XLII - Identidades escondidas

39 9 16
                                    


- Leia!

Luke ajoelhou-se junto da irmã, amparou-lhe a cabeça. Viu a cor a regressar-lhe às faces e sentiu-se mais aliviado. Soprou o ar pela boca, permitiu-se acalmar. A irmã já não estava tomada pela contaminação artificial do lado negro da Força. E fora ele que a curara ao conter e derrotar Bekbaal.

O velho tinha mirrado e emagrecido, tornando-se numa garatuja de criatura à qual fora arrancada consistência, volume, integridade e propósito. Era uma sombra, uma ideia, algo diferente que vogava entre a vida e a não-vida, despojado do seu poder e da sua força. Gemia involuntariamente, em ruídos incoerentes que dir-se-iam se escapavam para a atmosfera como últimos fragmentos da memória do que tinha antes sido. Estava a desfazer-se, a remeter-se a um anonimato que o sepultaria nas dobras invisíveis da galáxia. Depois, não seria mais nada.

As pestanas da princesa tremeram e as suas pálpebras contraíram-se.

- Leia – voltou a chamar Luke. – Como te encontras? Tens alguma dor?

Ainda de olhos fechados, ela respondeu, a voz enrouquecida:

- Tive um pesadelo terrível.

- Conta-me.

O corpo dela relaxou quando ela fez uma respiração funda e libertou todo o alento dos pulmões. As suas mãos, antes fechadas em dois punhos crispados, abriram-se e os dedos enrolaram-se, moles. Continuava de olhos cerrados e tentava situar-se, nesse mundo entre a realidade e o sonho.

- Estava num deserto gelado. Havia alguém que queria... o meu filho. Cobiçava-o, no meu ventre, porque a Força nele é... enorme e preciosa. Depois eu aceitei entregar-lhe a criança e deixei de sentir. Estava tudo escuro.

- Estiveste por momentos no lado negro, minha irmã. Agora, recuperaste.

- Fui envenenada? – E então abriu os olhos e fixou as suas íris castanhas e doces no irmão. – Como tu foste envenenado?

Luke respondeu-lhe com um sim mudo, acenando a cabeça.

- Por quem? Havia Ysalamiri por todo o lado, como pôde a Força ter penetrado no palácio, nesta sala e se ter deixado inquinar com esses miasmas que me atingiram?

- Bekbaal. Mas eu derrotei-o.

Ela percebeu o anel no dedo do irmão e sentou-se bruscamente. Luke assustou-se, julgando-a frágil, mas a determinação na sua postura demoveu-o de tentar um conselho para que se imobilizasse ou não fizesse esforços desnecessários.

Olharam os dois ao mesmo tempo para a coisa que se retorcia no centro da sala e que antes tinha sido o velho arrogante que afirmava comandar uma legião de espíritos da Força. Ergueu o que restava dos seus braços e pediu clemência num silvo.

Luke foi até ele. Postou-se diante do corpo esmagado e amarrotado do antigo mestre Jedi e disse, cheio de misericórdia:

- Diz-me, Bekbaal. Como te posso ajudar?

- Nada me pode ajudar – crocitou Bekbaal, mas não havia rancor ou pena na sua voz esmaecida. Apenas uma leve vergonha e uma resignação fatigada. – Estou acabado e entrego-me ao esquecimento sem qualquer vontade de contrariar o meu destino. Os meus pecados são grandes e persisti por caminhos ínvios, mesmo com todos os avisos dos meus amigos. Sim, há amigos meus assassinados entre os fantasmas que eu voltei a quebrar e a confundir. Pobres almas! Se fui um Sith, como Vader? Talvez tenha sido... nunca me vi completamente no lado sombrio. Nem no lado da luz. Serei um Jedi cinzento? Sê-lo-ei... neste momento, não sei quem sou, nem quem fui. Sei apenas o que serei. Átomos dispersos que serão reciclados em algo mais benéfico. Espero paz.

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now