trinta e oito

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"eles nos chamam de sonhadoresmas nós somos aqueles que nunca dormem" - loulou d'aki

As interações desajeitadas continuaram acontecendo nas primeiras semanas. Liam chegava todas as vezes com uma fornada quentinha de qualquer guloseima que ele havia passado a madrugada inteira fazendo - as reuniões costumavam ser de manhã - na esperança de ao menos receber um elogio sobre sua comida, mas Zayn nunca o fez. 

Na verdade, a única vez que comeu alguma coisa foi quando o acompanhante trouxe muffins de mirtilo. Estavam deliciosos, fofinhos, macios e com um gosto distinto de manteiga e canela, além dos mirtilos azulados que eram o que ele mais gostava. 

Até pensou sobre o quão absurdamente bons eles eram, mas como chegou com eles já dispostos no centro da mesa em uma bandeja de madeira quadrada imaginou que, como todas as outras guloseimas que estavam sempre dispostas do mesmo jeito, eram servidas pelo próprio escritório do advogado, então provavelmente tinham sido compradas em alguma padaria famosa nos arredores do bairro.

Mas o pequeno sorriso de Malik seguido por sobrancelhas erguidas depois de dar a primeira mordida no muffin foi o suficiente - não exatamente o que ele queria, mas suficiente - para que ele ficasse feliz pensando "ele gostou dos meus muffins!" e com isso planejar obsessivamente outras receitas que tinham mirtilos já que parecia gostar deles. 

Isso o fez ter que esconder a feição que agora estava iluminada e cheia de sorrisinhos, diferentes das outras vezes que o moreno nem tocava nas comidas que trazia, o que deixava Liam frustrado achando que não pareciam bonitas ou apetitosas o bastante e ele deveria melhorar nisso.

Não é como se ele realmente achasse que cozinhava mal. Sabia que havia passado os últimos anos se esforçando ao máximo para aprender e aprimorar receitas e sabia que agora estava em um nível onde quase tudo que fazia era delicioso, mas não é bem assim que sua mente funciona quando se é inseguro. 

Mesmo com todas as provas racionais de que ele era um bom cozinheiro, ele ainda baseava suas habilidades nas opiniões de outras pessoas, na verdade não só as habilidades culinárias e sim todas as outras coisas sobre ele. 

Ele precisava de confirmação dos outros para ficar em paz. 

Ele não pertencia a si mesmo, pertencia aos outros. 

Bastava um comentário ruim que ele pensava em desistir do grande sonho de cursar gastronomia. Mas assim como uma crítica o deixava triste, um elogio fazia seu dia, tornando então esse constante "efeito-sanfona" de humor algo difícil de lidar.

Liam Payne havia crescido com pais muito rígidos e que esperavam muito dele, sempre falando do quanto ele tinha potencial e que se esforçasse poderia conseguir tudo que quisesse. Mesmo achando que estava com roupas bonitas ou que tinha tirado boas notas na escola, os pais sempre davam um jeito de criticá-lo fazendo-o duvidar de tudo que pensava sobre si. 

Portanto só conseguia o afeto deles quando supria as expectativas impostas, como se afeto fosse uma moeda de troca, o que o condicionou a achar que, na vida, só receberia carinho e amor quando fosse perfeito. 

Ele só valeria alguma coisa se ele fosse exatamente quem os outros queriam que ele fosse, e, portanto, queria sempre impressionar e queria sempre essa atenção que frequentemente confundia com amor.

Por isso, mesmo um mero sorriso de Z era importante para ele. Isso o fez tentar conversar com ele novamente depois de uma manhã repleta de documentos, prazos e assinaturas. 

Ele realmente queria conhecê-lo, ouvir sua voz e o que ele estava pensando - que era sempre uma incógnita para o acompanhante. 

A cada dia ficava mais intrigado com o fato de ele parecer tão misterioso mas ao mesmo tempo ter sido tão vulnerável com ele no passado. Não fazia sentido, alguma dessas duas personas devia ser a errada e ele queria descobrir qual era. 

The MansionWhere stories live. Discover now