XL - Contra os espectros

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O cristal kyber tinha perdido o seu potencial quando a ligação vital se esvaíra com a morte do seu portador. Era agora uma pedra morta e fria, branca como uma lua estéril, assim como a criatura que ainda insistia em conservá-lo era desprovida de vida pulsante, mas a lâmina do sabre de luz que alimentava, num eco de coisa perdida há eras inomináveis, permanecia tão mortífera como quando aquele cavaleiro Jedi vivia.

Luke Skywalker não tinha quaisquer dúvidas de que o mais mínimo erro seria fatal e, portanto, observava o fantasma com minúcia e paciência, a aguardar as respostas da Força. Os lagartos Ysalamiri continuavam no exterior a controlar a energia cósmica, a absorvê-la e a neutralizá-la, mas havia outro poder que se estendia avassalador e lúgubre, contrariando os animais. Ou estaria a afastá-los, retirando-os dos galhos das árvores Olbio, ou estaria a dizimá-los, matando-os um por um sem qualquer contemplação. Luke sabia quem era – Bekbaal. O velho mestre vinha por ele.

Tinha montado o cenário perfeito para eliminá-lo do seu caminho. Enviara um fantasma da névoa e corrompera a alma de Leia com o lado negro. Luke pediu à irmã, mesmo sabendo que ela não lhe iria obedecer:

- Leia, regressa ao quarto. Por favor!

Não escutou qualquer som vindo dela, nem sequer sentiu uma vibração da alma dela. Ele sabia que ela estava ali, nas suas costas, parada na moldura da porta aberta, tão quieta como um androide desativado, e todo esse silêncio doeu-lhe mais do que se ela lhe tivesse falado com ódio ou desprezo.

Ajeitou o punho do sabre entre as mãos, afastou mais as pernas e preparou-se para a luta.

- Não quero combater contigo. Foste um Jedi, tal como eu sou agora um Jedi. Não temos qualquer disputa. A Força une, não separa.

O fantasma movimentou a cabeça ligeiramente, baixando o queixo e Luke achou que conseguiu entrever, no fundo daquele poço negro que o manto cobria, uns olhos vazios e inexpressivos, dois buracos transparentes. E de seguida, para marcar a sua posição de adversário, ainda que a Força teoricamente os unisse, o fantasma brandiu o seu sabre a as duas lâminas encontraram-se.

Luke defendeu os quatro primeiros golpes, numa sucessão rápida e fácil. Era tudo uma farsa, um logro, uma ilusão para que ele confiasse e perdesse. Ele conseguia perceber o quão poderoso era aquele defunto mestre Jedi. Nele havia Força em bruto, apenas energia – limpa de qualquer peso corpóreo, de qualquer volume e impureza. Não era negrume, nem a mancha habitual derivada das trevas – era algo mais translúcido, inefável, completo.

Por isso, resolveu que não podia deixar o fantasma tomar a iniciativa. Por cada vez que fizesse uma concessão, sempre que desistisse de uma qualquer opção que seria dele, estaria a revelar o segredo para a sua queda. Então, atacou no movimento seguinte. Golpes altos, secos e incisivos. O fantasma também se defendeu facilmente.

Ao voltar um pouco a cabeça para a esquerda, Luke notou que Leia se tinha movimentado. Avançara dois passos e estava fora da moldura da porta. Tentou convencê-la outra vez:

- Leia! Afasta-te. Isto vai ficar perigoso para ti.

Ela soltou uma gargalhada medonha. Luke arrepiou-se.

O fantasma atacou com mais pujança e Luke sentiu os punhos estalarem com a força do impacto da lâmina contrária na sua. Escutou os apitos aflitos de Artoo na saleta das comunicações, duas pancadas fortes, um estrondo. Berros e tumulto. Uma explosão longínqua e o calor do fogo que começava algures, longe dali. As sensações acumularam-se e ele distraiu-se momentaneamente. Tropeçou no sofá e caiu de costas. Espetou o sabre para a frente e o fantasma deteve a investida. Arrastou-se pelo chão, recuando.

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now