XXIII - Entre os mistérios das sombras

29 9 6
                                    


Acordou sobressaltado pois ela estava longe. Não demasiado afastada, mas fora do abrigo e estava muito frio na floresta. Ele conseguia sentir as alterações no ciclo da vida, a suspensão e a renovação derivadas das baixas temperaturas, potenciadas pelas altas, o fogo e o gleo, numa roda perpétua que findava onde principiava.

Levantou-se sem fazer barulho. Na obscuridade do abrigo apenas Artoo vigilava. Os outros dormiam em esteiras que tinham estendido no soalho, trazidas pelo corelliano que se munia de variado equipamento para montar um acampamento razoável. Chewie consentia que Han o usasse como almofada, Lando estava aos pés do gigantesco copiloto, Threepio estava desligado e o lugar onde Leia devia estar a dormir encontrava-se vazio. Luke pendurou o seu sabre de luz no cinto. O olho azul do astromec mirou-o, ele colocou um dedo sobre os lábios a pedir silêncio, não se escutou um pio e com passos leves saiu do abrigo.

Havia neblinas fosforescentes a atapetar o chão húmido e musgoso. Ele cortou-as com os seus passos deliberados, seguindo a assinatura dela na Força. Era fácil, ela nunca se escondia dele e muito menos quando estava a servir-se da energia universal. Precisava do seu amparo, da sua orientação, ele era o seu guia e ela acolhia-o humildemente nessa posição.

A lâmina do sabre riscava o ar iluminando a espaços irregulares o pequeno vulto que o empunhava. A cor verde faiscante apelava a ilusão, a fantasmagórico. Os gestos eram bruscos, secos, pesados. Anulavam a elegância da arma e imprimiam um sentimento desagradável em cada brandimento. Luke parou, colocou as mãos atrás das costas, apertou-as. Ficou a observar até que Leia resolvesse assinalar que sabia que ele estava ali, desde o início.

O sabre descreveu uma volta, a ponta ficou apontada ao peito dele.

- Demasiada raiva – observou, tranquilo. A ameaça não o chocou.

O sabre foi desligado, o braço pendeu ao longo do corpo.

- Estou zangada – confessou Leia.

- A raiva é um caminho desnecessário. Queres conversar comigo?

Ela levantou a mão.

- Han não tem nada que ver com isto.

Luke notou que a irmã evitava olhá-lo nos olhos. Mordia o lábio inferior e estava tensa e fatigada. Não descansara de forma satisfatória durante a noite, o seu interior revolvia-se em turbilhão, desenganada, frustrada.

- Eu...

- E não quero falar sobre o Han!

- Não ia perguntar-te sobre ele.

Um suspiro grande, profundo, arrancado de dentro. Ela sentou-se no chão húmido, entre a neblina. Limpou o suor da testa. Tinha os joelhos fletidos e assentou os braços nas rótulas, depositou a cabeça nos braços, repetiu o suspiro.

- Por que razão tem de ser sempre tão difícil explicar que a democracia é melhor do que uma tirania? Que a república é preferível a uma ditadura? Que podemos entender-nos sem opressão, violência, humilhação? A galáxia parece não conseguir existir sem a imposição da lei do mais forte, da desregulação, da anarquia. Sistemas inteiros com interesses egoístas, perdidos nos mesmos vícios que duram séculos. Não conseguem conceber uma visão diferente, de aceitar a convivência com outros mundos. O trabalho é... infinito e, por vezes, chego a pensar, que será impossível!

Ele sentou-se ao lado dela. Imitou-a na posição, fletiu os joelhos, assentou os braços nestes. Entrelaçou os dedos e observou-a. Depois retorquiu:

- Tu nunca vais desistir, Leia. O trabalho pode ser interminável, mas tu és uma daquelas pessoas que vai tornar tudo plausível, até com a aparência de ser fácil. A Chanceler confia em ti. Mais importante, eu confio em ti.

Os Fantasmas da NévoaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora