XXXI - Combater

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Verificou a passagem espreitando por todos os lados e fez sinal para que avançassem. Mas logo que deu um passo estacou alertado por um ruído estranho e todos recuaram, empurrados pelo corpo dele que fez força para trás, braço esquerdo aberto. O socorriano remexeu-se com aquela célebre inquietude que o acometia quando se sentia desprotegido e num lugar demasiado perigoso para o seu conceito.

- O que foi?

- Ouvi alguma coisa – explicou Han, fixando o olhar na esquina mais longínqua. – Sim, Chewie... Vem ali alguém. Se não conseguirmos manter a nossa posição aqui, voltamos para trás.

A única possibilidade era regressarem ao passadiço que ficava por cima da operação fabril e o corelliano não queria voltar a um local tão sensível. Já tinham comprovado que se estavam a fabricar clones no lado obscuro da primeira lua do planeta gasoso, podiam fazer um relatório completo para a senadora que o passaria à Chanceler. A seguir seria com os políticos e com a Nova República. Sem aborrecimentos, sem baixas desnecessárias, como Leia queria.

Han passou uma mão pelo rosto. Estava a suar e precisou de limpar a testa molhada. Engoliu a saliva que reunira no interior da boca e espalmou-se ainda mais contra a parede quando escutou passos e uma lamúria esganiçada.

- O que...?

A voz queixosa era bem conhecida, mas ele teve de verificar com os seus olhos que era mesmo aquele androide protocolar irritante que não conseguiu evitar enredar-se em sarilhos. Threepio caminhava entre criaturas andrajosas armadas com espingardas laser E-11, que tinham antes sido usadas pelos stormtroopers do Império Galáctico. O autómato lamentava-se alto dizendo que tudo não passava de um terrível equívoco, inventando uma qualquer desculpa de que se tinha perdido de um comboio diplomático que fora despachado de Hkion. Han cerrou os dentes. Threepio tinha sido capturado!

Fez um sinal enérgico com o braço, Lando e Chewie recuaram para perto do passadiço, Han voltou-se para eles.

- Têm o Threepio.

- Sim... Percebi isso – concordou Lando. – Ele não se cala quando está sob pressão.

Chewbacca grunhiu, preocupado, querendo saber o que podiam fazer pelo companheiro metálico.

- Ora, vamos ter de resgatá-lo! – anunciou Han a moderar a irritação. Não estava à espera daquele percalço e sentia que iria atrasá-los. Gostaria de explorar mais o complexo, queria mapear a lua, queria viajar até à lua com as minas ativas, a missão estava ainda no seu início, o seu orgulho obrigava-o a um trabalho bem feito para impressionar Leia ou talvez, seria o mais certo, calar Leia com os seus padrões sempre tão exigentes, e agora tinham de lutar para não perderem Threepio. Nem sequer podia considerar perder Threepio, acrescentou mentalmente, a remoer aquela contrariedade! Leia nunca lhe perdoaria.

Lando perguntou, chegando-se à esquina para verificar o que acontecia:

- O que sugeres?

- Atacá-los.

- Assim, sem mais? Atacá-los, simplesmente...

- Não podemos fazer de outra maneira.

- Eles estão a dirigir-se ao turbo elevador que fica em frente de...

A frase ficou a meio. Han Solo, com a sua típica disposição temerária, atirou-se a correr para o corredor. Aconteceram três, cinco, nove disparos. Chewbacca seguiu atrás do antigo mercenário, lançando uma saraivada de tiros da sua besta laser, tão potentes que as explosões fizeram abanar a estrutura do edifício. O queixo de Lando caíra e ele estava boquiaberto com a rapidez do ataque. Olhou para cima, viu as traves que sustentavam o piso superior abanar. Depois lembrou-se que também devia apoiar a investida furiosa de Han e saiu do refúgio com a arma a fazer mira. No entanto, não tinha nada em que mirar. As criaturas andrajosas que serviam de escolta ao androide jaziam no chão, derrotadas, fumegantes e mortas. Eram nove e não se pareciam com nada do que tivessem visto naquele sistema, nem sequer com os antigos escravos, os Otrok, que veneravam Bekbaal.

