Dois

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A morte de José não fez com que ele parasse de atormentar, era mais uma sombra para atormentar minha cabeça, estava tentando dormir, mas não conseguia, meu corpo se debatia por completo, era uma junção da abstinência, fome e frio.

Me levantei e comecei a perambular pelo morro, de longe avistei Aline junto de um grupinho de amigas, tentei passar disfarçada, mas não deu, ela me avistou e veio em minha direção com um sorrisinho no rosto tateando o bolso de traz.

- Toma – Ergueu uma moeda de cinco centavos – Para você comprar uma droguinha para você. – Debochou e eu virei o rosto para o lado.

- Deixa a menina Alice. – Uma de suas amigas disse.

- Ah, o que é mana, só estou me divertindo um pouco – Falou e eu a ignorei e continuei a caminhar, meu estômago parece que havia dado um nó, estava doendo muito, me abaixei e coloquei a mão por cima.

Vagabunda você vai morrer, tá achando que vai ficar impune do que fez comigo, desgraçada.

Era a voz de José atormentando minha cabeça novamente.

- Me deixa em paz – Falei baixo colocando as mãos na cabeça e balançando meu corpo para frente e para traz.

- Ei mocinha – Ouvi alguém me chamar e me virei encarando uma senhorinha, eu estava sentada em sua porta.

- Me... Me desculpa, eu vou sair – Falei me levantando.

- Vem cá – Me chamou e eu me aproximei devagar dela. – Você é tão linda, Deus ama você sabia – Falou e eu assenti com a cabeça sorrindo de lado.

- E... ele ama a senhora também – Respondi.

- Você vai sair dessa vida, tenha fé e força de vontade, tome – Estendeu uma vasilha se não me engano com comida. – Pode pegar, eu sei que está com fome. – Pegou minhas mãos e colocou a vasilha em cima, segurei e a encarei.

- Obrigada – Agradeci e ela sorriu. A fome era tanta que eu me sentei ali mesmo e comecei a comer, não ligava pela forma esfomeada que comia, mal mastigava e engolia.

Quanto terminei a senhora me ofereceu um copo com água, eu tomei e entreguei o copo junto da vasilha, agradeci novamente e me levantei voltando a caminhar.

(...)

Estava no beco novamente, encostada na parede enquanto dividia uma pedra de crack junto de Nina, quando eu tinha eu sustentava ela e quando ela tinha ela me sustentava, uma mão lava a outra pô.

- To ligada que o patrão matou teu pai – Comentou e eu encarei.

- Na hora que ele estava tentando me estuprar – Respondi e olhei para baixo – Não consigo entender Nina, o que se passa na cabeça de um ser humano desse para chegar a tal ato, porra eu saí do saco dele, era uma parte dele.

- É o fim do mundo cara, as pessoas perderam o amor um pelo outro.

- To sabendo, te dizer que eu não senti nada quando ele foi morto, não fiquei feliz, nem fiquei triste. Quando estou fora de lombra, ele permanece aqui – Bati o indicador na cabeça.

- É foda – Falei e entreguei para ela. – Lá vem teu bofe – Falou e eu encarei Junior vindo, quando disse que vendia o corpo para sustentar meu vício o papo é real, Junior é um dos caras digamos que corajoso.

- Se ele é meu bofe é teu amante, desgraçada, deixa o meu macho ou tu vai ficar careca em – Brinquei e ela gargalhou.

Roubar em favela pra sustentar o vício, é algo que não gera, aqui não roubar é uma das leis que impera, vai achando que favela é bagunça, porque quando eu era iniciante fui inventar de roubar, tomei no cú bonito, foi uma vez para nunca mais.

(...)

FLASH BACK ON

Cheguei na boca correndo com uma televisão em mãos, moquei (peguei) de uma casa que tava aberta e saí na fuga.

- Quero trocar essa TV em pedra de crack – Falei e o soldado já me olhou desconfiado.

- De quem é essa TV dona? – Perguntou.

- É minha cara – Respondi olhando para os lados nervosa.

- Tá achando que engana bandido? Porra nenhuma nessa desgraça – Se levantou ficando de frente comigo e tomou a TV de minhas mãos, entregou para um soldado que estava do seu lado e me puxou pelo braço.

Me jogou no chão e colocou uma espécie de mesa na minha frente.

- Tu vai aprender a não roubar nunca mais em favela, isso é lei e tu devia estar bem ciente disso, drogada imunda. – Falou pegando um pedaço de pau – Coloca a mão – Falou e eu o encarei receosa – Quanto mais demorar, mais paulada tu vai levar – Falou. – Anda desgraça

Estiquei as mãos e ele deu a primeira sem dó me fazendo gritar de dor, quando ele terminou eu não sentia minhas mãos, ele me botou pra sair na base do chute e disse que na próxima não tinha paulada não, ele ia me encher de bala.

FLASH BACK OFF.

- E aí, bó? – Falou Junior apontando com a cabeça, eu assenti e segui ele, nos despimos, ele colocou a camisinha, me virei inclinando e ele entrou em mim sem dó, te falar que tesão é um algo que eu mal sinto, na lombra meu corpo praticamente adormece.

Quando ele terminou jogou a pedras e o dinheiro em cima de mim e foi embora. 

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Quero comentários em!

Uma semana linda repleta de coisas boas para vocês!

Um cheiro 😙

HeroínaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant