IX - A armadilha é possível

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Lando perguntou-lhe quando mudaram para a velocidade subluz:

- Como pensas fazer a aproximação a Hkion?

Chewbacca rosnou uma declaração que indicava ser a mesma pergunta formulada com palavras mais rudes, típicas de um wookie. Sentava-se na cadeira de copiloto da Falcon e auxiliava Han nas manobras de voo.

- Não sei. Logo penso em alguma coisa.

- Quer dizer que não tens um plano? – A voz de Lando soou alarmada. Recostou-se na cadeira e passou uma mão pelo rosto. Sentiu os músculos faciais contraídos. Não queria passar a imagem de que não concordava com nada daquilo. Na realidade, ele não concordava, mas estava metido naquele compromisso e não podia simplesmente abandonar o comboio a meio da viagem. A sua situação pioraria, o Yur Tomason iria continuar lá fora, quer ele estivesse naquela empresa ou fora dela. E teria mais hipóteses se enfrentasse o irritado taanabiano acompanhado.

Han Solo espreitou por cima do ombro.

- E desde quando eu faço planos?

Lando suspirou, com um peso descomunal sobre os ombros. Encolheu-se na cadeira e sussurrou:

- Nunca fazes planos...

- Correto. Nunca faço planos – corroborou Han num tom despreocupado.

Na janela da carlinga da Millenium Falcon via-se o globo correspondente ao mundo principal do sistema de Hkion a crescer, no cenário escuro do espaço sideral. Tinha uma coloração acastanhada, com algumas manchas verdes e azuis que seriam as florestas e os oceanos do planeta, mas o aspeto geral revelava um mundo maioritariamente desértico e pobre em recursos. O que correspondia às informações disponíveis, de que a riqueza de Hkion provinha das minas de ouro que eram exploradas nas luas do gigante gasoso que se situava mais afastado da estrela principal do sistema.

A vantagem que eles tinham, cogitou Lando nervoso, era estarem a viajar num cargueiro e muito provavelmente Han usaria essa informação a favor deles. Talvez inventasse que estariam a transportar mantimentos para a capital planetária, que estes não conseguissem produzir. Depois afastou essa hipótese com um esgar que lhe aumentou o nervosismo. Isso implicaria um conhecimento específico... e um plano, duas coisas que Han não teria à mão, naquele momento. Ou seja, a única vantagem era apenas o cargueiro.

Cruzou os braços e aguardou. Essa impotência e dependência irritavam-no, mas estava armado e sabia que era uma questão de tempo até entrar em ação. Não conseguia conceber que os deixassem entrar em Hkion e que depois seriam escoltados educadamente até ao prisioneiro. Depois de saber da história toda e que estavam ali para libertar Luke Skywalker, que por ser um cavaleiro Jedi seria um prisioneiro especial, não tinha quaisquer ilusões de que não haveria facilidades envolvidas. E o primeiro obstáculo era a entrada em Hkion.

Um regougo de Chewie recuperou a sua atenção para o que se passava ao seu redor. Han disse ao copiloto que seguisse as instruções e que continuasse a voar casualmente, para não levantar suspeitas. Tinham utilizado os códigos certos e o corelliano vangloriava-se disso. Lando inclinou-se para a frente e perguntou o que se estava a passar. Quando lhe contaram, bufou incrédulo.

- Isso é impossível! O centro de controlo não pode ter acreditado em ti.

- Pois acreditou – disse Han ofendido. – Vão deixar-nos entrar na atmosfera do planeta e aterrar no espaçoporto principal. Trazemos presentes de... tens a certeza que foi tão óbvio, Chewie? – O wookie rugiu. – Isso, trazemos presentes de Chandrila. Uma excelente ideia, Chewie!

- Chandrila?

- O Senado reside na cidade de Hanna, atualmente. Devem pensar que fui enviado pela Chanceler Mon Mothma ou algo parecido. Mais uma demonstração de boa vontade da Nova República que está a querer lidar com o governo de Hkion numa base diplomática, assim fiquei a saber. – Agitou as mãos por cima do painel. – Aliás, toda esta embrulhada tem dedo da Chanceler, uma missão secreta, logo te conto...

- Seria conveniente saber o que se passa antes de morrer.

