XVII - Reunião

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A primeira reação de Luke Skywalker foi vomitar. De gatas, cedeu aos espasmos do diafragma e despejou o pouco conteúdo que guardava no estômago, uma aguadilha azulada e ácida que lhe magoou o esófago. Parte deveria pertencer ao antídoto que Leia lhe enfiara pela goela abaixo, a outra parte seria a água que tinha ingerido durante a viagem e líquidos próprios.

A náusea era debilitante e aflitiva, tinha o sangue incendiado e suava copiosamente. Via as gotas que lhe escorriam da testa pingarem na poça de mucos que expelia. No entanto, o pesadelo tinha-o finalmente abandonado e os seus olhos, embora turvos, já conseguiam perceber melhor os contornos das coisas que o rodeavam. Naquele instante em que vomitava não havia muito para ver. Erva, porcaria, os seus dedos enclavinhados. Mas para ele era um melhoramento significativo conseguir distinguir os seus dedos e saber que eram verdadeiros, que não eram uma representação num mundo de sombras, um apêndice estranho.

Arfava de fadiga, débil como uma criança acabada de nascer. Tinha sido o pesadelo e o combate a deixá-lo naquele estado deplorável. Uma mão pousou-se entre as suas omoplatas, alguém se ajoelhou junto a si.

- Sentes-te melhor?

- Sim, Leia... Obrigado... – murmurou.

- Estava muito preocupada contigo.

- Perdoa-me por ter lutado contigo. Não era eu...

- Eu sei.

Ele tentou erguer-se para afastar-se do lugar sujo, o seu corpo vacilou. Ela amparou-o e ajudou-o. Caminharam trôpegos, ele porque tinha as pernas fracas, ela porque carregava com o peso dele. Sentaram-se num banco metálico, junto à entrada do abrigo, que Threepio desencantara no interior e trouxera solícito e preocupado com o estado deles, para que eles descansassem. Evitou dizer alguma coisa, temendo que não fosse capaz de verbalizar as palavras corretas, tão apoquentado estava com os desvarios dos humanos. Artoo guardava ainda o sabre de luz de Luke pousado no chão da floresta, apitando, rodando a sua cúpula, os sensores óticos a mudar de cor entre o vermelho e o azul. As criaturas esperavam, mais caladas do que Threepio.

- Lutaste muito bem – disse ele tentando sorrir, mas saiu-lhe um suspiro.

Leia limpou-lhe a boca com a manga do seu casaco.

- Tive de lutar bem ou não iria conseguir dar-te o antídoto.

- Deves melhorar a posição das pernas. Pouca firmeza.

- Estava apreensiva e inquieta. Tinha muitos conceitos para relembrar quando lutava. – Ela agarrou-lhe nas mãos frias, apertou-as. Tinha os seus dedos peganhentos do gel. – Estás com um péssimo aspeto.

- Tu estás despenteada.

Ela sorriu.

- Não te preocupes com as minhas tranças. Temos muito que conversar quando tiveres recuperado.

- Creio que não podemos perder tempo neste assunto. Não me posso dar ao luxo de recuperar totalmente, é necessário agir sem demora. A conversa tem de acontecer...

- O conflito em Hkion.

- E mais, Leia... Este meu padecimento, o lado negro da Força, os fantasmas da névoa. Existem mais mistérios. Tens o anel?

Leia retirou-o do bolso do casaco onde o guardara.

- Que fantasmas são esses? Durante a tua doença falavas que eles te estavam a chamar.

A testa de Luke enrugou-se. Rodou o anel dourado entre os dedos. Notava-se o esforço que fazia para organizar as suas ideias, ser coerente e esclarecedor no instante em que tentava recuperar memórias e noções da confusão de quando delirava sob a ação do veneno. Acabou por confessar:

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now