Trinta e Um

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Kennedy Narrando.

Porque essa vida, uma das perguntas que mais ouvimos, não tem jeito cara, tentamos evitar mas sempre tem alguém para perguntar esses bagulhos, papo reto mesmo.

Todo cara que tá nessa vida tem seus motivos, a maioria deles por necessidade mermo tá ligado, quem é que quer ser palmeando por polícia.

Ser privado da liberdade, dormir sem a certeza de que vai acordar, ir pra guerra sem saber se vai voltar, pensar no sofrimento da mãe, viver com a mente neurótica, perturbada, porque porra, é foda pra caralho essas fitas.

Tem uns que entra de laranja achando que o crime é o creme e quando vai ver meu irmão, tá mais enrolado que cabelo cacheado, o arrependimento bate tarde demais para voltar atrás.

E quando tentam sair vão para uma missão suicida que ou morre ou vai preso, nunca que vão deixar tu sair de mão beijada, vai ter que ralar igual um condenado no bagulho.

Na favela tem muita felicidade tá ligado, mas também tem gente que passa muita necessidade parceiro.

Eu vendia laranjinha pela favela, ganhava um dinheiro até massa devido o calor, desde novinho mermo, pra ajudar a coroa em casa e comprar meus bagulhos, sempre fui de correr atrás do meu.

RD avistou e fez uma proposta, eu neguei no início quis sair fora, porque ja tava ligado como era o proceder da vida do crime, sem volta e com uma saída praticamente inexistente mano

Mas as coisas em casa apertaram pra caralho, procurei emprego na pista, não consegui, o jeito foi deixar o crime abraçar pô.

RD diz que sou um dos poucos que ele confia, mas nunca paguei para vacilar, sempre faço o meu sem titubear tá ligado.

Tem pau no cú que invés de fazer o trampo dele fica de olho no dos outros e só se fode rapaz, ninguém cresce botando o olho em ninguém não mano faz é se afundar mais. Quem monta em cima dos outros pra sumir uma hora cai meu parceiro e o tombo é feio pra porra.

Por isso sempre fui fechado sem dar muita ousadia para os outros. Tô aqui na moral com Luria, tentando não ficar muito fechado porque a mina não merece ficar levando patada, já apanhou muito na vida pô, então tô na maciota.

Na hora que vi nem acreditei que era ela, rapaz, tá ficando gata mermo, criando umas carninhas, quando sair daqui boto fé que vai estar com corpão, cabelão, atiçando os vagabundos mermo, na moral parceiro.

- Necessidade tá ligado, bagulho apertou em casa e o jeito foi deixar o crime abraçar, tu sabe que papo de serviço na pista pá nois, é raro. - Respondi sua pergunta sem entrar em muito detalhes

- Te entendo - Falou terminando de comer o bolo que estava bem gostoso. Ela passou a língua pelos lábios, carnudos por sinal, acompanhei sua língua com o olhar, mas logo tratei de desviar o foco.

- O casal vai querer mais bolo? - Chegou uma guria perguntando, a encarei, já tinha visto ela pelo morro, algum mano comentou que tava amassando quando ela passou pelo bonde.

- Não somos um casal - Luria respondeu - Porém eu aceito mais um e você Kennedy?

- Pô, valeu mermo, mas enchi - Falei e ela assentiu saindo.

- Também, pudera né, tem uma cratera nesse estômago cara, almoçou duas vezes e ainda comeu bolo - Falou e eu sorri de lado.

- Ih, tá tirando é, ralo pra caralho tenho que comer mermo, bora dá um pião? - Falei e ela assentiu.

- Vamos - Se levantou e meu olhar foi para as pernas dela e quando ela passou foi para a bunda, passei a mão no queixo e senti um tapa na cabeça.

- Tá me secando cara - Falou colocando a mão na cintura.

- Ih, só tô tentando calcular quantos quilos tu engordou, vendo se tá na moralzinha mermo - Gastei e ela sorriu - Sem maldade nenhuma pô - Mandei a real.

- Tava só olhando por olhar mesmo né, tem mais nenhuma para olhar - Falou.

- Claro que tem, a tiazinha ali com os peito pêra, pêra cintura - Falei e ela gargalhou alto tampando a boca em seguida.

- Já ficou com mulher mais velha? - Perguntou enquanto caminhávamos.

- Já pô, terror nenhum, coroa me deixou quebrado, tem os macetes. - Falei me lembrando - Mas depois queria vir com papo de me sustentar e eu cai fora, curto esses bagulhos não, gosto de correr atrás do meu.

- Quantos anos tu tem mesmo? - Perguntou.

- 25 e tu?

- Tenho 23.

- Em e tú tá mais de boa na abstinência? Tá se controlando?

- Tive umas recaídas sabe, mas faz um acho que um mês que não tento nada.

- É isso ai pô, ta aqui é pra isso mermo, perder esse vício do caralho, te falar que eu fumo cigarro e maconha de vez em quando.

- Já deu uns tecos (cheirar cocaína)?

- Já sim, sensações esquisitas pra porra rapaz, ficamos é doido, no final a depressão é foda, foi uma vez pra nunca mais.

Ela sorriu e nós paramos em baixo de uma árvore, ela sentou na grama e eu sentei do lado dela, ficamos uma cota ali papeando até minha acabar a hora da visita.

- Tchau, obrigada por ter vindo - Disse me abraçando e dando um beijo em minha bochecha.

- Tamo aí pô, até a próxima - Falei dando um beijo em seu cabelo e me saí, encontrei a enfermeira no caminho e perguntei se Luria esta precisando de algo, ela falou e eu assenti e sai.

- Colfoi mano Kennedy, RD tá atrás de tu pô - Chegou um mano de moto, assenti com a cabeça - Monta aí que te levo lá - Subi e ele guiou.

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Boa noite mores ♥️

HeroínaOnde histórias criam vida. Descubra agora