trinta e um

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"eu te verei quando a estrada decidir que é hora dos nossos caminhos se cruzarem novamente" - ben maxfield

De volta na cela, rodeado por pessoas "do seu tipo nojento", como havia dito o policial antes de jogá-lo lá, Louis sentiu só raiva durante as primeiras horas daquela penitência silenciosa. 

Raiva de como tudo havia acontecido, raiva do policial, mas principalmente raiva de Harry Styles. 

O sentimento de sorte presente antes no carro havia desaparecido, e se ele soubesse no carro o que ele sabia agora, jamais teria aceitado o convite do ator. 

Por Deus, jamais sequer teria pego sua jaqueta meses atrás, talvez assim pudesse ter impedido essa cascata de desventuras. 

Sem dúvidas o de olhos verdes tinha sido seu cliente mais cruel, já que ao invés de encontros normais em motéis ou na mansão - como todos os outros clientes - ele decidiu brincar com a vida dele.

Talvez o ator estivesse tão entediado com sua vida perfeita e mimada que resolveu sair por aí e semear o caos. 

"Será que aquele discurso sentimental na praia era ao menos verdade? Certamente que não. Ele provavelmente inventou aquilo pra que eu tivesse pena dela, ó, pobre ator milionário... ainda bem que não caí na dele e não falei mais nada aquele dia" maquinava este pensamento por hora a fio e estava se sentindo um grande idiota. 

Mas, depois de algumas horas olhando para o chão, percebeu que estava com raiva de si mesmo, algo que ele conhecia muito bem.

Os encontros que ele achava que o faziam bem, que o tiravam de sua anedonia constante, agora pôde ver com clareza que desde que o conheceu ele passou a se odiar um pouco mais. 

Seja por inveja da vida que o maior levava ou seja pela confusão que ele o trazia, ele passou a gostar menos de si. 

Como diabos ele permitiu que isso acontecesse? Que as coisas chegassem a esse ponto? Essa era a maior incógnita na mente do menor, já que se orgulhava da experiência que tinha naquela profissão.

Pelos anos que passou sendo ingênuo, ele havia aprendido a ser melhor, mais inteligente, menos impulsivo, ele já não agia daquela forma. 

Mas era justamente isso que o incomodava... foi ele que se deixou levar pelos olhos verdes, foi ele que iniciou o sexo no carro e foi ele que provocou o policial por ter chegado perto demais do ator. 

Já nem se reconhecia mais. 

Ok, talvez tenha sido o sexo... ou ter sido pego de surpresa aquele primeiro dia na mansão quando o viu... talvez tenha se sentido... especial? 

Os punhos cerraram cada vez mais fortes e a cela começava a girar, ele simplesmente não conseguia chegar em uma explicação e isso só o deixava mais irritado. Se tivesse algum objeto cortante na cela, sabia bem o que faria. 

Estava irreparavelmente decepcionado, e esse era o pior sentimento do mundo apesar de ser também tão familiar

Ele sabia que merecia toda a merda que estava por vir.

O sol acabara de nascer quando Payne acordou, apreensivo por ter tentado de tudo para conseguir o dinheiro, chegou a encontrar dois clientes mas a quantia ainda não era nem perto de ser suficiente. 

Não poderia nem ir à delegacia para libertar o amigo, então desceu as escadas e ferveu a água do chá em silêncio, remoendo o quanto Tomlinson o havia ajudado e agora que precisava de ajuda, Liam era imprestável. 

A cada gole de chá quente que descia em sua garganta ele pensava em algo para dizer ao amigo quando para justificar a demora em pagar a fiança e deixá-lo apodrecendo naquele lugar horrível por dias. 

Desceu até o hall do prédio para pegar a correspondência - ele assinava diversas revistas de culinária - e parou para conversar com algumas vizinhas que perguntaram sobre a viatura que viram na noite anterior.

