setenta e seis

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"não estou acostumado a ser amado. eu não saberia o que fazer" - f scott fitzgerald

Tomlinson não sabia em qual sentimento focar primeiro, já que parecia que cada um puxava um membro diferente de seu corpo, esticando-o dolorosamente até que tudo que podia fazer era esperar ser completamente desmembrado. 

O ciúme puxava mais forte que todos os outros, mesmo sabendo que não tinha o direito algum de senti-lo, mas também existiam a traição, a raiva, o choque, a preocupação... talvez Louis realmente fosse partir no meio; pelo menos foi o que ele pensou. 

Ainda tentando articular tudo que passou por sua cabeça, Louis sentiu medo. Medo de estar perdendo aquele que segurava seu coração com tanta firmeza, ou até de tê-lo perdido exatamente naquele momento. Talvez o pequeno rapaz de Doncaster já não fosse o suficiente para o grande ator de Hollywood. 

Talvez essa era a forma de Harry pegar de volta a chave que havia entregado tão desesperadamente para Louis, afinal, por quê mais ele o chamaria até ali para vê-lo roçando os lábios molhados de uísque na nuca de um estranho se Harry não quisesse apanhá-la de volta de suas mãos? Ele não poderia ser tão cruel assim... poderia?

Ainda mais considerando que há dois dias atrás os dois estavam naquele mesmo hotel, alguns andares acima, entrelaçados na cama depois de Louis ter se entregado por completo para Harry pela primeira vez. Por que ele estragaria o que para Louis tinha sido a noite mais especial de sua vida? Em seus plenos 25 - quase 26 - anos, a dor que Louis sentia mais parecia de um adolescente confuso com as emoções à flor da pele do que de um adulto.

Ficou ali paralisado pelo que pareceram horas quando escutou uma voz distante e distorcida falando alguma coisa, mas só conseguiu voltar a si e prestar atenção na última palavra. "Convencido?", foi a única coisa que Louis conseguiu ouvir, e quando se virou, viu a modelo que agora parecia ainda mais ameaçadora com sapatos que a tornavam quinze centímetros mais alta do que já era. 

Ela segurava uma taça de vinho branco e esboçava uma mínima curva no canto direito da boca que Louis identificou como um sorriso astuto.

- O que você fez com ele? - fechou o punho, sentindo a raiva aflorar - Se você fez alguma coisa eu juro por...

- Eu? - a loira esboçou surpresa mas soltou uma risada como se estivesse genuinamente ofendida pela pergunta - Ele tem uma recaída e eu sou a culpada?

- Não duvido nada que foi você quem colocou aquele copo na mão dele - cerrou as sobrancelhas

- Ele tá bebendo tem dois dias, eu nem tava aqui! Mas claro, coloca a culpa em mim se isso te faz sentir melhor

Dois dias. "Logo depois de...", ele pensou. Se antes os sentimentos o puxavam numa lentidão torturante, agora a tristeza, em um único puxão, parecia ter deslocado todos os ossos do pulso e Louis quase chorou de dor. Harry parecia ter entendido o quanto aquele momento foi especial, o quanto Louis queria que Harry fosse o seu primeiro. Por que então logo depois ele voltaria a beber? Por que Harry teria mandado uma mensagem o assegurando que logo estariam juntos assistindo TV se ele na verdade estava fazendo Deus sabe o que - Louis preferiu não pensar nisso - enquanto estava bêbado, ou drogado, ou os dois?

- Quer saber? Foda-se, eu não quero brigar agora - parecia derrotado - Você não tá preocupada?

- Eu tô sempre preocupada com ele - o tom de voz da modelo ficou sério

- Então a gente tem que fazer alguma coisa!

- Você quer ir lá e gentilmente explicar pra ele porque você acha que ele tem que ir pra clínica? Por que eu já fiz isso, mais vezes do que eu posso contar

The MansionWhere stories live. Discover now