Cinquenta e Sete

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Luria Narrando.

- No dia que eu sentar nem um guindaste me tira de cima - Falei observando Kennedy descer o morro.

Entrei e fui tomar um banho para acalmar os ânimos, homem gostoso da peste, mas merece um castigo mesmo.

Se eu fosse cardíaca tinha morrido com o que ele aprontou.

Depois de um banho, hidratei minha pele negra maravilhosa, vesti um blusão e me deitei para dormir.

(...)

- Ele tá fazendo de tapete o seu coração, promete pra mim que dessa vez você vai falar não, de mulher pra mulher supera - Cantei dançando enquanto eu varria a casa e esperava o último bolo assar.

Como não tenho televisão nem som, coloquei no celular mesmo e está ótimo. Mas se eu tivesse um som colocaria no último volume, porque sou dessas.

Era umas 15 horas quando sai de casa para vender os bolos. Sol tava forte demais mas a vontade de ganhar o meu é mais forte ainda.

Passei por um beco e olhei de relance, não acreditando no que vi voltei e olhei de novo.

Era Aline, ela estava sentada no chão, com as roupas todas sujas, seu cabelo estava no ombro, ela olhava pra cima, seu olhar era vago.

- Aline? - Me aproximei dela - Mulher porque tu tá aí desse jeito? - Ela me encarou e quando pareceu me reconhecer ficou surpresa.

- Eu virei uma drogada - Falou - Eu joguei tanta praga para você, que ela voltou pra mim. - Abaixou a cabeça e começou a chorar de soluçar.

- Não fica assim Aline, vamos.dar um jeito, calma, eu vou te ajudar, você quer sair dessa?

- É o que eu mais quero. 

- Você está com fome? - Perguntei e ela assentiu com a cabeça - Espera aí, não sai daqui.

Sai do beco andando rápido.

- Ou - Olhei para trás e era Kennedy, parei no lugar esperando ele me alcançar - Colfoi da carreira?

- Daqui a pouco eu te falo, segura aqui pra mim por favor - Ele assentiu e eu entreguei para ele.

Fui lá em casa, peguei uma vasilha, coloquei a comida que eu havia feito, tinha feito janta que dava para o almoço, mas eu faço mais, sem problemas nenhum. Caprichei bem na marmita e voltei para onde ela estava.

- Toma - Entreguei, me sentei ao seu lado e ela abriu e comeu tudo rapidamente.

Me lembrei de quando a fome era tanta que eu nem mastigava a comida.

- Obrigada - Falou.

- Que isso. E sua casa? - Perguntei

- As minhas "amigas" tomaram de conta - Falou fazendo aspas com os dedos.

- Não foi na boca porque? Aline tá dando tua casa de mão beijada cara, herança dos teus pais, para com isso, cadê aquela Aline que não abaixava a cabeça pra ninguém?

- Tudo máscara, na verdade eu sempre fui vazia, solitária - Confessou.

- Vamos ali - Me levantei e puxei ela.

- Aonde? - Perguntou e eu só sai puxando ela, cheguei na boca com ela.

- Pode preparar o forno - Um menor falou quando nos viu, pensou que era treta, no mínimo.

- Não precisa, será que RD pode vir falar comigo? - Perguntei e ele passou um rápido.

- Fica no aguarda que ele já consta aqui.

- Obrigada.

- O que você vai fazer Luria? - Aline perguntou nervosa.

- Relaxa.

Quando RD chegou fiz ela contar tudo pra ele, no final eles tiraram as vagabundas da casa dela e ainda deram um corretivo.

- Quer ser internada? Quer sair dessa vida?  - Perguntei pra ela e ela assentiu com a cabeça - Tem como conseguir uma vaga pra ela? - Olhei para RD que assentiu. Ele chamou um cara pra levar ela.

- Porque você está fazendo isso? Eu só te fiz mal.

- Aline, a gente não paga o mal com o mal. Eu sei o que você está passando e o quão precisamos de ajuda de alguém para sair dessa. - Apertei sua mão e ela sorriu chorando.

Ela me abraçou e começou a soluçar, a abracei de volta com lágrimas os olhos.

- Não vai ser fácil, mas você vai conseguir. Força - Falei e ela assentiu com a cabeça.

- Ou e a casa dela? - RD perguntou.

- Seria uma boa alugar pra ajudar ela quando ela sair né, bom se ela quiser - Sugeri.

- Sim, pode colocar para alugar, por favor - Falou e o menino chegou com moto para levar ela.

- Boa sorte e boa recuperação - Falei e ela assentiu e montou na moto do garoto, ele deu partida e eu me virei para RD - Obrigada.

- Porra, deu aula mermo, é isso ai pô, - Falou e eu sorri, me despedi e fui em busca de Kennedy e dos meus bolos.

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Boa tarde mores.

HeroínaOnde histórias criam vida. Descubra agora