The Mansion

oitenta

"eu quero te encontrar em todos os lugares que já amei. escute-me, eu sou seu eco. eu prefiro quebrar o mundo do que perder você" - amal el-mohtar

Harry foi consumido por um frio na barriga como se estivesse naquele momento quando o carrinho despenca no primeiro loop de uma montanha-russa. Sinceramente, Louis sentiu absolutamente a mesma coisa. 

Eles haviam chegado no ponto sem retorno e eles sabiam disso. O que foi dito jamais poderia ser não-dito, as palavras jamais poderiam ser engolidas de volta e agora flutuavam pelo cômodo como uma verdade pesada e cristalina, que não poderia mais ser ignorada. 

Harry arregalou levemente os olhos e engoliu o pedaço de banana mal mastigado.

- Mas você já sabia disso - Louis continuou sem hesitar

Louis havia percebido nas primeiras palavras que Harry achava que ele não estava ouvindo já que era algo que o maior nunca falaria. Então só ficou ali, imóvel, escutando o que parecia uma página do diário de Harry, tão íntimo e pessoal que não deveria ser lido, o que o fez se sentir quase como um intruso olhando pela fresta de uma porta. 

Mas, com cada nova palavra, a mente de Louis se preenchia com estática de televisão; confusa e barulhenta, que atingiu o ápice quando escutou as três palavras: eu te amo.

Se Harry tivesse dito tudo aquilo quando chegou no quarto de hotel, Louis certamente não teria acreditado. Teria achado manipulativo e desesperado e teria sentido nojo do ator e o mandaria embora imediatamente. 

Mas justamente por ter sido dito como uma oração em uma igreja vazia, Louis não teve dúvida de que aquilo era o que Harry realmente sentia. Era provavelmente a única situação que Louis acreditaria, na verdade. 

Então, naquele momento em que o segredo havia sido desvendado, Louis teve certeza de que sempre o amou e sempre o amaria.

Harry, por sua vez, não conseguiria dizer tudo aquilo de outra forma. Se abrir sem achar que haveria uma resposta ou uma consequência era preferível do que falar olhando nos olhos azuis. 

Era a forma covarde de se declarar, o que também fazia mais o estilo de Harry.

A única forma que Harry falaria e a única forma que Louis acreditaria. Acho que eles eram mesmo perfeitos um para o outro, afinal.

- Acho que eu esperava que você não amasse - o ator desviou o olhar - E que eu não te amasse também.

Louis sentiu como se tivesse espetado o dedo em um espinho.

- Por quê? - os olhos azuis piscaram rapidamente

- Você sabe por que - mexeu com o anel no dedo - O que eu disse ontem, eu... tá tudo errado, eu sou todo errado.

Louis levantou da cadeira elevada e andou até Harry.

- As coisas não precisam ser assim - se agachou

- Mas as coisas sempre foram assim - a voz do maior saiu falhada - Todo mundo sempre vai embor...

- Você nem deu chance de elas ficarem! Você acha que se deixar alguém te conhecer de verdade ela vai acabar vendo uma coisa feia... mas a única pessoa que vê isso é você! Claro, você não é a pessoa mais fácil do mundo, mas quem é? Todo mundo tem que conviver com traumas o tempo todo e eu duvido que exista alguém realmente saudável, mas tá todo mundo fazendo o melhor que consegue.

O menor pegou na mão fina de Harry, a sentindo gelada, e os dois se encararam enquanto o maior soltava um suspiro, ainda incerto.

- Mas... - Harry engoliu seco - Olha o que a gente já fez um com o outro.