- Nós não vamos morrer, Lando! – exclamou Han a revirar os olhos de impaciência.

- Este cargueiro é demasiado velho para trazer... presentes do Senado. Estamos a arriscar o pescoço. Podemos ser despachados com um míssil de protões certeiro.

- Eles acreditaram!

- Vão deixar-te passar pelo escudo protetor do planeta com base nessa invenção descabida? Ou eles são estúpidos ou são gananciosos.

- Serão as duas coisas, que me importa. Só quero chegar à capital e saber onde está o Luke. E não existem escudos protetores. Este lugar é demasiado primitivo para usar tecnologia que foi difundida pelo Império.

- Oh, isso será uma garantia?

- Não te dou garantias de nada, Lando.

- Estou contigo por causa do Tomason, apenas isso. Não te esqueças!

- Ei, pensava que gostavas do Luke...

Lando suspirou. Aquela discussão era completamente inútil.

- Ele é um cavaleiro Jedi. Nunca pensei que um Jedi precisasse de ajuda de dois canalhas que traficavam mercadorias e armas na Orla Exterior.

- O Luke safa-se bem – concordou Han num tom ligeiro. – Mas nesta ocasião... safou-se menos bem.

- E tu estavas de prevenção.

- Sempre tive um péssimo pressentimento em relação a Hkion.

- Podes contar-me alguma coisa para começar? Até chegarmos ao espaçoporto? A viagem vai demorar alguns minutos. Apenas um resumo rápido...

- Não.

- Ótimo!

Não quis insistir. Considerava que não estava com disposição para saber mais do que o pouco que já sabia – estava tramado, de qualquer das formas. Sempre funcionara com informação escassa e parcial e não ficara melindrado por isso. Até preferia saber de menos. Em caso de captura podia negar tudo e mais alguma coisa sem sentir a consciência pesada ou denunciar, através de um trejeito desleixado, de que estava a esconder um segredo ou a proteger alguém. Nunca conhecera lealdades nos seus tempos de contrabandista e sabia muito bem que Han se regera pelo mesmo código. Até, claro está, terem tropeçado na Rebelião. Os dois foram mudados pela guerra civil. O companheiro mais do que ele, Lando adiantava de si para si, para não se sentir tão traidor dos princípios que o transformaram num sobrevivente. Ele lutara na batalha de Endor, mas Han apaixonara-se. Logo aí havia uma diferença muito significativa de atitude e postura. Os compromissos eram bem maiores no segundo caso do que no primeiro.

A Millenium Falcon cruzou a atmosfera de Hkion de uma forma elegante e dirigiu-se, conforme os vetores fornecidos, para o dito espaçoporto da capital. Era um planeta feio e monótono, observou Lando sem curiosidade aparente, através do vidro da carlinga. Concentrou-se e procurou ficar atento a todos os pormenores, mas a travessia a baixa altitude não mostrou nada de extraordinário na paisagem despojada que percorriam.

A capital foi outra desilusão, porque não se tratava de uma metrópole pujante e moderna. No horizonte recortava-se um edifício soberbo que seria usado pela elite local e pelos governantes, rodeado de jardins e de muros altos que refulgiam quando o sol batia nos enfeites dourados, mas as restantes construções eram envelhecidas e feias. Os bairros amontoavam-se de forma caótica e as ruas, apinhadas de gente e de veículos, eram meros caminhos rasgados entre as casas.

A nave pousou na pista designada do espaçoporto que, como tudo o resto, tinha sinais de desleixo. Havia muito movimento, mas parecia tudo ao acaso, sem eficiência ou algum tipo de liderança que orientasse o que havia para fazer. Acudia-se ao que chegava sem critério ou prioridade. Lando gostava menos daquilo agora que tinham chegado. Han, como sempre, esbanjava confiança. Chewbacca mantinha-se vigilante enquanto seguia os passos do amigo corelliano, sem tecer qualquer comentário.

Lando desceu pela rampa da nave atrás de Han e de Chewbacca. Tinham uma pequena comitiva à espera deles. Um humanoide com a pele azul-escura postava-se diante de um grupo de seis guardas armados. Esticou o queixo e anunciou:

- Em nome do soberano de Hkion, estão presos!

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now