ele acha que... bem, que teve sorte. Talvez seja alguma coisa... – Agitou os braços. – Alguma coisa relacionada com a Força.

- Acreditas realmente nisso? – estranhou Lando. Chewbacca veio colocar-se ao lado dele, rugindo baixo.

- A Força é muito forte em Hkion, não foi o que o velho disse ao Luke? Os clones estão a ser produzidos para derrotar os fantasmas da névoa e todas essas tretas...

- Tens o anel do velho contigo?

- Sim, está comigo...

- Talvez possamos trocá-lo pela nossa liberdade. Não sabemos se o Tomason não ficará interessado nesse artefacto. Afinal, ele está do lado dos clones que deverão derrotar os tais espíritos da Força.

- Hum... Talvez. O Tomason só estará no negócio, não quer saber de lados vencedores desde que seja pago. A tua dívida é muito grande?

Lando assobiou, olhou para o teto, acenou com a cabeça. Han percebeu que a dívida era gigantesca, que teria ficado maior depois de terem interrompido o jogo de sabacc. Han encostou-se à parede. Fechou os olhos e pôs-se a pensar. Não demorou mais do que um milissegundo. Ele não ficaria ali à espera dos humores do taanabiano.

- Devemos criar uma diversão...

Desencostou-se da parede que fez um som cavo quando a concavidade recuperou a sua forma lisa. Olhou por cima do ombro, mas descartou a ideia de que a arrecadação seria frágil. Por detrás das placas cinzentas e brilhantes estariam paredes duras. O seu soco apenas entortara a superfície mais maleável do metal.

- Chewie, ataca-o – pediu.

Lando deu um salto para se afastar do wookie.

- O quê? O que estás a dizer, seu maluco?

- Chewie, ataca-o – repetiu Han e dirigiu-se para a porta fechada.

Um rosnado medonho reverberou na arrecadação. Lando deu outro salto, mas não conseguiu escapar-se da manápula de Chewbacca que lhe apanhou um braço, que o puxou. O socorriano deu um berro de horror ao sentir o sacão, Threepio girou sobre si, alarmado. Começou a gaguejar.

- O que se está a passar? General Solo! O Chewbacca está a atacar o general Calrissian!

- Cala-te, lata! Afasta-te da porta...

- Mas eu estava quase a identificar o dialeto que...

Han deu-lhe um empurrão, que escandalizou o androide pois movimentou-se de uma maneira bastante pronunciada, espasmódica, indignada. Recuou com pequenos passos e depois fez outro movimento, para a direita, para poder escapar-se da fúria do wookie zangado que envolvia os seus braços peludos no corpo do socorriano. Lando debatia-se e gritava, pedindo-lhe que parasse, pedindo socorro a Han. O corelliano, por sua vez, colou o ouvido ao painel da porta e ficou a tentar escutar os barulhos do corredor do outro lado, mesmo com toda a berraria que enchia a arrecadação.

- Han! Tira o teu wookie de cima de mim! – pediu Lando desesperado.

- General Solo! O general Calrissian está em apuros! – exclamava Threepio colando-se à parede e apontando nervosamente para o rebuliço.

Chewbacca rosnava cada vez mais alto, Lando esbracejava afogado pela imensa camada de pelos castanhos do wookie, continuava a berrar e a sacudir-se para tentar escapar-se. Han afastou-se da porta, aguardou um momento. A seguir começou a esmurrá-la alarmado. Threepio deu um terceiro salto.

- General Solo, o que...?

- Socorro! Socorro! Tirem-me daqui! – desatou a gritar Han.

O androide não estava a perceber o que se passava. Pela sua avaliação mais lógica, a criatura tinha enlouquecido, atacara um humano e o segundo humano acionara os seus instintos de sobrevivência. Em suma, estava numa pequena sala rodeado da mais pura demência. Tinha de se precaver para não ser atingido.

Han batia na porta, Lando agitava-se, Chewbacca urrava numa sanha assassina.

Threepio lamentou-se:

- Oh, céus! Oh, céus!

Se pudesse fechar os sensores que utilizava para visualizar aquela cena, fazia-o sem hesitar. Mas temia ser atingido e cair desfeito em partes robóticas inúteis se deixasse de ver. Assim, ao menos, com o sentido da visão ativa e no modo de nitidez superior, poderia desviar-se, defender-se, escapar-se. Pensava nas agruras que um pobre androide tinha de sofrer, considerava que era uma existência demasiado atribulada, clamava secretamente pela companhia de Artoo!

Nisto, Han largou a porta.

Os painéis abriam-se. Um dos mercenários do Tomason surgiu irritado, entrando furioso na arrecadação, munido de um bastão elétrico que crepitava na ponta, utilizado para atordoar os prisioneiros mais difíceis nas antigas colónias penais do Império.

Han sorria. O seu plano tinha funcionado!

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now