XXIX - Obscurecido

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Han Solo torceu a boca. Threepio dizia-lhe que recebera um pequeno sinal de Hkion. A princesa Leia e o menino Luke estavam no palácio, mas não adiantaram mais pelo que seria plausível julgar que as suas condições seriam precárias. Han soube imediatamente que eram prisioneiros e que Artoo não estaria com eles ou o sinal seria uma mensagem cifrada mais substancial. Por isso teriam de se apressar em Apon One.

A Millenium Falcon estava pousada num planalto rochoso, uma plataforma tão lisa que parecia que o topo daquela montanha tinha sido cortado num único golpe. Os declives estendiam-se até a um fundo pedregoso que não era muito alto, a altura de Chewbacca, e havia um caminho menos inclinado que serpenteava até à planície. Estava de noite pois encontravam-se no lado obscuro da lua e o silêncio era absoluto. Não havia qualquer som, nem sequer do vento a soprar ou o rastejar de algum animal indígena. Era um mundo estéril, abandonado, vazio. E por isso era assustador.

Lando seguia atrás de Han, com a mão pousada na pistola, pronto a sacá-la do coldre. Depois vinha o inquieto Threepio que verificava com frequência o ambiente girando para todos os lados como um catavento debaixo de uma tempestade de areia em Tatooine. O cortejo era fechado pelo wookie que segurava a sua besta laser artesanal numa mão, na outra alumiava o caminho de todos com um potente foco luminoso que apontava para o chão pedregoso. Os rangidos das juntas do androide escutavam-se claramente naquela calmaria opaca.

- Queres parar com isso? – pediu Han irritado.

- Peço desculpa, general Solo... Mas este sítio é muito estranho.

No horizonte estrelado recortava-se parte do gigante gasoso à volta do qual aquela lua orbitava. Era um espetáculo bonito pois o planeta tinha tons alaranjados e terrosos, fazendo lembrar Bespin. O socorriano suspirou com a falta da sua casa, da sua rotina enquanto administrador das minas da Cidade das Nuvens. Desde que Yur Tomason regressara à sua vida, vindo de um passado esquecível, que a sua vida tinha sofrido uma reviravolta que o levara àquele mundo desolado. Suspirou, cerrou os dentes, os dedos apertaram a coronha da sua arma. Estava a começar a destilar uma certa dose inofensiva de ódio contra a sua má sorte, quando Han levantou um braço e fechou a mão num punho. Tinha parado e fazia sinal para que os outros parassem também.

Lando postou-se ao lado do corelliano. O terreno descia suavemente até uma planície que se estendia até à linha do horizonte. O solo estava perfurado em vários lugares, os buracos formavam uma tapeçaria de enormes círculos tão negros quanto o céu, escavados para aceder ao filão aurífero que em tempos existiu nas profundezas e que se esgotara. A mina abandonada ou uma parte desta, o que fazia adivinhar que a lua estaria toda esburacada. O gigante gasoso não se via na sua plenitude pois a tapar a sua silhueta estava uma construção baixa. Tinha pequenas escotilhas redondas a toda à volta e o brilho recortava-se nessas janelas, numa cintura de luzes fracas que não chegavam a projetar-se para a paisagem sombria.

- Encontrámos a fábrica?

- Não parecem instalações muito sofisticadas... – analisou Han, cético, respondendo à pergunta de Lando.

- Oh... Está ali alguma coisa! – disse Threepio com um tremor na voz sintética. – Será prudente que nos aproximemos?

Um rugido de Chewie sobressaltou o androide.

- Para fazeres o teu precioso relatório precisamos de ir até lá – disse Han. – Não podes simplesmente dizer à senadora que encontraste um edifício na lua. Pode nem ser a fábrica, pode apenas ser um complexo da mina que trata de assuntos burocráticos antigos, um covil de contrabandistas que exploram algum tráfico de ouro desviado e que estão a roubar Hkion, sabemos lá... Não são amigos, de certeza. Por isso, temos mesmo de incluir a exploração daquilo na tua próxima comunicação, lata.

- Oh... – gemeu Threepio.

- Não me parece que exista algum tipo de sentinela de guarda ao edifício – observou Lando, cauteloso.

- De qualquer modo, vamos com cuidado.

- Sigo a tua liderança.

- Ei, tu também és um general da Aliança! – ironizou Han, as sobrancelhas arqueadas. Mostrava-se quase divertido, não fosse a apreensão disfarçada na voz.

- A ideia é tua, tu és o líder.

