trinta

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"e eu nunca tive certeza se você era o farol me guiando para segurança ou a própria tempestade afundando meu navio" - david jones

- FODA-SE, EU VOU SOZINHO - olhou com indignação e começou a bater os dedos na tela do celular para chamar um Uber

- Não, eu... - hesitou um segundo - Eu dirijo - pegou as chaves no bolso

O de cabelos cor de mel gesticulou como se falasse "finalmente" e correu para o lado direito do carro. Os passos lentos e quase sem rumo do maior irritavam cada vez mais, como se ele estivesse fazendo de propósito. 

O ator parou em frente ao lado do motorista e observou por alguns segundos suas mãos trêmulas quando as ergueu para abrir a porta. 

Antes que Payne pudesse expressar toda a frustração daquela cena, viu o ator franzir a testa e apertar os olhos.

- Na verdade, você pode dirigir?

Há essa altura, não existia uma gota de empatia no corpo e só conseguia pensar que Harry estava dificultando as coisas.

- CARALHO, SIM - bateu no teto da Mercedes - SÓ VAMOS EMBORA POR FAVOR

Deu a volta e tomou as chaves da mão do ator, que titubeou até finalmente entrar no banco do passageiro. 

Sentar no banco que o acompanhante estava sentado há poucos minutos atrás e sentir o cheiro que ainda pairava de maconha e chocolate trouxe um sentimento ainda pior no do de olhos verdes; mas conseguiu o ignorar completamente, pelo menos durante aquele relativamente curto percurso até a delegacia, já que Liam passou o trajeto todo falando sem parar sobre alguma coisa que muito provavelmente era sobre sua irresponsabilidade, mas não estava prestando atenção. 

A voz do amigo de Louis Tomlinson entrava e saía pelos ouvidos de forma tão ininterrupta quanto a correnteza de um riacho, pois sua mente estava vazia.

Ele sabia o que tudo aquilo significava e sabia que teria que pensar sobre o que estava bem ali no fundo de sua mente, sendo comprimido sob o peso do vazio, mas, mesmo assim, ali agora ele só queria ser tomado pelo cheiro do carro e o esplendor da paisagem montanhosa e cheia de palmeiras. 

Talvez honrar o que ele sabia ter sido um bom momento, honrar as pessoas que os dois foram ali. 

Deitou a cabeça no apoio do banco e quase dormiu com a pequena brisa que entrava pela fresta da janela acariciando suas bochechas.

Com a delegacia se aproximando, só conseguiu cerrar os punhos de ansiedade e se afundar no couro do banco, já com medo de ser reconhecido. 

Payne estacionou o carro de qualquer jeito no final da quadra e rapidamente tirou as chaves da ignição.

- Você vem? - questionou assim que não percebeu nenhuma movimentação pela parte de Styles

- Não - se afundou mais ainda no banco, olhando para os pés - Eu não posso, alguém pode... sei lá... eu espero vocês aqui no carro

- ELE TÁ AQUI POR SUA CAUSA, ESPERO QUE VOCÊ SAIBA DISSO - apertou firme o volante antes de sair bruscamente do carro e bater a porta

Ele sabia. Melhor que ninguém.

Delegacias não eram um lugar desconhecido para Liam Payne. 

Os ladrilhos cinzas estavam mal cuidados, as paredes com infiltração, o cheiro nauseante de suor misturado com café que era feito fresco a cada hora e as luzes fluorescentes que piscavam por sempre estarem com defeito o causavam dores de cabeça. 

Era um lugar deprimente e ele só queria tirar o amigo dali. Disse o nome do amigo no balcão - onde se encontravam duas caixas de rosquinhas açucaradas - e que vinha buscá-lo, mas foi informado que, pelos dois crimes registrados em sua ficha, ele teria que passar a noite na cela, mas poderia ser liberado de manhã se a fiança fosse paga.

The MansionWhere stories live. Discover now