Quarenta e Oito

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Luria Narrando.

Eu não tive forças nem para responder elas, só de olhar para a cocaína meu corpo reagia, droga é uma desgraça na vida do ser humano cara.

Elas vendo que eu não estava respondendo se aproximaram de mim com a capinha do celular.

- Cheira só um pouquinho você vai gostar. - Colocou praticamente no meu nariz.

Eu fui sentindo a fissura, fui lembrando do quanto eu esquecia de tudo quando cheirava, da paz que me trazia mesmo que momentânea, que eu acabei recaindo.

Peguei o canudinho da mão da menina e puxei a carreira, por um momento eu senti prazer ao estar ali cheirando cocaína novamente e puxei mais uma carreira.

- Você era viciada não era? Ficava no beco se eu não me engano. - Falou e eu me toquei da burrada que eu estava fazendo, me lembrei do período de recuperação. - Pensei que você tinha se livrado das drogas - Falou e as duas sorriram.

Olhei bem para a cara delas e acabei me lembrando, delas, elas andam com Aline, essas desgraçadas estavam tramadas, fechei a cara rapidinho e bati a mão na capinha do celular e sai dali furiosa.

Com raiva de mim mesma por ter caído na delas, a culpa é toda minha, eu que fui fraca, inferno. Me lembrei de todo o sofrimento que foi a abstinência.

Estava saindo esbarrando nas pessoas que nem estava me ligando quem era, eu só queria ir pra casa, eu queria chorar, eu não estava nada bem, uma culpa sem cabimento, a mente perturbada sabe.

Quando você se livra de uma coisa e depois volta a fazer e se arrepende amargamente. Eu estava assim.

Acabei esbarrando em alguém que me fez voltar, na hora que encarei era Kennedy, acho que ele odeia que esbarrem nele, me lembrei do dia que teve evento na favela e Nina me jogou nele e ele me fez voltar.

- Sorte que é tu em, já ia descer esculacho. - Apenas sorri de lado para ele.

- Não me pergunta o que foi, por favor - Falei baixo e ele ergueu uma sobrancelha confuso.

Se ele perguntasse o que foi, eu iria chorar e não quero chorar, não em público.

Ele não disse nada, apenas assentiu com a cabeça, eu me virei e sai andando para fora do baile, quando estava bem longe eu me sentei em uma calçada entre uns carros, lembrando que se eu chegar sem Keise os pais dela vão estranhar.

Fiquei olhando pro céu, respirando fundo, logo fui sentindo uma raiva enorme dentro de mim, uma fúria, fiquei ali sentindo esse sentimento por um bom tempo até a depressão me atingir, efeito final da cocaína.

Apoiei minha cabeça no joelho fechando os olhos com força para não chorar.

- Eu não devia ter feito isso, eu fui muito burra, muito otária, vacilona.

- Você não devia ter feito o que ? - Ouvi a voz de Kennedy, ele estava ali de braços cruzados me observando.

- A quanto tempo está aí? - Perguntei o encarando. Estava tão destraida quando bati com ele que não percebi que ele estava todo arrumadinho, com o boné enterrado no rosto.

- Desde quando tu sentou aí pô - Falou e eu bati com a mão pra ele sentar do meu lado - Conta aí qual foi do b.o.

- Cheirei cocaína - Falei de uma vez e percebi ele respirar fundo.

- Tu foi atrás de drogas Luria? - Falou sério e eu neguei com a cabeça contando em seguida o que havia acontecido. - Puta que pariu que merda hein mano - Tirou o boné da cabeça e coçou a mesma.

- Merda é pouco, vacilei demais cara, caí na tentação, fui muito frágil.

- Na real mermo, não te julgo tá ligada, tu era dependente pô, viciada pra caralho, primeiro contato que tu teve com a droga, estigou mesmo pô, ainda mais que aquelas filhas da puta praticamente esfregaram na tua cara. Mas você se liga, vai ter que se acostumar a ver, sentir cheiro e estar perto, vai ter que ser forte Luria, se não você vai voltar a ser dependente é isso que tu quer?

- Não, eu não quero voltar aquela vida - Falei sincera.

- Então pô, se liga que vai ter altos querendo te derrubar de novo, vão oferecer as coisas pra você, antes de aceitar qualquer droga que seja lembra do sofrimento que tu passou na abstinência, não foi fácil chegar até aonde tu tá pô, pra tu cair na tentação de novo, se tu vacilar de novo, te interno de volta naquele lugar, tu não vai ser dependente de novo cara - Olhei para ele que estava sério.

- É verdade, pode internar mesmo, vou achar é bom.

- E aí bora voltar pro bailão? - Perguntou se levantando.

Pensei em negar, mas como eu vou ter que esperar Keise, melhor esperar lá dentro e curtindo. Infelizmente eu falhei, mas agora é erguer a cabeça e não cair na tentação de novo.

Estendi a mão para Kennedy e ele me puxou me ajudando a levantar, ele começou a caminhar.

- Espera - Falei e o abracei em seguida - Obrigada - Agradeci e em seguida nos começamos a caminhar de volta para o baile.

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Oi leitomores  ♥️
Saudades de vocês.

HeroínaWhere stories live. Discover now