- Certo... Não adianta pormo-nos com votações para decidir isso neste momento quem será o chefe da expedição, tão em cima do acontecimento... Chewie, vem comigo à frente! – O wookie protestou. – Não quero saber que estejas com medo. Ao mais mínimo movimento, carrega no gatilho e fica tudo resolvido. Sim, é fácil... E tu tens pontaria.

Foram agachados, com Han a guiar o pequeno grupo. Os passos de Threepio rangiam e ele esforçava-se por andar depressa para não ficar demasiado para trás. Os seus circuitos internos estavam em modo de alarme e a sua cabeça girava de um lado para o outro, olhando a paisagem que segundo os seus medos cravava-se de suspeições. Ao contrário dos humanos e do gigante peludo, ele era incapaz de se dobrar e sentia-se exposto e vulnerável, a arrastar as pernas e a levantar a poeira pesada da lua com os pés.

Chegaram-se a um murete que rodeava o edifício e observaram melhor para definir para onde deveriam seguir. Han descobriu uma janela larga, obscurecida, mas que parecia ocupada por algum tipo de laboratório onde só estariam máquinas ou androides, sem presença de humanoides ou outras criaturas, um lugar sensível para o funcionamento do que quer que existisse ali dentro. Lando perguntou-lhe como conseguira deduzir tudo aquilo e o corelliano apenas lhe pedira que continuasse a segui-lo, pulando por cima do murete. Lando revirou os olhos e resolveu não fazer mais perguntas, pois percebeu que era tudo feito com base no instinto e que era um apontador tão bom como qualquer outro. Se fosse ele a liderar o grupo não faria melhor e, sobretudo, não faria diferente. Também seguiria impressões, também faria escolhas baseadas em pressupostos inventados no momento...

Não era um laboratório, mas uma sala comprida com paredes forradas de bastidores e com pouca segurança, pois a vidraça basculante estava destrancada. Foi Chewbacca quem fez a descoberta. Abriu uma nesga, Han e Lando esgueiraram-se para o interior e prosseguiram até à porta que estava escancarada e que conduzia a um corredor. Threepio protestou com o wookie dizendo-lhe que não conseguiria fazer o mesmo ato de contorcionismo dos dois homens, era feito de metal duro e pouco maleável e Chewie deixou-o para trás, com a indicação de que vigiasse a janela. O androide empertigou-se, mas os seus protestos de nada serviram. Chewie seguiu na peugada de Han e de Lando.

No corredor foram discretos, armas já empunhadas, a besta laser artesanal de Chewie apontada ao vazio mais adiante a cobrir ou a tentar cobrir todos os ângulos. Havia zonas mais iluminadas, evitaram-nas por não conseguirem encontrar locais em que pudessem esconder-se e vigiar, em simultâneo.

Subiram por uma ponte que corria ao longo do sistema de exaustão, grossos tubos metálicos enegrecidos que se situariam, pelos cálculos feitos por Han, mais ou menos no centro do edifício – o que significava que eles se estavam a embrenhar demasiado no complexo e que podiam estar a cortar a sua via de fuga. Uma luz forte atraiu o corelliano que chamou os companheiros com um aceno.

Postaram-se num varandim a olhar para um imenso armazém onde estava uma linha de montagem a operar em contínuo. A surpresa foi tão grande que não cogitaram esconder-se e ficaram a olhar para baixo, para aquela descoberta, para o que acontecia no armazém. Maquinaria diversa, peças numa passadeira rolante, humanos e androides a partilhar a azáfama da construção, da tarefa que era supervisionada ao mais ínfimo detalhe porque não podiam existir erros. Luzes a piscar e sons irritantes que demarcavam as várias etapas.

O produto final guardava-se em cápsulas ovais que se alinhavam debaixo de holofotes azuis, brilho escuro e propositadamente diminuído, numa área restrita por barreiras de aço. As coisas que ali eram cultivadas, nutridas, que cresciam até à maturidade ideal. Que eram ali fabricadas a partir de um processo secreto que usava a mais fina tecnologia genética kaminoana.

Han apercebeu-se da vulnerabilidade do grupo ao estarem especados no varandim. Puxou Lando para as sombras, Chewie espalmou-se contra a parede. Espreitou para o armazém que laborava incessante, sem se aperceber dos espiões.

- Acho que encontrámos a célebre fábrica dos clones – anunciou. Os seus dentes rangeram e ele não soube dizer se foi por medo ou por raiva.

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now