XXIV - Entre as últimas luzes agradáveis

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- Ei, cuidado com essas pernas!

A advertência despertou-o e Han Solo irritou-se. Estava a ter um sonho bom, com uma mulher. Tudo apontava para que fosse Leia, mas por mais que ele tentasse não lhe conseguia ver o rosto, apenas o toucado complicado de tranças que lhe enfeitava a fronte e por causa disso convenceu-se de que seria a princesa por quem estava apaixonado.

Uma paixão que lhe dava mais dissabores do que alegrias. Deixara Chandrila sem se despedir, mas não se tinha apercebido que a tinha deixado melindrada com alguma coisa ao ponto de ela evitar o contacto visual e de não falar com ele. Tinha havido uma discussão sobre trabalho, tempos livres, obrigações e faltas mútuas, mas todos os dias havia sempre qualquer coisa para discutirem. Se não era a comida era o clima, o aborrecimento, a falta de álcool na vida dele, a ausência de emoção na vida dela.

Han resmungou, puxando o cobertor curto:

- Tu é que vieste para o meu lugar.

Lando remexeu-se.

- Estou entalado contra a parede. Não adormeci aqui, foste-me empurrando com essas pernas enormes.

- Costumo dormir sozinho.

- Pensava que o wookie te fazia companhia...

- É um excelente travesseiro, admito – anuiu Han fazendo uma carícia na barriga peluda do seu copiloto que o amparava. Chewbacca rosnou ainda envolvido no sono.

- E a princesa.

- Cala-te, Calrissian, se não queres levar outro pontapé.

Deu um puxão violento ao cobertor que lhe subiu até ao pescoço, destapando-lhe os pés gelados. O astromec piou suavemente. Estivera ligado durante a curta noite e observava as interações humanas com certa cautela, preparado para alertar Threepio para mediar um eventual conflito.

- Agora perdi o sono! – exclamou o corelliano mais irritado do que nunca. Sentou-se e descartou o cobertor atirando-o para o lado, amarrotado. Apertou a cana do nariz, respirando depressa.

Lando levou os braços atrás, espreguiçou-se.

- Costumas acordar assim maldisposto? Peço-te ao Chewie para te fazer uma porção de caf bem forte para te acalmar os nervos. Nesta espelunca haverá caf? A avaliar pelas rações miseráveis que comemos ontem, provavelmente não. Não nos abastecemos de caf naquele espaçoporto, isso lembro-me...

- Eu? Maldisposto? – Han apontou um dedo a si próprio. – Tu é que largaste um berro a dizer-me para ter cuidado com as pernas.

- Dormi mal, está bem? Dormi com as tuas patadas!

- Pois, eu é que sou o maldisposto...

- Queres discutir comigo também?

- Com quem discuti antes de querer discutir contigo?

- Poupa-me, Solo!

Uma rosnadela do wookie mostrou que estavam a fazer demasiado barulho. Han deu-lhe umas palmadinhas para acalmá-lo, disse-lhe que estava tudo bem, mas a grande criatura peluda teve o sono interrompido e remexeu-se inquieto, esperneando, rosnando mais alto.

- Agora, o Chewie também acordou maldisposto...

- E a culpa será minha – remoeu Lando.

- E de quem será?

- Vais atiçá-lo contra mim?

- Não seria a primeira vez...

A voz jovial e imprudente de Threepio soou:

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now