VIII - A ação é inevitável

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Em breve chegariam a Hkion. Faltavam escassos minutos e Leia estava apreensiva. Mordia os lábios e os seus olhos cegos fixavam-se num ponto, sem realmente verem alguma coisa. Ela não sabia qual a melhor abordagem para lhe darem acesso à capital.

A sua presença ali era secreta e não podia revelar os seus objetivos, mas ela continuava a ser uma senadora reconhecida e famosa pelos seus feitos, imensamente divulgados, na Guerra civil. Decidiu, portanto, apresentar-se como senadora e que estava em missão diplomática para se juntar ao cavaleiro Jedi enviado previamente. Ela tinha a certeza de que não lhe iriam recusar o vetor de acesso e que seria tratada com a mesma desconfiança que haviam dispensado a Luke, logo que fosse acolhida por qualquer comitiva que fosse nomeada para recebê-la. Entretanto, contava estar já no palácio e bastava exigir uma pausa para descansar para que conseguisse chegar à prisão e tirar Luke de lá. Pela força. Um plano falho, mas que se lhe afigurava o único viável, naqueles minutos em que desligava o hiperpropulsor.

O navegador indicou-lhe as coordenadas do hemisfério Sul e ela franziu uma sobrancelha, nutrindo aquele tipo de irritação que a desconcentrava e a enfurecia.

O cargueiro fazia a sua aproximação à superfície do planeta e via-se pela janela da cabina de pilotagem o deserto situado no extremo do único continente que era civilizado e desenvolvido pelo engenho do seu povo. O androide protocolar e ela própria não conseguiam perceber a razão de os valores que recebiam na consolam serem diferentes do navegador e da paisagem vislumbrada. Deste modo, a interpelação que receberam do centro de controlo aéreo e espacial assim que penetraram na atmosfera do planeta não teria consequências se não fosse respondida – e não seria respondida – porque simplesmente fugiram do alcance dos radares terrestres e dos satélites em órbita. A desorientação momentânea era-lhes benéfica.

O cargueiro tinha aparecido e desaparecido, misteriosa e rapidamente, dos monitores do centro de controlo aéreo e espacial. Ainda levaria algum tempo até que o relatório desse voo fosse compilado, respondendo à pergunta fundamental se se teriam despenhado ou não.

Leia Organa mal acreditava na sua sorte e olhou de forma aprovadora para Threepio que, sem querer, pois não estava na sua programação ser dissimulado, providenciara uma solução aceitável para o problema complicado de fazer a aproximação a Hkion. Deu-lhe uma palmada no braço metálico e murmurou:

- Obrigada.

- Creio que cometi um erro... – lamentou-se o androide, ligeiramente pasmado.

- Um erro providencial!

Ela desapertou os cintos de segurança, levantou-se da cadeira de piloto e foi até ao compartimento onde guardava o seu casaco, a sua arma laser, uma pistola do modelo M-57, e o seu sabre de luz. Agarrou neste primeiro. Uma arma elegante para tempos mais civilizados, contara-lhe o irmão, palavras de Obi-Wan Kenobi. Por momentos sentiu que não era digna de usar essa maravilhosa espada dos cavaleiros Jedi, mas resolutamente afastou esse pensamento para não lhe toldar a coragem.

Artoo passou por ela a rolar e aos apitos, Threepio ia no seu encalço e explicava-lhe que não sabia o que tinha acontecido, reforçando a sua inocência, acaso não tivessem acreditado nele. Ao vestir o casaco, ela percebeu tudo. O erro de Threepio fora provocado por Artoo. A confiança espalhou-se pelo seu espírito, deu-lhe forças redobradas quando já começava a sentir as pernas a amolecer e o coração a desfalecer de medo. A empresa era arriscada, muito arriscada, mas agora que tinham tocado o solo agreste do maior deserto de Hkion não podia voltar para trás.

O astromec, pensou ela distraída com aquele assunto ligeiro, fora sempre adepto da transgressão e do delito. Adorava as situações fora do padrão, coisa estranha para um autómato que se regia, ou que se devia reger, por leis mais restritas e protocolos incontornáveis. Mas fora Artoo, de certeza, compreendia-o agora, que falsificara os dados de navegação e as coordenadas dos vetores, para que Threepio, que estava aos comandos do cargueiro quando este deixara o hiperespaço, cometesse o erro que tinha resultado na sua entrada na atmosfera de Hkion no lugar mais desabitado do planeta e que a cobertura dos sistemas de controlo não alcançava.

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now