Sete

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(...)

- Eu sei o motivo desses dedos queimados, dessas unhas escuras. - Falou a moça enquanto passava um creme em minhas mãos enquanto meus pés já esfoliados estavam no creme.

- Sabe eu já fui usuária também e não escondo de ninguém, graças a Deus eu consegui sair dessa vida, isso não é vida para ninguém. Mas eu tive que ter um incentivo, que não foi nada bom. - Me contava enquanto tirava minha cutícula. - Ele morreu um dia após de dizer que seu maior sonho era me ver longe dessa vida, eu tive que perder ele para me erguer. Me sinto tão arrependida de não ter aproveitado mais ele.

- Não fica assim não, ele te amava,  o meu já morreu em cima de mim tentando me estuprar - Ela me encarou com os olhos arregalados.  - O motivo de eu sair de casa e ficar sem rumo foi ele, quanto ele tentou fazer isso comigo pela primeira vez. - Ela ficou sem ter o que falar e continuou a pintar minhas unhas.

- Se deixasse crescer ficava com um unhão em? - Falou observando o formato das minhas unhas.

- Sim - Respondi me lembrando do cuidado que eu tinha com as mesmas.

Ela começou a esmaltar e engatamos em uma conversa. Ela era muito simpática.

Me contou que aprendeu a fazer unha na clínica onde ela ficava, até se recuperar e que hoje em dia trabalha em um salão e quando tem evento de ajuda ela sempre se habilita, pois sabe o que é precisar e o quanto a auto estima conta para a recuperação.

- Quer se maquiar? - Perguntou quando terminou a unha. - Eu assenti com a cabeça e ela se levantou pegando sua maleta.

- Mulher bem de leve tá, porque estamos de dia.

- Pode deixar.

Fechei meus olhos e quando ela pediu para eu abrir os olhos avisando que havia terminado.

Eu vi ali outra Luria, uma Luria bonita e bem cuidada, não contive o choro e novamente eu chorei, por ter a oportunidade de me sentir por pelos menos um dia especial.

- Se tu borrar a maquiagem que eu acabei de fazer leva uns tapas em - Disse limpando o canto dos olhos tentando não chorar.

Ela pegou um espelho e colocou na minha frente.

- Olhe para essa linda mulher, olhe para você Luria, eu vivi por muito tempo no mundo das drogas e tenho marcas que jamais serão apagadas. - Apontou para seu rosto cheio de marcas - Olha que rosto, olha que pele, seu coração é enorme menina, acorda, saia dessa vida enquanto é tempo, se você quiser eu vou com você até a clínica é só me procurar no salão da Ingrid que eu vou com você, consiga alguém que pague a internação, se eu tivesse eu pagava mas eu tenho que sustentar minha família junto de meu marido. Você tem que querer, a força de vontade tem que vir de você e você é capaz. - As palavras dela tocaram meu coração, levantaram minha auto estima. Eu só sabia chorar, de felicidade e tristeza ao mesmo tempo.

- Obrigada - Falei secando meu rosto com a costa da mão - Obrigada de coração. Ela é minha amiga - Falei assim que percebi a presença de Nina ao meu lado - Nós duas vamos sair dessa juntas - A abracei de lado e ela passou a mão sobre meu rosto novamente enquanto lágrimas desciam - Em breve estaremos pedindo para você nos levar na clínica. - Falei e ela nos abraçou. 

- Guardem essa frase com vocês. " Deus nunca coloca barreiras em seu caminho se você não for capaz de derrubá-las. "

Assentimos e logo fomos dar uma volta pela praça. Passamos pela doação de roupas e pegamos algumas peças, comemos algodão doce e pipoca, estávamos nos sentindo.

Assistimos o show de pagode ao final da tarde em um cantinho, aproveitamos para dançar e nos divertirmos um pouco.

Não parecíamos duas dependentes de drogas, não parecíamos duas sem teto, duas mulheres que passam fome, que usam roupas doadas, que se jogam no lixo para não morrer de bala perdida.

Parecíamos apenas duas amigas que tiramos o sábado para curtir. Mas infelizmente

Nesse dia não foi preciso droga, nós já estávamos extaziadas pela felicidade.

É disso que o mundo precisa, empatia.

Menos julgamento e mais amor ao próximo, independente do seu modo de viver.

Quando você aponta um dedo para julgar esquece que tem quatro apontados para si. A vida é uma só e curta demais para viver julgando.

Faça o bem porque o mundo vai mal.

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O próximo capítulo vai depender de vocês.
RESPONDAM:

Querem que elas saiam dessa vida? Se sim. Logo ou devem sofrer mais um pouco?

Alguém deve ajudá-las ou elas saem por si só?

Me dêem sugestões para os próximos capítulos.

Um bom final de semana.





HeroínaWhere stories live. Discover now