trinta e seis

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"alguns passos precisam ser dados sozinhos. é a única forma de descobrir aonde você precisa ir e quem você precisa ser" - mandy hale

A raiva, que muitos descrevem como amarga, na verdade veio azeda naquela hora. A boca encheu com um gosto que Louis só poderia descrever como parecendo ser de um copo inteiro de vinagre. 

O ácido que descia da ponta da língua até o final da garganta. 

Ele realmente achava que aquele dia sentado em sua cela seria o pico da raiva contra o ator, mas estava enganado. 

"Como diabos esse filho da puta fez tudo isso comigo e está Deus sabe onde vivendo os melhores dias da porra da vida dele? Como é que eu tô aqui, quase sendo preso e esse bastardo tá bebendo drinks à beira do mar?" ele nem conseguia mais formular os pensamentos direito, estava cego. 

Desligou o celular e, numa tentativa fútil de acabar com o gosto ruim da boca, cuspiu na pia. O gosto não passou. Pegou água na geladeira, bochechou e cuspiu de novo. Não passou. 

Colocou as mãos entre a cabeça e apertou os olhos, ele não podia acreditar que aquilo era a sua vida.

A cabeça estava girando ao imaginar as festas, os risos ao redor da piscina, todas aquelas pessoas importantes e ricas o cumprimentando, cada flash de câmera e cada... cada pessoa que ele transou. Esse foi o pensamento devastador que acabou de vez com qualquer tipo de sentimento pelo ator que não fosse raiva. 

Imaginou os cachos suados, os olhos verdes dilatados, os lábios inchados e as bochechas avermelhadas. 

Imaginou com detalhes todas as mãos que tocaram cada centímetro da pele esbranquiçada, todos os pares de olhos que viram o corpo nu como ele havia visto, e pensou se alguma dessas pessoas o olhou com tanto significado quanto ele. "Mas, porra, eu o olhei assim? Que merda isso quer dizer?".

E foi no meio dessa explosão quase vulcânica de pensamentos que algo nele simplesmente mudou. Ele era Louis Tomlinson, afinal. Já tinha aprendido há muito tempo ter total controle das emoções, ser responsável e não deixar que nada o afetasse. 

Ele precisou fazer isso quando era menor e era o exemplo de força das irmãs e da mãe. E, mesmo com alguns tropeços no caminho, ele sempre conseguiu ver as coisas com mais clareza, de forma mais analítica. 

Por que diabos então ele estava tão exaltado com aquilo? Por que um riquinho brincou com ele? Ele já deveria saber lidar com isso, não é como se fosse a primeira vez que isso acontece. Não é como se fosse a primeira vez que tivesse sido preso. 

Ele não poderia sentir pena de si mesmo, era patético. 

Ele não seria uma vítima.

Respirou fundo, puxando o máximo de ar que conseguia e soltou devagar. A respiração serviu como um interruptor sendo desligado em sua cabeça, transformando a raiva anterior em um sentimento ainda pior: indiferença

Não importava a forma como a mente conseguia suprimir tudo aquilo, o que importa é que ele precisava se recompor. Ele não se reconhecia mais e ele precisava voltar a ser o Louis-antes-do-Harry. 

O garoto travesso e ousado de Doncaster. O garoto que engoliu incontáveis choros para aparecer com um sorriso para a família. Aquele que sempre resolve as coisas, aquele que aguenta tudo. Ele era forte e não tinha motivos para agir diferente agora.

Caralho, tudo estava tão nítido agora, ele sabia exatamente o que fazer. Primeiro de tudo realmente se engajar e enfrentar o processo judicial até o dia do veredito, e, então, focar no trabalho. 

The MansionWhere stories live. Discover now