Nove

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Luria Narrando.

- Cara tu não vale nada - Falei para Nina que ainda sorria de ter me empurrado contra o cara que andava com RD e que um sossega na Aline.

- Tu viu aquela carinha de mal dele, todo fechado - Falou e eu sorri negando com a cabeça.

Realmente, bofe com a cara fechadíssima, todo na dele, enquanto eu vagava com meus olhos por seu rosto ele não tirava seus olhos dos meus.

Muito lindinho cara, se fosse na época em que eu arrastava a bunda no baile, bem lindona, o afronta, ia na intenção dele.

Chegamos no beco e eu me sentei no meu cantinho e Nina no dela que era ao lado do meu.

- Vamos bater um papo agora - Falei pra ela e ela se virou de frente pra mim, cruzei as pernas. - Vamos sair dessa vida amiga, olha só o que já passamos, o que mais vamos precisar passar pra entender que essa vida não é pra gente? Que isso não é vida pra ninguém cara.

- O tanto de humilhação que já passamos, as comidas que comiamos ou era do lixo ou as pessoas davam, roupas usadas dos outros muitas delas vendidas para nosso sustento. - Completou.

- Fomos julgadas, fomos chingadas, passamos necessidade pra caralho, mas agora é a hora da gente se reerguer. - Falei olhando para o céu.

- Sair dessa vida, dar a volta por cima e quem sabe um dia ajudar as pessoas que passam o que passamos. Porque é mais fácil ajudar quando passamos pelo que as pessoas passam. - Assenti com a cabeça e peguei em sua mão.

- Chega disso, chega de sofrer, entramos por vacilo e falta de vergonha na cara e vamos retomar a vergonha na cara e sair dessa vida. - Falei esperançosa.

- Juntas na vida das drogas, juntas na vitória - Ela apertou minha mão me puxou me dando um abraço, fechei meus olhos sorrindo.

- Que lindinhas, decidiram assumir a relação? - Ezequiel chegou junto de Binho e sentaram com a gente.

Ficamos conversando, fiz a proposta a eles de sair dessa vida, mas ele diferente de mim e Nina, não tiveram firmeza e nem esperança para sair dessa vida.

Até alegaram que gostavam da vida que levavam, acho que estão no comodismo sabe.

Queria que eles fossem conosco, porém infelizmente, não podemos forçar as pessoas a nada.

- Miga nós temos que pedir ajuda não esquece - Falou Nina me lembrando.

- Aonde vamos conseguir será? - Questionei ela.

- Vamos ter que ir pedir ajuda tem igreja, tem a boca . Ter coragem né mona, se não formos atrás não conseguiremos.

- Verdade, vamos pedir primeiro nas igrejas, deixar a boca como última opção. Você sabe que aqui tem uma ONG né? Basta a gente achar a igreja que administra e conversar com eles.

- Amanhã quando a gente acordar vamos lá conversar com eles.

- E aí meninas, uma despedida? - Chegaram colocando dolinhas de  pedra de crack e cocaína no nosso meio. Olhei para Nina e neguei com a cabeça.

Eles começaram a usar na nossa frente e eu virei o rosto tentando não cair na tentação.

- Vamos amiga, a última vez - Falou Nina e eu a encarei.

- Nina não véi, tá maluca cara, é assim que tu quer sair dessa vida? - Falei me emputecendo.

- A última vez, por favor, amanhã mesmo vamos na boca e pedimos a grana e vamos nos internar. - Falou já fumando a pedra de crack. - Para tudo se tem uma despedida não? - Falou me encarando e piscando.

- A última vez Nina. - Falei pegando meu cachimbo e colocando uma pedrinha de crack no mesmo, botei fogo e comecei a fumar, logo a lombra bateu e cara, tava em marte.

(...)

Nina Narrando.

Entrei nessa vida através de euforia mesmo, queria conhecer, gostei e fiquei, não tenho um motivo para estar nessa vida.

A real é que fui vacilona pra caralho, tinha de tudo, tudo mesmo, meus pais sempre me deram tudo o que eu queria.

Pique patricinha mesmo, só andava com roupa de marca e olha agora, usando roupas usadas.

Hoje em dia meus pais passam por mim, nem olham na minha cara, me desprezaram legal.

São moradores aqui da favela mesmo, tento evitar o máximo encontrar eles por aí, mal mal saio do beco, saio mais quando a Luria me chama ou preciso correr atrás de grana para usar minha droga.

Pra mim o filho pode estar no erro que for, mas pais, principalmente a mãe, jamais desiste de um filho.

Sei que meu caso é complicado, mas boto fé que eles abriram a mão de mim muito rápido. Parece até que estavam querendo mesmo que eu me afastasse deles sabe, tipo me bota pra rua mesmo.

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HeroínaWhere stories live. Discover now