noventa

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"o fim começa agora" - joanna newsom

Uma descarga de adrenalina pulsou pelo sangue de Harry assim que desligou o telefone. Se sentiu rebelde, imbatível, invencível. Puxou o ar de uma vez e passou as mãos nos cabelos enquanto soltava, como se estivesse prestes a pular de um avião com um paraquedas nas costas.

Prontamente falou com Niall para arranjar o voo de Louis e, apesar da súplica do irlandês para que não fosse contra Simon, Harry disse que o encontro seria rápido e que planejaria cuidadosamente para que ninguém os visse. Harry parecia estranhamente confiante e feliz, uma mudança dos últimos meses que estava totalmente miserável, e Niall resolveu concordar com o plano.

Nas próximas horas, Harry se portou com um ar agitado e alegre, como se soubesse de um segredo que ninguém mais sabia, o que, francamente, não alarmou muito Simon e a equipe, que estavam acostumados com suas várias reações a drogas estimulantes que o deixavam exatamente daquela forma, e ficaram até contentes, com Cowell achando que finalmente o ator estava esquecendo tudo que havia passado e voltando a ser sua obediente super estrela.

Infelizmente, como tudo que sobe tem que descer, a empolgação da decisão impulsiva foi se diluindo, dando lugar para a incerteza. Era inevitável, certamente, que houvesse algo o puxando para trás. Medo. Medo o dominava completamente. Não era perceptível para ele, mas desde que entrara naquela vida, ele tinha medo. Medo de falhar, fazer algo errado, se envergonhar, decepcionar a família, perder o que havia conquistado... mas quando se tem uma equipe extensa dedicada a te proteger de tudo, a vida de um covarde fica muito mais fácil. 

Haviam poucas decisões a se tomar e, mesmo se tomasse as erradas, sua imagem permaneceria intocada. Tudo de errado ou ruim ficaria guardado em um lugar diferente, longe de quaisquer olhares curiosos, e ele continuaria perfeitamente perfeito. Era fácil demais. 

Custava uma alma, mas era fácil demais

Harry tinha mais fé nas engrenagens bem lubrificadas de Hollywood do que em si mesmo.

Não poderia culpar só a si por isso, no entanto. Todos ao seu redor eram igualmente pagãos, já descrentes da ideia de que Harry poderia ser mais do que já era. Louis era o único que acreditava que Harry era capaz de superar a velha e amarga carcaça para ser quem ele tinha certeza que Harry era: doce, brincalhão e amoroso. Mas é difícil acreditar em uma só pessoa, e é ainda mais difícil acreditar nas coisas boas sobre nós mesmos. 

As coisas ruins são mais pesadas, mais palpáveis... mais reais; elas esgueiram pelos nossos sentidos e tomam posse da nossa mente, se reproduzindo e se fortalecendo até que estrangulam a nossa última fagulha de amor próprio.

Era de fato a decisão mais difícil que Harry teria que tomar.

Três dias depois, Harry estava diante do pequeno avião particular recém pousado, esperando ansiosamente a figura de olhos azuis descer as escadas estreitas e prontamente aquietar seu coração.

Diferentemente do ator, assim que vislumbrou Harry lá parado, o coração se libertou de suas amarras e bateu o mais rápido que conseguiu. Era injusto que toda a dor que sofresse resultasse em apenas um encontro rápido como recompensa, mas assim que chegava cada vez mais perto de Harry, a dor era a última coisa de sua mente. 

Louis abriu um sorriso, mas antes que dissesse alguma coisa, Harry o enrolou em seus braços e o beijou como se quisesse expurgar água de seus pulmões.

- Senti sua falta - Harry ainda segurava o rosto de Louis próximo ao seu

- Não sei se esse beijo compensou esses últimos meses, sabe? Poderia ter sido mais long...

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