XLIII - Cumplicidades evidentes

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Acoitaram-se no quintal de uma moradia que parecia abandonada. Escolheram um muro de alvenaria que parecia suficientemente sólido para aguentar com o fogo que atiravam contra eles, ininterruptamente. O objetivo era simples e direto: pretendiam a sua eliminação, mas nenhum deles estava disposto a ceder ao terror psicológico de um ataque massivo e impessoal. Não existia a opção de rendição ou de desistência.

E por isso batalhavam até à exaustão, pelas suas vidas, orgulhosamente cientes de como era uma causa perdida. Iriam vender cara as suas carcaças. Ninguém os apanharia facilmente e faria estandarte da sua captura, numa exibição de superioridade de vencedor contra vencido.

Han rangeu os dentes.

- As minhas munições estão a terminar – resmungou. – Chewie!!

O wookie regougou irritado, enquanto disparava a sua besta laser artesanal, cotovelos peludos assentes no topo do muro esboroado pelo fogo inimigo, a pontaria afinada. Depois de descarregar um bloco de munições, voltou a agachar-se e rosnou penosamente para o corelliano, dizendo que os seus níveis estavam igualmente baixos.

Lando queixou-se:

- Precisamos de um plano. E rápido! Não os vamos aguentar durante muito tempo.

O muro tinha uma entrada que dava acesso ao interior do quintal, situada sensivelmente a meio. Do lado oposto onde estavam Han e Chewie, com um Threepio totalmente aterrorizado de pé e espalmado contra a parede contígua, Lando e Tomason combatiam lado a lado. O taanabiano, com um joelho no chão, cobria a parte inferior da rua, enquanto o socorriano assegurava-se de que varria todo o perigo que vinha de cima, vigiando os telhados à procura de eventuais atiradores furtivos, dizimando os soldados clones que escapavam à pontaria do seu inesperado camarada.

Estavam a ser caçados pelo exército de Hkion que via neles os sabotadores principais à ordem pública. Eram estrangeiros, estavam ali de forma clandestina – afinal a Falcon havia entrado no planeta sem autorização – representavam a Nova República por quem a elite local não nutria grande simpatia, estavam na posse de segredos sensíveis e o palácio estava a ser atacado. Bem vistas as coisas, o comando militar da capital tinha todas as razões e mais algumas para querer erradicá-los da superfície de Hkion e da memória futura da sua História centenária.

- Que plano é que sugeres, Calrissian? – gritou Han, zangado.

- Posso dar uma sugestão?

- Cala-te, Tomason! – pediu Lando, ainda mais zangado. – Não és o nosso companheiro. Estás a defender a tua vida, não estás a lutar ao nosso lado.

- Tu és tão idiota, Calrissian! Eu consigo safar-nos desta, se me concederes o benefício da dúvida.

- Quero a minha dívida perdoada. Quero que tudo seja esquecido... e talvez tenhas uma hipótese.

- E se eu deixar que apanhes um tiro? Os meus problemas terminam e a dívida, muito provavelmente, ficará saldada. Ou então, não me esqueço mesmo da dívida. Posso ir atrás do teu ajudante de Bespin, aquele que controla as finanças do barão administrador da colónia e que irá pagar-me, para evitar escândalos. Como é o nome dele? Ah, Lobot... não é? Um ciborgue bastante interessante. Acho que também existe tecnologia de clonagem envolvida nesse teu ajudante. E que tal uma pequena revelação e uma auditoria à contabilidade das minas?

Lando levantou Tomason pelos colarinhos. Juntou nariz com nariz, rugiu e arreganhou os dentes, na sua melhor imitação de um wookie perturbado. A demonstração de superioridade máscula foi, porém, interrompida com um raio laser que lhe rasou os cabelos. Largou o taanabiano e encolheu-se atrás do muro, a arfar. A sua pistola laser tinha caído ao seu lado.

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now