noventa e um

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"mas se esses anos me ensinaram alguma coisa, é isso: você nunca pode fugir. nunca. a única saída é enfrentar" - junot diaz

O vidro da garrafa de champanhe estava fosco quando Payne a tirou da geladeira, de prontidão para a eventual comemoração.

- Já tá na parte boa? - Liam andou até o sofá

- Essa mulher enrola demais, puta merda! - Louis balançou a cabeça - A gente já sabe que ele é incrível, anda logo! - gesticulou com as mãos

- Eles precisam enrolar pra ter mais audiência quando o Harry falar mesmo - Zayn passou a mão na barba

- Faz sentido - Liam esticou o braço com a champanhe em direção a Louis

- Mas já tá demais, que saco - Louis se virou para pegar a garrafa

- Aí ó, começou, começou! - Zayn calou os dois

Louis sentiu o frio da garrafa se espalhar pela mão assim que ouviu a entrevistadora fazer a primeira menção do escândalo. A câmera permaneceu no rosto de Harry por bastante tempo enquanto ele ouvia a mulher dizer o roteiro ensaiado.

Zayn notou o quanto Harry parecia doente, mesmo sabendo com quase certeza todo o esforço para não fazê-lo parecer assim - pelo menos não na câmera - mas não apontou esse fato em voz alta. Sabia que era o momento mais estressante da vida de Harry, seria estranho se ele estivesse calmo. Ainda assim, Zayn estudava o rosto de Harry toda vez que ele aparecia. 

Liam estava entre Zayn e Louis no sofá, sentindo em sua perna esquerda a mão do moreno apertando em seu joelho e vendo Louis silenciosamente roer suas unhas à sua direita.

 Ver o rosto do homem com quem passou os últimos anos amando em uma televisão era uma experiência que beirava o surrealismo. Louis já tinha visto um ou outro filme de Harry - o que o mesmo aconselhava contra já que detestava assistir os próprios filmes devido a vergonha ou insegurança - mas assistiu antes de conhecê-lo. Lottie foi quem provavelmente o mostrou um deles, Louis pensou. 

Era então, estranho demais vê-lo ali, naquela tela saturada de cores, tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Há poucas horas estava o segurando nos braços, e agora ele estava cuidadosamente arrumado, elegante e contido, diante de milhões de pessoas esperando que ele fale, e de repente Harry não parecia mais seu. Louis estava o dividindo com milhões de outros olhos, olhos famintos por um pedaço de Harry Styles. 

Talvez não fosse tão saudável, afinal, querer que os seus olhos fossem os únicos que pudessem vê-lo.


Agora era a hora. A cabeça de Harry estava girando e sentiu as extremidades congelando, como se todo o sangue de seu corpo estivesse concentrado em seu coração. O fortalecendo ou o protegendo, não havia como saber. Agora era a hora, e a lente parecia estar cada vez mais perto, pronto para devorá-lo. 

Porra, ele estava com tanto medo. O que exatamente aconteceria depois que ele fizesse isso? Não sabia nem se conseguiria sair do estúdio, poderia imaginar o cardume de pessoas que apareceriam, perguntando coisas que Harry não saberia responder. 

Ele ao menos teria um carro quando saísse? Uma equipe? Simon provavelmente acionaria seu advogado no mesmo instante para jogar um processo colossal em suas costas, o enterrando em dívidas legais que ele teria que pagar. Seus fãs se virariam contra ele e ele jamais teria uma carreira de novo. 

Seria condenado ao ostracismo, odiado por ter deixado uma carreira invejável e um relacionamento com a queridinha da América por um ninguém, eles diriam, e ninguém em sã consciência acharia que teria valido a pena. Mas eles não conheciam Louis Tomlinson.

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