XXXIX - A perseguição

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Quando Yur Tomason despertou estava manietado com umas algemas antigas de metal, mãos atrás das costas, sentado no chão frio do cargueiro. Cabeceou atarantado, tentando ignorar a terrível dor de cabeça, procurando situar-se e preparar-se para se defender, fugir ou atacar. A sua boca era de uma secura desértica e o seu estômago revolvia-se enjoado. Ao perceber-se amarrado e com os movimentos condicionados, urrou frustrado e zangado.

Olhou em volta e notou o autómato dourado voltado para um painel que fumegava e crepitava, soltando um odor peculiar a circuitos queimados. Estava no interior de uma sucata voadora e identificou de imediato a nave: a Millenium Falcon. Lendária, mas deplorável. Mítica, mas degradada.

Arrastou-se com a ajuda das pernas. Apoiou as costas na parede mais próxima, fez força com os joelhos e colocou-se de pé. Virou a cabeça, alertado pela berraria que ouvia daí, onde se situava a cabina de pilotagem. Aos rosnados do wookie sobrepunham-se os gritos do corelliano e do socorriano.

Uma vez de pé, Tomason ensaiou uma corrida e investiu contra a porta aberta da cabina, exigindo:

- Soltem-me, seus imbecis! Soltem-me! Por que raio me amarraram e me deixaram num canto, como um velho dresseliano aleijado? Ei! Estão a ouvir-me?

O seu ombro esquerdo esbarrou na ombreira, sentiu um ardor indicando que se magoara numa qualquer saliência, mas não desistiu dos seus protestos.

- Ei, eu disse para me soltarem! Vocês estão completamente doidos. Acham que ganharam alguma vantagem ao me terem raptado, seus imbecis? Só vão atrair mais problemas.

- Lando, cala-o! – exigiu Han sem largar as alavancas da consola. – O barulho que esse tipo faz está a desconcentrar-me.

O socorriano destravou o seu cinto de segurança e levantou-se.

- Ei, o que vais fazer?

Tomason recebeu um empurrão e caiu na cadeira que antes era ocupada pelo barão administrador de Bespin. Gemeu porque se aleijou num braço que ficou esmagado contra o encosto. Ajeitou-se para ficar mais confortável, repuxou os pulsos, mas as algemas estavam bem fechadas.

- Calminha, Calrissian!

Lando debruçou-se sobre ele.

- Tem tu calma, Tomason. Não queres ficar pior do que já estás.

Fechou o cinto de segurança à bruta e o taanabiano sentiu-se ainda mais preso. Estrebuchou e remexeu-se. Lando, entretanto, tinha puxado o banco rebatível e sentava-se atrás do lugar do copiloto. O protesto seguinte ficou entalado na garganta, pois quando Tomason abriu a boca para exigir, mais uma vez, que o libertassem, o cargueiro foi sacudido violentamente e escutou-se o som de um rebentamento. Alarmes múltiplos encheram o painel do lado direito do piloto. Han lançou uma mão lesta aos botões e calou-os a todos. Pediu ao wookie que reforçasse os escudos defletores.

- Os teus amigos estão por perto a vigiar o teu empreendimento, Tomason? – perguntou o corelliano num tom irónico.

O taanabiano, engoliu em seco, abriu e fechou os olhos e gaguejou:

- O quê? O que estás... para aí a dizer, Solo?

- Sabemos que estás a negociar com os imperiais. Já descobrimos o jogo todo!

- Não sei do que estás a falar – tentou o taanabiano, firmando a sua voz. Deu um salto na cadeira ao escutar um urro de aviso do wookie.

- É para eles que estás a fabricar os clones. Chega de dissimulações – pediu Lando de paciência esgotada. Cuspia as palavras misturadas com gotas de saliva. – A tua presença em Hkion não é casual. Estendeste a armadilha e eu também apareci aqui. Uma coincidência interessante... É um jogo que preparavas para ganhar. Aquele encontro a uma mesa de sabacc foi apenas um engodo, para me encontrares mais depressa. Sabias do Jedi, sabias que eu viria porque o Jedi é amigo do Solo. Tão fácil, tão estupidamente fácil. – Suspirou alto, apertando os lábios. O cargueiro sacolejou novamente, a fuselagem a crepitar e a ranger. – Existem antigos líderes do Império que estão interessados na tua pequena exploração fabril que usa tecnologia genética kaminoana e tu fazes-lhe a vontade. É somente um negócio, ganhas uma fortuna, pouco te importas com o que estás a provocar. Caramba! Julgava que os de Taanab eram agricultores!

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