XVIII - O objetivo fundamental

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- Conheci-o – contou Han.

Estavam todos dentro do abrigo, sentados nos bancos compridos, enrolados nas mantas pois o frio tinha recrudescido com o início da noite. Chewbacca arrumara a plataforma no exterior e trouxera ainda as caixas dos mantimentos que dispusera no balcão. Os androides postavam-se junto ao painel computorizado. Artoo estava ligado a este e tentava descobrir forma de climatizar a sala para aumentar a temperatura. As criaturas, num total de cerca de cinquenta ao se juntarem os dois grupos, escolheram ficar no exterior. O clima extremo não as afetava.

- Conheci esse... Bekbaal – explicou o corelliano. – É um velho que usa a Força. Fez-me coisas à cabeça. Mostrou-me onde vocês estavam, disse que viria ter aqui. Depois do combate. – Olhou para os dois irmãos que se sentavam juntos. – Quem andou a lutar?

- Eu lutei com a Leia – esclareceu Luke naturalmente, sem mágoa, tristeza ou censura. – O soro que me envenenou na prisão levou-me para o lado negro. Os meus sentidos foram afetados e não consegui resistir... A Leia usa a Força e vi nela um adversário que tinha de derrotar. Tudo correu bem, felizmente.

Han dobrou-se para perceber que cara fazia a princesa à menção daquele assunto, mas esta continuava a evitá-lo. Pelos vistos, a sua presença não era do agrado dela. Ele não se incomodava. Sabia que Leia nunca iria aprovar o alerta enviado por Threepio, previamente combinado entre eles às escondidas, precisamente porque a senadora haveria de querer resolver tudo sozinha. E ele tinha experiência suficiente para saber que isso era uma péssima opção. Estava preparado para a indiferença, estava mais do que acostumado à independência dela.

Lando escutava tudo, calado.

- Bekbaal vai aparecer... – referiu Luke e não quis que tivesse a entoação de uma pergunta.

Han assentiu, estreitando a manta em redor dos ombros.

- O que sabe ele sobre o conflito em Hkion?

- Parece-me que sabe tudo. Sabe mais do que simplesmente a velha história que os príncipes andam à cabeçada um com o outro por causa das minas de ouro – respondeu o corelliano de forma prática.

- Poderá ele ajudar o Senado? – perguntou Leia, engolindo o seu orgulho e concedendo em intervir. – Estamos aqui em representação do Senado Galáctico, não se esqueçam. Esta é uma missão oficial, com a assinatura da Chanceler, mesmo que seja secreta. E só devemos sair daqui quando obtivermos as respostas que viemos procurar em Hkion, quando identificarmos as eventuais relações de traição do sistema, quando o problema de os escravos ficar resolvido.

- Ei, ei! – cortou Han admirado com a veemência da senadora. – Com mais calma! Se o sistema for abertamente hostil à Nova República, nós não iremos conseguir mudar ou evitar nada. Somos poucos para lutar contra um planeta inteiro, minha querida.

Leia respirou fundo, o seu olhar incendiou-se.

- Meu querido general Solo, acontece que nós não estamos aqui de férias e tropeçámos numa suspeita por acaso. Não foi isso que aconteceu. Nós estamos aqui com um objetivo bem definido, que implica diretamente com a implantação da democracia na galáxia, com ecos do jugo imperial e com a possibilidade de uma eventual sedição armada, apoiada por oficiais descontentes. É um assunto demasiado sério para que o ignoremos... quando já estamos no terreno.

- Nem sequer respeitaram um cavaleiro Jedi! – expôs Han, usando de alguma autoridade. – Não temeram os seus poderes na Força e até ousaram drogá-lo, com algum sucesso, pelo que me parece.

- Volto a repetir a minha pergunta: poderá o misterioso Bekbaal ajudar-nos?

- Julgo que sim – interveio Lando para acalmar a discussão que se desenvolvia entre a princesa e o corelliano. – Pareceu-me alguém que está por dentro de toda esta confusão de Hkion e será um nosso aliado. Se estamos aqui para perceber com o que estamos a lidar, em nome da Nova República, precisamos de confiar em alguém e talvez esse Bekbaal seja a pessoa certa.

- Lando tem razão, Leia – anuiu Luke, agarrando na mão da irmã, para assim lhe transmitir tranquilidade e confiança. – Ter um aliado neste sistema que não nos quer a investigar o que se passa é uma vantagem a não menosprezar.

