sessenta e nove

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"ela perguntou "você está apaixonado, como é o amor?" ao que eu respondi "como se tudo que eu já perdi voltasse para mim"" - nayyirah waheed

Ver as cicatrizes cintilando pela pele foi a primeira vez que Louis viu beleza em seu próprio corpo. Os riscos dourados se assemelhavam às listras na pelagem de um grande tigre, e isso por si só era lindo, mas saber que Harry as tinha pintado é que fez as lágrimas acumuladas caírem lentamente, atravessando um pequeno e silencioso sorriso. 

Ele, que sempre teve medo de que as marcas de sua dor fossem notadas, havia sido confrontado com a realidade de que alguém as percebeu mas não reagiu com nojo ou pena, e sim com apreciação. Não era uma parte dele que ele deveria se envergonhar ou esconder, mas uma parte que o tornava quem ele é hoje. E, para Styles, o que ele era hoje era digno de celebração. Se o acompanhante passou a vida toda nas partes escuras, alguém havia finalmente aberto as cortinas e deixado o sol entrar. 

E foi ali, sentindo a claridade queimar sua pele, é que Tomlinson soube aquilo que tentou evitar por boa parte de um ano: estava apaixonado.

Vagou pela extensa mansão à procura do de olhos verdes sem sucesso, mas ainda sem saber exatamente o que diria à ele caso o encontrasse. Certamente não existiriam palavras para expressar o que aquela tinta dourada significou para ele e certamente não poderia compartilhar o que estava sentindo. 

Falar para Harry estragaria tudo, o menor pensou, e de que adiantaria? Não é como se um ator e um prostituto pudessem ser felizes para sempre. Mesmo que o ator amasse o prostituto de volta, jamais poderiam andar abertamente de mãos dadas na rua cercada de câmeras. Entre uma boneca sorridente à espera de ser mãe e um prostituto, Harry jamais o escolheria. Jamais poderia escolhê-lo. 

E se por enquanto ele poderia tê-lo, poderia vê-lo e tocá-lo todo dia, poderia assistir TV com ele e dividir saladas, seria insano se não quisesse que tudo permanecesse exatamente como estava.

Comeu algumas frutas que achou pela cozinha e tentou se manter ocupado pelas próximas horas, sem nem ao menos querer tomar banho para que a tinta não saísse. Não ainda. Louis havia decidido viver como um tigre, ao menos por hoje. 

O sentimento de antecipação também foi experienciado pelo cacheado, que passou o dia fantasiando sobre o momento que o menor acordaria e veria sua obra de arte. Simon tentou fazê-lo filmar um filme em Portland, o que o ator firmemente recusou, mas chegaram em um acordo para um filme que seria filmado majoritariamente em um estúdio na cidade e que o de olhos verdes poderia filmar em poucos dias. 

Chegando em casa, procurou timidamente pelo menor, também incerto como reagiria, até que seguiu em direção a alguns barulhos de papéis, o fazendo entrar em seu escritório, que era mais uma biblioteca do que um local de trabalho.

Deu de cara com o acompanhante em pé folheando as páginas de um livro e notou as pequenas marcas ainda cintilantes em seus braços, mas, antes que pudesse ao menos cumprimentá-lo, os olhos azuis o fitaram e pôde ouvir o pesado livro caindo no chão antes de sentir as mãos do menor enrolando em sua nuca puxando-o para um beijo que estalou como uma supernova quando os lábios se tocaram.

Louis ensaiou o que diria quando ele chegasse em casa, mas assim que viu aquela figura que segurava seu coração nos dedos, não conseguiu fazer outra coisa se não beijá-lo. Foi um beijo desesperado como há tempos não era, mas só porque a paixão tinha sido acumulada tão lentamente desde que o conhecera que agora podia enfim explodir. 

Se o de olhos azuis não poderia dizer que tinha se apaixonado por ele, então talvez aquele beijo bastasse. 

Entrelaçaram as línguas enquanto o maior removeu sua camisa e em seguida a regata de Tomlinson, cravando os anéis por suas costas e guiando-o para a larga mesa de mogno no fundo da sala, onde estavam dispersos os scripts que estava lendo, folhas de anotações e storyboards, além de pequenos souvenirs que ganhara de fãs, todos sacudidos quando Harry pressionou o menor contra a lateral da mesa. 

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