XXXIV - Segunda entrevista

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O príncipe Gil'kion apareceu na sala exatos vinte minutos-padrão depois da saída do príncipe Kar'kion. Fez uma entrada idêntica e na antecâmara, nas suas costas, ficou um séquito muito parecido àquele trazido pelo seu primo. Uma multidão inquieta de burocratas, cortesãos, soldados, criaturas raras, mulheres belas, roupagens ricas e vistosas. Por um breve pestanejar dir-se-ia o mesmo grupo de acompanhantes... Mas se os dois primos eram adversários, disputavam acirradamente o trono, preparavam uma guerra, angariavam partidários em campos opostos, era impossível que partilhassem os seguidores.

Leia olhou para o príncipe e sentiu um calafrio. Girou o pescoço e Luke encarava-a com o mesmo assombro, a mesma suspeita. As impressões do Jedi formulavam-se como adequadas face a todas as estranhezas encontradas em Hkion. Havia um permanente jogo de luzes e de sombras, um esquema estranho delineado pela Força.

O príncipe Gil'kion sentou-se no cadeirão e aguardou que lhe fizessem a primeira pergunta. Sobranceiro, pedante, régio, numa pose tanto execrável como admirável, apático e superior.

Eram idênticos! Como gémeos! Kar'kion e Gil'kion eram iguais, a cópia perfeita um do outro...

O tempo tinha passado, vinte minutos-padrão. Tinham estado sozinhos, ela e Luke, em silêncio, sem trocarem palavra a pensar, cada uma para seu lado, no que tinha sido proferido durante a primeira entrevista com o primeiro príncipe. Não havia dúvida que existira um vazio entre as duas entrevistas, um espaço que fora preenchido com tempo. As portas tornaram a abrir-se e entrara, logicamente, o segundo príncipe que se apresentara com as seguintes palavras:

- Príncipe Gil'kion... Ao vosso dispor.

O homem não iria usar um nome falso, nem fazer-se passar por quem não seria para brincar com a senadora e com o Jedi. Já tinha preocupações suficientes, já tinha problemas suficientes. Um trono para conquistar, um sistema para dominar, clones e fantasmas, desafios imponentes à altura da sua imponência.

Leia respirou fundo e sentou-se rapidamente no sofá, de frente para o cadeirão. Focou os sentidos, muniu-se do seu autocontrolo, de todas as suas armas psicológicas e práticas que adquirira enquanto política, enquanto rebelde, em suma enquanto lutadora. Luke sentou-se no mesmo sofá, junto da irmã, devagar, a tentar compreender o que estava a acontecer. A imagem devolvida era igual à do primeiro príncipe, as sensações colhidas com o auxílio da Força... eram também iguais. Duas entidades replicadas. Existia uma subtil diferença, contudo, que ele não conseguia alcançar totalmente. Não estava na fisionomia, não estava no espírito, estava algures numa fronteira indistinta que ele não era capaz de alcançar. A frustração estava a irritá-lo e ele procurou serenar-se.

Colocando a mão fechada diante dos lábios, Leia pigarreou para desimpedir a garganta. Hesitou por momentos. Depois disse, impondo segurança às suas palavras:

- É nosso profundo desejo que esta conversa se desenrole de forma séria, justa, esclarecedora e amigável, príncipe Gil'kion. Solicitámos a vossa digna presença para que possamos, por fim, ver esclarecidas algumas das questões iniciais que trouxeram a Nova República a Hkion. O cavaleiro Jedi Luke Skywalker foi mal recebido e eu tive de intervir, na minha qualidade de senadora. No entanto, pretendemos que tudo o que aconteceu seja esquecido em prol de um entendimento profundo e completo entre as diversas partes deste encontro.

O príncipe afirmou, átono:

- Nunca requisitámos a intervenção do Senado Galáctico nos nossos assuntos internos.

Foi a mesma réplica utilizada por Kar'kion. Luke apertou os lábios. Leia percebeu a similaridade e prosseguiu, utilizando a mesma linha de raciocínio. Esperava conseguir apanhar uma ponta diferente e puxar um novo fio que levasse a conclusões distintas, ou comprovar que haveria um qualquer ensaio prévio, uma sabotagem inteligente disfarçada na boa-vontade mostrada perante as suas exigências, a concessão representada por aquelas entrevistas. E quem manobraria a ação na sua magna amplitude? Os dois príncipes ou o mordomo real?

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now