Final.

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Luria Narrando.

- Ai que delícia - Falei sentindo a areia nós meus pés.

- Delícia é esse popô balançando enquanto tu anda - Kennedy falou um pouco atrás de mim e apertou minha bunda, me fazendo sorrir e dar um tapa nele.

Passou uma tropa de homens, alguns ficaram me olhando, olhei para trás e Kennedy olhava para eles de cara fechada. Segurei o riso e parei quando encontramos um lugar para ficar.

Ele pediu um guarda sol, uma mesa e duas cadeiras. Não havíamos trazido muitas coisas, apenas um cooler com uma cervejinha, água e refri. E uma bolsa com roupa extra.

Não trouxe comida, e por falar estava com tanta saudade do queijo coalho assado na lata.

- Bora dar um mergulho? - Kennedy falou olhando para os lados, - Aí parceiro passa o olho aqui na moral? - Pediu para um cara que assentiu com a cabeça.

Tirei meu short porque já estava sem blusa, somente com o biquíni e segurei sua mão.

- Aí tá gelada - Falei recuando e ele me encarou sério.

- Para de frescura rapá, bora - Me puxou pela mão de uma vez me fazendo cair no mar e engolir água salgada.

- Kennedy - Esbravejei cuspindo e limpando o rosto enquanto ele sorria da minha cara.

Entrei até o mar cobrir minha cintura e fiquei sentindo as ondas.

Senti braços rodarem minha cintura tentei tirar mas ele apertou os braços me fazendo bufar.

- Desculpa pô, não foi minha intenção não pedrita. - Beijou meu ombro me fazendo sorrir e deitar a cabeça em seu ombro.

Ficamos ali no mar, nos beijando, de love até nossos dedos ficarem enrugados, quando saímos Lelek e Keise estavam no nosso lugar.

- Amiga praia tem cada coisa boa né - Falou observando os homens passando.

- Ôh se tem - Lelek falou vendo um mulher deitando em cima da toalha.

- Você tá olhando o que Lelek? Eu vou dar a mão na sua cara seu filho da peste, dou uma cocada na sua cabeça de et, fica viu - Falou brava e eu gargalhei, ela piscou pra mim e sorriu.

Ficamos ali só curtindo, assistimos o pôr do sol e depois fomos embora.

(...)

Hoje era um dia muito especial aqui na favela, dia das mulheres e iria ocorrer aquela ação social para todas.

E eu iria ajudar a cuidar das mulheres junto de Keise, como havia feito o curso de costura comprei tecidos e fiz calcinhas para entregar para cada uma.

Keise iria fazer a unha delas, e eu iria ajudar no cabelo, fora que eu fiz bolos maravilhosos para o lanche comunitário e o RD encomendou salgados comigo para servir também, cobrei apenas os matérias, não cobrei a mão de obra.

As mulheres foram chegando e nós fomos cuidando de cada uma delas, o sorriso em seus rostos nós motivava e nós fazia ver que valia a pena essa voluntariedade.

Eu estava muito emocionada, esse dia estava sendo nostálgico pra mim.

Me lembro muito bem do ano em que eu e Nina estávamos aqui ( Nina, minha amiga eterna que sempre estará guardar meu coração.) O dia em que eu raspei a minha cabeça por não ter condições de cuidar dos meus cabelos.

Dos dias em que passávamos fome, que nos prostituíamos por uma mera droga, que dormíamos no chão frio e mal tínhamos roupas para vestir, mas estávamos satisfeitas com a ilusão de que a droga era boa pra mim e que eu precisava apenas dela para viver, que ela era minha motivação.

E hoje me olho no espelho e vejo uma figura feminina que conseguiu vencer o vício, com muita dor, sofrimento, a abstinência foi a pior fase que eu passei, mas foi preciso.

Foi preciso eu passar por tudo isso. Tudo na vida nos serve de lição, seja boa ou ruim a situação, de tudo nós tiramos aprendizados.

E eu aprendi a viver sem a droga, aprendi que ela só me fazia mal, que tem pessoas que se dizem amigas, mas só querem te afundar e você não precisa devolver na mesma moeda e nem querer se vingar, porque a vida por conta própria cobra a maldade que cada um fez.

A droga me deixou estéril, e eu carrego essa dor no peito ao saber que eu fui a causadora disso, eu perdi a dádiva de ser mãe, mas a vida não para, e melhor uma esterilidade do que a morte. Tudo na vida tem uma consequência e essa foi a minha.

Só tenho que agradecer a Deus pela caminhada, teve um processo doído mas olha onde estou hoje, tenho saúde, minha casa, minha loja, amigos, Kennedy, uma sogra maravilhosa.

Teve momentos que as mulheres davam o seu testemunho e eu não exitei em dar o meu, para quem sabe servir de exemplo para algumas.

Não tenho vergonha alguma pelo que passei, tenho orgulho de mim mesma por te passado por isso, claro com ajuda de algumas pessoas.

Abracei RD, Keise, Geiza e por fim Kennedy que ganhou um selinho casto nos lábios.

As lágrimas desciam por meu rosto e ele limpou com o polegar, não consegui segurar de tanta emoção e olha que não sou muito de chorar.

- Te amo pedrita, tu é guerreira pra caralho e safada na mesma intensidade, tá ligada que é nois sempre né, abro mão de tu não mulher - Falou me abraçando forte novamente me fazendo sorrir e chorar ao mesmo tempo.

- Te amo seu traste, obrigada por tudo mais uma vez - Beijei sua nuca.

Olhei para o seu e sorri com os fogos em comemoração ao dia da mulher.

Você pode até cair um dia, mas jamais se esqueça que a única pessoa que pode te levantar é você mesma.

Não tenha vergonha de pedir ajuda, tenha vergonha de não lutar por você, porque seu amor por ti, tem que vir em primeiro lugar.

Seja persistente, ninguém disse que é fácil e acredite há momentos em que queremos desistir de tudo, mas não faça isso e saiba que quanto mais difícil a caminhada, mais difícil será voltar a cometer o erro que te fez cair, é preciso aprender com os erros.

O fundo do poço te ensina lições que o topo da montanha jamais conseguiria te ensinar.

E essa é a minha deixa, com um sorriso nós lábios, lágrimas nos olhos e orgulho no coração de saber

Que eu fui a minha própria Heroína.

******

Espero que vocês tenham gostado da história, tanto quanto foi gratificante para mim escrever.

Gosto sempre de enaltecer as mulheres e mostrar a força delas, para incentivar outras.

Se tiverem alguma dúvida sobre a história, perguntem nessa frase.

Obrigada a cada uma de vocês que me acompanharam, curtiram, comentaram e até mesmo as que só leram. Vocês são muito importantes pra mim e por vocês que eu estou sempre querendo escrever mais livros.

Gratidão 🌻

Ah meus amores, #FicaEmCasa. Quem não puder, se cuidem viu. Que Deus proteja cada um de vocês e seus familiares independente de religião, porque Deus é um só.

Um beijo no coração ❤️

HeroínaWhere stories live. Discover now