Capítulo 3. Foco

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MIAMI
Setembro, 2004

Eu estava focado. Depois que Michael sugeriu que eu fingisse fazer o tratamento, que eu mentisse nas sessões, eu tinha retomado o meu controle. Eu tinha um objetivo e eu estava determinado em alcançá-lo. O único problema era que eu não sabia como eu ia conseguir enganar psicólogos e psiquiatras. Sanchez era uma psicóloga que sabia analisar bem o comportamento humano. Anthony, o psiquiatra chefe da clínica, também não seria fácil de enganar. Eu só tinha uma opção.

— Eu preciso achar um jeito de falar com a minha mãe – disse para Michael que estava sentado de frente para mim no refeitório.

— Por quê?

— Ela é psicóloga, cursou psicologia em Harvard, ela vai saber o que eu tenho que fazer para enganar a Sanchez.

— Ela é psicóloga e você veio parar aqui?! – perguntou com um sorriso irônico.

— Psicóloga de formação, mas não exerce a função. Mas é. Eu acho que, ou ela percebeu a minha mudança e todo o resto e não se importou, ou nunca quis enxergar.

— Ou ela é tão obcecada por isso quanto você é – disse e eu apontei o dedo para ele concordando.

— Acho que essa opção.

— Eu não entendo de psicologia, mas ela vai dizer o que eu já te disse, que é para você falar nas sessões – disse certo disso e olhei para ele com ironia. – Estou falando sério, Phillip.

— Eu sei que está e sei que eu preciso falar nas sessões, mas a Sanchez vai saber se eu estarei mentindo – falei em tom de voz baixo e ele abriu a boca, compreendido.

— Saquei. Sem falar que ela vai estranhar você começar a falar que nem um tagarela, já que você só abre a boca para falar que não tem nada para dizer.

— Exatamente. Eu preciso ir por etapas, e a minha mãe vai me dizer quais são.

— Entendi. – Balançou a cabeça. – Eu poderia te ajudar com isso se a Brenda não ficasse o tempo todo na recepção.

Ao contrário de mim, Michael podia fazer e receber ligações. Ele não podia passar uma hora no telefone, tinha limite de tempo e de quantidade de telefonemas por dia, mas era muito melhor do que ficar sem fazer ou receber ligações como eu. Outra vantagem que ele tinha era de que ele poderia até mesmo pedir para ir embora, assinar a sua saída e ir, já que ele mesmo se internou ali.

— Quantos telefones têm aqui? – perguntei e ele pensou por um instante.

— Três. Um na recepção, um na administração e um na sala do Anthony.

— Na administração tem sempre alguém lá.

— Na sala do Anthony é impossível.

— Nem tanto. Ele sai bastante.

— E sempre tranca a sala dele – argumentou e eu suspirei me recostando na cadeira.

— Usar o telefone da sala dele é a única chance que eu tenho.

— E como você vai fazer isso?

— Entro pela janela quando ele não estiver lá – falei e ele balançou a cabeça veemente que não.

— A janela não abre por fora.

— Como você sabe? Já tentou abrir?

— Eu já estive na sala dele e eu sei. A tranca fica só do lado de dentro e ele sempre fecha quando não está lá.

— E se você distraísse a Brenda? – sugeri e ele riu.

— Distrair a Brenda enquanto você está no telefone bem no balcão? Phillip...

Obsessão: Los Angeles - Vol. 2Where stories live. Discover now