XXXII - Primeira entrevista

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O príncipe Kar'kion acomodou-se num cadeirão. A sua postura impecável era de certo modo intimidante, mas Leia estava habituada a encontros com altos dignitários de diversos sistemas, com representantes de alto nível, governantes, reis e imperadores, e não se deixou impressionar. Apertou a mão de Luke para lhe dar confiança, ele achou o gesto curioso. Como cavaleiro Jedi munia-se da Força e sabia ultrapassar a simples aparência, penetrar no âmago de qualquer criatura e desfazer os artifícios. Também não se deixava impressionar pela apatia e superioridade do príncipe.

Os dois irmãos sentaram-se no sofá, de frente para o cadeirão.

Leia repetiu o agradecimento inicial.

- Estamos muito gratos que tenhas acedido a encontrar-te connosco, príncipe Kar'kion.

Ele apenas reagiu com um suave meneio da cabeça. Os olhos permaneceram inescrutáveis, ambíguos. A distância e o desconforto eram cultivados como imprescindíveis.

O príncipe era o convidado, aguardava que lhe fizessem a primeira pergunta. Leia percebeu isso. Juntou as mãos e começou:

- É nosso profundo desejo que esta conversa seja justa, esclarecedora e amigável, príncipe Kar'kion. Solicitámos a vossa nobre presença para que possamos, finalmente, ver esclarecidas algumas das questões iniciais que trouxeram a Nova República a Hkion. Os recentes acontecimentos foram... digamos, confusos e revestidos de estranheza. O cavaleiro Jedi Luke Skywalker não foi recebido da forma mais cordial, eu enquanto senadora tive de intervir. Quero que tudo o que se passou seja esquecido em abono de um entendimento mais profundo e completo entre as diversas partes deste... encontro.

- Nunca requisitámos a intervenção do Senado Galáctico nos nossos assuntos internos – disse o príncipe. A voz era grave, monótona, inflexiva, com se estivesse a ler uma deixa, uma frase previamente enunciada num catálogo de afirmações a fazer numa reunião daquele nível.

- Mas é facto que foi apresentada uma petição sobre a utilização de escravos nas vossas minas no Senado Galáctico. Caso contrário...

- Uma calúnia inventada pelos nossos inimigos – cortou o príncipe.

- Hkion é um sistema isolado. Não existem registos de adversários ambiciosos que esperam ganhar alguma vantagem... com o domínio de Hkion e das suas riquezas.

- É inegável que temos riquezas cobiçadas.

- Encontram-se numa região galáctica que assegura a vossa independência. Há séculos que assim tem acontecido.

- Mais um motivo para que o Senado Galáctico nos deixe resolver os nossos assuntos... sozinhos. Sempre tivemos a capacidade de o fazer durante esses séculos que apontaste. Por que motivo seria diferente agora?

- A galáxia emerge cheia de esperança e vitalidade depois de uma guerra civil especialmente violenta. Espera-se cooperação de todos os sistemas para a renovação da organização política, não precisamos de sabotagens subtis que nos remetem... aos tempos mais negros. A Nova República não pode ignorar os apelos veementes daqueles que pretendem justiça.

- Senadora Leia Organa, tens a perfeita consciência do perigo de me apresentar na capital para esta entrevista.

- E, no entanto, não demoraste muito tempo a aparecer, o que me leva a concluir que te encontravas próximo, príncipe Kar'kion.

- Nunca nos devemos afastar demasiado do centro do poder. E fui convocado com uma especial urgência.

Leia recostou-se no sofá, a sorrir de maneira irónica.

- Esperas vantagens desta reunião.

- Estou neste momento no meio... de um jogo de forças. Não desperdiçarei qualquer vantagem que se me apresenta, por mais perigosa que pareça.

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