XXXVIII - Agressão e combate

31 9 13
                                    


Luke olhou em volta. Só ali estava o fantasma da Força de Anakin Skywalker. Era uma novidade. O pai nunca lhe aparecera sozinho, vinha sempre acompanhado do fantasma de Obi-Wan Kenobi ou do de Yoda. Depois de resgatado do lado sombrio, depois de recuperado para a luz, aquele que tinha sido o tenebroso Darth Vader continuava a ser demasiado poderoso para ser largado sozinho no universo, incluindo no oceano imenso e etéreo da Força. A supervisão do Escolhido era permanente, até na existência do além-túmulo.

- Pai – repetiu, a voz profunda. De seguida, sorriu-lhe.

- Meu filho. Estou aqui numa missão urgente e inadiável. A Força perturba-se grandemente em Hkion.

- Sim, pai – concordou Luke com um aceno.

Fez um gesto com o braço convidando o fantasma de Anakin a sentar-se consigo no sofá da sala despojada, mas a figura azul transparente não se moveu. Manteve o ar grave e, numa contradição subtil, uma certa sombra.

Luke tentou não se impressionar, porque não estava a gostar das sensações alarmantes que lhe mordiam a pele, em pequenas agressões invisíveis e geladas. A Força ardia nesse fogo frio, entre o vácuo, indicando-lhe que uma mudança iria acontecer brevemente e que ele deveria estar preparado para mais esse desafio. Os lagartos Ysalamir estavam esgotados também com a energia que tinham de despender para conter todas as anomalias que permeavam o ambiente e que derivavam dessas estranhezas na Força. Como o pai não se sentou, ele também se manteve de pé. Uniu as mãos à frente. Começou:

- O que está a acontecer em Hkion, meu pai? A Força é enorme neste sistema, neste planeta em concreto. Aqui reside um antigo Jedi, Bekbaal de seu nome, que controla um exército de fantasmas da névoa que são antigos cavaleiros Jedi, que se refugiaram neste local quando foram perseguidos pelo Império Galáctico.

- Quando foram perseguidos por mim – corrigiu Anakin. – Fui eu que matei todos esses Jedi, Luke.

Esse era um facto inegável do passado tenebroso do Skywalker mais velho. A sua longa entrega ao lado negro da Força, o sofrimento que sentiu e que impusera à galáxia. O ódio, o medo e o rancor. O debate excruciante, longo e penoso com a luz que ele nunca abandonara, deveras. Os músculos de Luke enrijeceram e ele tentou emendar-se.

- Meu pai, eu...

Anakin abanou suavemente a cabeça.

- Já fiz a minha aprendizagem. O meu caminho de redenção teve um único sentido e ficou completo. Finalizado. Compreendo os meus atos cruéis do passado. Consigo contemplá-los e a distância com que o faço é segura. Não serei contaminado, nem pelo remorso, nem pela amargura, nem pela autopiedade. Estou em paz e na tranquilidade da Força. Forte e luminoso. – Desenhou um sorriso brando. – Devo-o a ti.

- Peço que me perdoes pela minha impulsividade – pediu Luke, baixando a cabeça.

Houve um toque incorpóreo nos seus cabelos. Luke sentiu todo o amor impregnado nesse movimento tão leve como um suspiro e ficou confortado. De seguida endireitou-se e pediu:

- Conta-me, meu pai.

O fantasma de Anakin tornou-se mais ténue. Havia uma seriedade pesada que o envolvia e que o dissolvia, numa ambiguidade que o fazia próximo e longínquo, real e um mero eco. Ele disse:

- Bekbaal não é quem tu pensas. Neste momento, o mestre Yoda está a tentar persuadi-lo a desistir da sua vingança. Ele quer arrasar Hkion, derrubar adversários que já não existem, combater contra o exército dos clones, inventa uma guerra, um pretexto, motivos que são fantasia. Ele julga-se inatingível e invencível.

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now