Threepio estava com os braços dourados ao alto, a ranger e a tremer, a gaguejar sílabas incompreensíveis. Han guardou a sua pistola laser no coldre. A cabeçorra de Chewbacca virava para todos os lados a observar se aquela escaramuça teria atraído observadores, guardas, mais problemas.

- Estas bem? O que aconteceu? – perguntou Lando ao androide.

- Eu... Eu...

- Temos de sair daqui. Regressamos à nave. Não quero ter gente na nossa peugada, a impedir-nos de sair desta lua amaldiçoada – avisou Han começando a andar pelo corredor.

- General Solo, a sala por onde entraram está comprometida! – avisou Threepio recuperando a capacidade do seu processador de voz. Continuava afetado pois a sua dicção estava mais atrapalhada.

- Imaginei isso. Descobrimos outra saída.

- O que aconteceu? – insistiu Lando, pondo-se a andar ao lado do androide.

- Um veículo surgiu de repente e aprisionaram-me – contou Threepio, num estado frenético. – Depreendo que estivessem a fazer uma ronda ou algo semelhante, atuavam como vigilantes.

- Sim, estas criaturas são estranhas... Viste mais alguma coisa?

- Não, fui apanhado pouco tempo depois de terem entrado.

- Achas que sabem que estamos aqui?

- Creio que sabem. Perguntaram-me repetidas vezes onde estavam os outros, onde estavam os outros... Era um dialeto antigo, incomum, registado como desaconselhável na minha base de dados. – Chewbacca rosnou. – Desaconselhável pois usa um vernáculo demasiado... Oh, cala-te, gigante peludo! Se não estás a perceber por que razão me perguntaste isso?

- Não são notícias animadoras... – resmungou Han.

- Não me apercebi que existiam... vigilantes.

A galeria mais à frente estava barrada por um outro grupo daquelas criaturas esquisitas que se enrolavam em trapos. Estavam a tapar a saída e Han travou alarmado. Chewbacca disparou a besta laser, Han disparou a seguir e Lando completou a chuva de fogo com outra salva de raios que engoliram as criaturas num novelo de fumo esbranquiçado. Correram para trás e escolheram outro corredor. Desceram escadas metálicas e começaram a escutar o tumulto a avolumar-se. O alarme fora dado, indicando que existiam intrusos. Poucos segundos-padrão depois uma sirene começou a tocar, a iluminação mudou para um vermelho fosco.

- Já sabem que estamos aqui!

- A festa tornou-se mais interessante – comentou Han com um sorriso. – Chewie, vamos por cima!

- Por cima?

- Vi uns alçapões que devem dar acesso à cobertura – explicou o corelliano andando apressadamente, verificando o teto. – O edifício é baixo pelo que basta encontrar o ponto certo... E deslizaremos para o solo.

- Um plano simples – concordou Lando, algo reticente por ter um propósito realmente simplório.

E encontraram, de facto, os alçapões, portinholas quadradas junto a um sistema de ventilação composto por tubagens e emaranhados de fios amarrados de forma displicente. A estatura elevada do wookie permitiu-lhe aceder ao mecanismo de fecho que destrancou e um dos alçapões abriu-se. A chapa metálica ficou pendurada, a abanar, entrou um ar frio e húmido. A sirene soava no ambiente vermelho e começava a ser irritante.

Threepio protestou pois nunca iria conseguir escalar por ali acima e utilizar aquele buraco como uma saída, Lando revirou os olhos. Usando da sua força bruta, Chewbacca arrancou alguns tubos, amolgou-os e fez uma espécie de escada com degraus amontoados para diminuir o espaço que existia entre o chão e o alçapão aberto. O primeiro a trepar foi Han, depois foi a vez de Lando. Os dois homens puxaram pelos braços do androide, enquanto o wookie empurrava-o pelas pernas. Threepio barafustava ruidosamente invocando o seu estatuto de androide protocolar. O último a subir foi Chewbacca, ajudado também por Han e por Lando.

Correram sobre a cobertura, aproximaram-se da borda. Olharam para baixo e não parecia muito alto. Um bom salto bastava para alcançarem o chão. Depois era só fugir.

De repente, pararam.

- A vossa pequena excursão terminou, amigos!

Os Fantasmas da NévoaWhere stories live. Discover now