Quando finalmente girou a chave na pequena caixa com o número do apartamento 23 estampado, se deparou com um envelope grosso escrito somente "Sorry" em uma letra que parecia ter sido rabiscada com pressa e dentro estavam inúmeras notas que, ao contar meticulosamente, percebeu se tratar de um valor muito maior do que o necessário para pagar a fiança. 

Não teve tempo de pensar no porquê do dinheiro extra, só partiu direto para a delegacia, assinou os documentos, separou a quantia e aguardou o amigo ansiosamente perto da máquina de café. 

O abraço dos dois quando o amigo chegou foi cansado, decorrente de uma péssima noite de sono para ambos.

- Obrigada por isso, cara - a expressão de Louis era neutra mas sincera - Eu vou te pagar essa grana de volta, não se preocupe

Se sentiu mal por receber o mérito pelo pagamento sendo que o dinheiro era do ator, mas sabia que o amigo não podia saber. E, de qualquer forma, por tudo que o menor falou na noite anterior, nunca mais veriam Styles. 

Agradeceu mentalmente pelo cacheado ter sido sensato o suficiente para mandar o dinheiro mas de agora em diante isso não importaria mais.

- Nem pense nisso! - colocou a mão no ombro do amigo - Sei que faria o mesmo por mim

- Espero que você não seja burro igual eu pra estar numa situação dessas - balançou a cabeça - Mas é claro que eu faria o mesmo. Agora vamos, preciso dormir no mínimo umas quatorze horas depois de hoje...

Passando na rua para entrar no prédio, evitou ao máximo não pensar em tudo o que tinha acontecido, mas não conseguiu; e sabia que teria um longo caminho até que não sentisse mais repulsa daquele pedaço de asfalto e tudo que se passou sob ele. 

Um longo caminho de advogados e ordens judiciais até que soubesse se sua vida estava completamente arruinada ou não.

Dormiu quase um dia inteiro de um sono pesado e, ao acordar, o amigo estava esperando na mesa da cozinha com pratos e mais pratos de comida.

- Imaginei que estaria com fome então comecei a cozinhar... - estava segurando um copo de vinho - Mas você não acordava nunca então eu só continuei cozinhando

- Ainda bem que continuei - os dois riram da quantidade de comida

Esperou que estivesse na metade da refeição para finalmente discutir sobre o processo.

- Precisamos falar sobre o que vai acontecer agora - os braços estavam cruzados sob a mesa - A gente precisa procurar um advogado e precisa ser muito bom, se você for condenado pode ficar um ano preso - tinha um certo desespero na voz

- Eu sei, eu sei! - terminou de mastigar um pedaço de batata - Mas a gente não tem dinheiro, ainda mais agora que você pagou essa fiança

O semblante de Tomlinson estava calmo demais, e era preocupante. Mas já tinha aceitado que deveria passar por tudo isso, era o preço que teria que pagar por trair ele mesmo.

- A gente vai conseguir mais dinheiro, eu te prometo! - Liam remexeu a comida

Os olhos estavam esperançosos pois sabia que o dinheiro do envelope mandado pelo ator também cobriria um advogado.

- O que temos que nos preocupar agora é descobrir se você vai ser demitido da mansão

"Caralho", ele nem havia pensado nisso. Checavam regularmente os antecedentes criminais dos funcionários, mas como a primeira prisão foi há muito tempo, não constava em sua ficha, mas depois de ontem, definitivamente o demitiriam.

- Que merda, Liam - apertou a boca - É claro que eles vão me demitir

- A gente vai pedir pro Bernard perguntar por lá sobre isso, ok? E, se você for, eu continuo lá e trabalho por nós dois por enquanto

- Nem pensar! - soltou o garfo que fez um barulho alto quando caiu - Porra, não acredito nisso. Olha a merda que eu causei...

- Vai dar tudo certo, o julgamento não vai demorar e você vai ser absolvido e a gente vai esquecer de tudo isso

Era o que ele mais queria. 

Queria mergulhar em cloro para se livrar de qualquer traço do de olhos verdes que restasse em seu corpo, o esquecer para sempre e parar de se sentir tão mal.

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