oitenta e cinco

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"é estranho. eu me sentia menos solitário quando não te conhecia." - jean-paul sartre

Não demorou muito para que Harry estivesse em um avião de volta para Los Angeles, e a cacofonia caótica resultante da turbulência da aeronave em conjunto com a voz de ao menos cinco pessoas em uma ligação telefônica só contribuiu para o estado enlouquecedor que o ator se encontrava. 

Podia sentir o sangue pulsando em suas orelhas e as vozes de sua equipe se distorciam umas com as outras até mais parecerem discos arranhados do que sentenças coerentes. 

Claro que, mesmo que tentasse, nada do que falavam seria coerente. Nada sobre aquela situação fazia sentido, afinal. Algumas horas atrás estava embrulhado nos braços de Louis olhando o pôr-do-sol e agora estava a onze quilômetros do chão, sendo interrogado, preparado e cutucado como um experimento de laboratório.

Paul - um de seus seguranças - estendeu a mão e ofereceu uma garrafa de vodka em miniatura, para "aliviar a tensão". Harry deliberou os meses de sobriedade, mas concluiu que seria injusto se negar a única coisa que o acalmaria naquele momento. 

Virou a pequena garrafa que tinha o desenho de pássaros brancos e outra logo em seguida, até que não conseguisse mais ouvir a própria corrente sanguínea e focasse de fato no que era provavelmente o pior dia de sua vida. O dia que definiria sua vida e sua carreira para sempre. 

O dia que marcaria o início de uma longa e excruciante penitência. Harry sabia disso. 

Sabia que agora estava correndo contra o tempo para que se ajoelhasse e, diante do mundo todo, negasse seus pecados. Diante da evidência, no entanto, seria recebido com ceticismo e, portanto, teria que passar meses na catedral, repetindo orações de novo e de novo, até o mundo decidir que está absolvido, podendo voltar a normalidade novamente. 

De agora em diante, o destino de Harry estava nas mãos de Deus. De Deus e da mídia.

A equipe o preparou para responder perguntas que poderiam surgir mas, o plano inicial era só ignorar toda a situação, na esperança de que o escândalo fosse esquecido em breve, já que alguns escândalos ainda piores já haviam sido esquecidos em pouco tempo. 

Hollywood era assim, afinal, cada grande história sendo tão efêmera quanto uma estrela cadente, iluminando o céu por alguns segundos apenas antes de desaparecer.

Curiosamente, essa foi a mesma resposta que Liam deu quando questionado por Louis. Os três voltaram rapidamente para o apartamento de Brian - em uma parte rica e arborizada de Boston - mas Louis ficou calado o caminho todo, com as mãos enterradas entre as coxas. 

Liam sabia que Louis sempre se fechava quando estava em pânico, e não estava ansioso para ver o amigo novamente enfurnado na cama por dias, mas sabia que era isso que ele faria. Brian realmente não fazia ideia do que estava acontecendo, mas, tão educado como era, não perguntou nada enquanto dirigia, mas observou que Liam não tirava os olhos do celular, rolando por inúmeros sites e aplicativos. 

Louis só queria ser reduzido à uma partícula minúscula de poeira e desaparecer. Certamente ele sabia que aquele dia chegaria eventualmente. Os dois sabiam, mas a possibilidade parecia ter sido apagada de suas mentes nos últimos tempos. 

Estava tão triste que até se culpou por exigir demais de Harry. Exigir demais que tivessem uma vida normal. Era tudo que ele queria, afinal.

Enquanto passava pelas ruas, toda pessoa que via segurando um telefone, Louis achava que estavam lendo as notícias sobre eles, mas concluiu que ele não se importava com o que estava sendo dito sobre ele. Sem dúvida já tinha sido chamado de coisas piores durante sua vida - até por ele mesmo -, e nada que fosse escrito sobre ele o chocaria. 

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