- Claro que sim, Luke – concordou Leia, aceitando o gesto do irmão. – Por isso perguntei se Bekbaal nos poderá ajudar. Não nos devemos distrair e perder mais tempo.

- Acho que estamos em cima do acontecimento – disse Han com algum sarcasmo. – O Luke foi capturado e viemos ajudá-lo. O próximo passo será saber o que o Bekbaal nos tem a oferecer, para além de obviamente nos ter ajudado com o Luke, e perceber se ele sabe o que se está a passar para ter existido um ataque a um cavaleiro Jedi que veio até ao planeta em nome da Nova República.

- Poderá ajudar-nos – concluiu Leia.

- Se tudo isto não fosse secreto – acrescentou Han esticando um dedo para o alto num movimento circular, como que a inscrever tudo, desde aquele lugar aos acontecimentos, naquele círculo imaginário –, o ataque ao Luke seria considerado uma ofensa muito grave que poderia significar uma intervenção mais enérgica do Senado Galáctico.

- Queres dizer... guerra? – E Lando arqueou as sobrancelhas.

- Sim, claro que sim... Uma intervenção militar, uma demonstração de força.

- O Senado Galáctico não irá intervir nesses moldes, Han, nem nos casos mais sérios – corrigiu Leia. – A guerra civil terminou há pouco tempo, o tratado de paz foi estabelecido com a Concordância Galáctica, os senadores recentemente empossados irão fazer de tudo para evitar a resolução de conflitos pelas armas. Para mais, não se estão a fazer investimentos nas forças armadas, nem na recuperação das frotas estelares que pertenceram ao Império.

- A Nova República está a desarmar-se?

- Precisamente. A nova política é utilizar a diplomacia, a via do diálogo, até esgotar todas as possibilidades e, ainda assim, insistir numa solução pacífica, com cedências mútuas. A galáxia está cansada de tanta guerra, da ditadura, das desigualdades. Se a Nova República se quiser impor, terá de fazer as coisas de forma diferente do Império. Têm que existir ganhos para ambas as partes.

- Foi isso que vieram apresentar a Hkion?

- Correto – anuiu Luke. – Nunca teria aceite esta missão se não fosse para negociar um acordo que fosse benéfico para ambas as partes e que não implicasse uma agressão.

- Os príncipes estão num estado de pré-guerra.

- Exatamente – tornou a anuir Luke. – Um dos propósitos da minha missão era resolver essa disputa. Sou um Jedi, Han. Os Jedi, nos tempos da Antiga República, mediavam conflitos, não os fomentavam. Essa foi a minha postura nesta matéria, será a minha postura noutras matérias similares, mais ou menos perigosas, mais ou menos difíceis.

- Mas o que aconteceu...

- Foi um revés. Apenas um revés – explicou Luke compassivo. – Algumas dificuldades estavam previstas e também foi antecipado que as negociações poderiam correr mal, tal como aconteceu. – Sorriu. – O plano de contingência foi, digamos, acionado. A Leia veio em meu socorro, tu vieste em socorro de nós os dois. Certo?

- Certo, certo – admitiu Han respondendo com outro sorriso.

Chewbacca regougou, assinalando que ele também estava ali, com Lando Calrissian, para dar o seu apoio no que fosse necessário. Luke acenou-lhe com a cabeça recebendo a oferta inestimável daquele gigante peludo.

Um zumbido invadiu o abrigo e algumas portinholas abriram-se no teto, lançando jatos de ar quente. Threepio elevou os braços e anunciou eufórico:

- O Artoo conseguiu descobrir o sistema de aquecimento e ligou-o. Ótimo! Já não morreremos de frio esta noite.

Leia agradeceu aos androides, perguntando-se mentalmente se a probabilidade de arrefecer demasiado, ao ponto de colocar em perigo funções vitais de seres biológicos, seria um problema para eles. Concluiu brevemente que sim, ou o autómato dourado não se mostraria tão feliz com a mudança de temperatura no interior do compartimento.

Luke levantou-se, retirou a manta dos ombros que foi cair, amarrotada, sobre o banco metálico. Fechou os olhos brevemente. A Força ondulava em pequenas e impercetíveis vagas.

- Ele chegou.

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now