The Mansion

quatro

"eventualmente almas gêmeas se encontram, pois elas têm o mesmo esconderijo" - robert brault

Os ouvidos que antes zumbiam com a música agora não registravam som algum. O mundo que antes girava agora estava totalmente parado, como as ondas de um mar que se acalmam antes da inevitável tempestade.

A troca de olhares que durou apenas alguns segundos na cabeça de Harry aparentemente se estendeu por mais algum tempo, já que o rosto cristalino que o olhava de volta passou a expressar confusão, arqueando as sobrancelhas. 

Com as mãos nos bolsos o estranho andou em direção àquele que o encarava até chegar a alguns passos de distância.

- Gosta do que vê? - o estranho disse com certa malícia e um sorriso de canto de boca.

Harry analisou cada parte da feição daquele em sua frente. Como a franja estava penteada pra esquerda, a barba por fazer, o nariz pequeno pro rosto e os lábios desenhados, mas, principalmente, a forma como, mesmo debaixo das densas luzes vermelhas, os olhos ainda reluziam um azul intenso.

- Oi! Cara! Você tá bem? - aumentou a voz e colocou a mão no ombro de Harry

Aquele toque foi como um estalo numa sessão de hipnose, voltando-o para a realidade.

- Ah! Sim, sim, estou bem - emitiu palavras enroladas e esfregou os olhos, talvez a fim de saber se a nitidez do rosto a sua frente acabaria

- Se divertiu bastante hoje, ein? - gargalhou de forma presunçosa

Harry não saberia dizer o porquê aquele estranho lhe chamou tanta atenção, mas se conseguia enxergá-lo totalmente, achava que no mínimo deveria investigar mais sobre aquele rapaz.

- Sim, me diverti bastante! Me diverti tanto que tirei minha jaqueta aqui mesmo e a joguei no chão - exprimiu apontando para a peça

No mesmo instante o rapaz olhou para a jaqueta, arregalou os olhos e começou a abaixar o zíper.

- Nossa cara, foi mal! Estava largada ali há tanto tempo que não pensei que alguém voltaria por ela, mas toma aqui... - foi interrompido antes que pudesse terminar

- Não não, não precisa, ela ficou muito melhor em você de qualquer forma - ele riu, analisando o caimento da peça nos ombros do menor

A expressão do estranho se iluminou enquanto abria um grande sorriso. Harry não conseguia tirar os olhos dele.

- Woah! Sério? Nem acredito nisso, muito obrigada mesmo! Posso te pagar um drink de agradecimento?

- Claro! - sua feição era séria apesar de achar que estava sendo bastante simpático

- Ótimo, ótimo, o que você está bebendo? - o menor foi em direção ao bar, o puxando pelo braço

- Spritz de absinto - a fala ainda estava enrolada

- Caralho! Você costuma sempre tomar bebidas pesadas assim ou hoje é um dia especial? - gargalhou enquanto sinalizava para o bartender

Harry o olhou por alguns segundos, pensando no que dizer, até que abriu um leve sorriso de canto de boca.

- Pode-se dizer que hoje é um dia... fora do comum - disse ainda olhando fixo para o estranho, notando o quanto a jaqueta de seda parecia dois números maiores no corpo dele

- Extraordinário, então? É por isso que está especialmente generoso hoje, dando peças de roupas caras à estranhos? - se virou para o ator, ainda rindo

- Não, a jaqueta só ficou muito bem em você, e eu tenho outras, não vai me fazer falta - Harry não conseguia perceber que soava pretensioso demais

- Ah, estou na presença do todo-poderoso então, com closets e mais closets de jaquetas! - falou debochado

Antes que Harry pudesse responder a provocação, o menor pediu o drink ao garçom.

- Por minha conta Tony, valeu? - deu um joinha com a mão

Assim que Harry agradeceu o drink, pôde ouvir alguém chamando o nome "Louis", fazendo com que o menor prontamente se despedisse.

- De novo, muito obrigada pela jaqueta! - colocou a mão no peito como modo de agradecer - A gente se vê por aí - sorriu e piscou para o ator antes de se virar para ir embora

- Ahhh, espere... - estendeu o braço para pará-lo mas foi tarde demais, o menor já havia desaparecido na multidão

Aquela interação foi tão rápida que Styles ainda piscava lentamente, tentando compreender o que havia acontecido, embora estivesse bêbado demais para isso. Pegou o copo de Spritz em sua frente e deu outro gole, pensando o quanto acordaria mal no dia seguinte, mas não se importou, decidiu que aquele drink de graça seria a cereja no bolo de uma noite... extraordinária, como disse o menor. 

Só conseguia pensar no líquido gelado descendo sua garganta quando sentiu o celular vibrar.

Arregalou os olhos quando viu as horas e prontamente levantou da cadeira em direção à saída. 

Lembrou que seu motorista já estava dormindo e não queria perturbá-lo, afinal, nunca o havia requisitado essa hora da manhã, e não poderia contar com Z para buscá-lo considerando que o amigo fora embora muito mais cedo.

Sabia que Elle estava acordada pelo número de mensagens que estava mandando. Não queria pedir a ela, mas sabia que era sua única opção.