The Mansion

cinquenta e sete

"eu mesmo sou feito inteiramente de falhas, costurado junto de boas intenções" - augusten burroughs

Os dias seguiram na mesma configuração, porém algo no moreno tinha mudado. De forma mais sutil desde o dia da briga com o amigo de longa data mas progressivamente mais consciente depois. 

A fala de Liam e de Harry ficou ruminando em sua cabeça, fazendo sentido só quando estava sentado em pé de frente a um espelho enorme, em um estúdio iluminado por janelas que deixavam toda a luz solar do início da manhã entrar. 

Zayn conversava com o estilista que trabalhava com ele há no mínimo dois anos, discutindo sobre conceitos de roupas e olhando para vários recortes de revistas e fotos que compunham o moodboard do processo de criação dos looks casuais e de eventos para as próximas semanas. 

Tendo se divertido bastante com aquilo tudo, Malik pensou em convidar Stevie para almoçar em um restaurante perto do estúdio que ele ouviu ter um ótimo prato de frutos do mar, só que quando o estilista respondeu que adoraria ir mas passaria o prato pois como judeu não poderia comer mariscos, os olhos cor de avelã arregalaram.

Provavelmente não era uma informação alarmante, mas, naquele momento, era para o ator. Em dois anos que via o rapaz frequentemente - inclusive saído para comer com ele inúmeras vezes - ele não sabia de sua religião? O assunto até hoje não havia surgido? Era uma grande parte da vida de alguém, ainda mais a cultura judaica, que parecida com a muçulmana, é muito rica. 

Talvez Stevie tivesse contado ou ao menos comentado sobre algumas vezes - ou várias - e ele não tinha prestado atenção. Quem sabe até tenha notado alguma vez mas não achou importante guardar a informação. Qualquer uma dessas possibilidades pode ter acontecido, porém nenhuma delas seria relevante há alguns meses atrás. Era relevante agora. 

Será que realmente havia se perdido em si mesmo? Como se ele fosse a única pessoa importante no mundo? Pensou que provavelmente quando começou a modelar e ganhar certa fama, gostou tanto da atenção e dos elogios que pode ter subido demais à cabeça.

Mas quem não quer ser mimado? Quem não quer acreditar que vale alguma coisa? Que é especial, único, diferente? Era mais sobre querer carinho do que vaidade. Pelo menos no início. Agora, já não sabia mais. 

 Talvez tudo que alguém queira é ser amado, e tanto com Zayn ou Harry ou Louis ou Liam ou Niall ou Elle não poderia ser diferente. No entanto, você precisa dar amor para recebê-lo de volta. Precisa estar disposto a se despir emocionalmente em frente de alguém e dizer "Aqui estou, este sou eu". 

A ideia parecia cada vez mais natural na cabeça do moreno, que agora poderia ver com um pouco mais de clareza o caminho que deveria seguir.

Se permitiu ser vulnerável no almoço com o estilista e se surpreendeu por ter realmente se divertido. Foi um dia bom, o mais leve que teve nos últimos tempos. Decidiu realmente se engajar com as pessoas à sua volta mesmo que de cara parecessem chatas ou entediantes e conseguiu sempre tirar algo proveitoso das interações. 

Não é que agora ele era o rei da empatia, ou que instantaneamente fosse uma boa pessoa. Ele com certeza agora podia reconhecer melhor pessoas que ele gostava ou odiava, só porque agora ele realmente estava ali presente, ouvindo e atento o máximo que conseguia. 

E era um exercício diário, tinha dias que estava mais cansado e preferia passar pelas horas totalmente desconectado do mundo à sua volta, mas quando isso acontecia em pouco tempo tudo que havia acontecido ecoava em sua mente e ele voltava seu foco.

Esse tempo denotou, no entanto, o quanto as relações que ele tinha - mesmo que soubesse que eram superficiais - o deixavam vazio. Vai ver o medo de ficar sozinho batia na porta. Vai ver sempre tinha batido e ele não se conectasse verdadeiramente com as pessoas de propósito, porque talvez no fundo ele só fosse um garotinho inseguro.