Parte I: Clínica

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Parte I

MIAMI
Agosto de 2004

Phillip. – Ouvi ela me chamar e ignorei, olhando fixamente para a ponte do lado de fora através da janela.

Eu não queria estar ali, eu não queria estar naquela maldita sala, naquela maldita clínica.

A clínica ficava situada em uma ilha, que tinha de um lado, um rio, e do outro, uma praia. O acesso à clínica se dava através de uma ponte, que obviamente havia um portão e uma guarita controlando a entrada e saída de pessoas. Na área ainda havia um lago onde se podiam fazer atividades como canoagem, pesca e stand-up paddle. Era uma clínica luxuosa que também tinha como áreas de lazer: sala de jogos com televisão, piscina e uma sala de ginástica. Mas nada ali me interessava. Eu só ficava no meu dormitório pensando em Melanie o tempo inteiro. Eu só pensava em sair dali e ir para Los Angeles. A minha falta de interesse em fazer qualquer coisa mais a vontade de sair daquele lugar, fazia com que o tempo parecesse passar muito, muito devagar.

Duas semanas já haviam se passado desde que eu fui internado naquela clínica contra a minha vontade, mas parecia ter se passado muito mais tempo do que isso.

Desde o meu primeiro dia ali, após acordar amarrado na cama, eu não tinha notícias de ninguém, nem mesmo de minha mãe. Não que ela não quisesse falar comigo e me tirar dali, eu sabia que ela queria, mas eu não podia receber visitas e a comunicação era inviável. Aparelhos celulares eram proibidos e os únicos telefones que havia eram da administração. Havia um na recepção, do qual eu já tinha tentado usar para falar com a minha mãe, mas eu não tinha autorização para fazer e nem receber ligações. Eu estava completamente sozinho.

— Phillip!

Ignorei novamente a voz irritante da psicoterapeuta me chamando e permaneci imóvel olhando para a área de fora, mais precisamente para a ponte, uma ponte que para mim virou um símbolo de libertação do qual eu almejava, mas eu sabia que com a minha não cooperação ao tratamento, passar por aquela ponte seria algo difícil. Eu não queria falar, não tinha nada para falar, não queria fazer terapia nenhuma. Não tinha nada de errado comigo.

— Phillip, eu estou aqui para te ajudar, mas se você vier para todas as sessões e ficar calado, eu não vou ter como fazer isso.

Respirei fundo fechando os olhos e expirei abrindo-os novamente. Virei o rosto para ela, que estava sentada em sua poltrona azul, com a perna cruzada e com um caderno de notas aberto no colo.

— Como eu te disse nas outras vezes... Eu não tenho nada para falar – virei o rosto novamente para a janela e fiquei olhando para o lado de fora. Ouvi um breve suspiro seguido do barulho do caderno de notas se fechar.

— Phillip, você está aqui por um motivo...

— O único motivo de eu estar aqui é por meu pai ter me colocado aqui contra a minha vontade! – A interrompi virando o rosto para ela.

— E ele fez isso por uma razão! – Ela retrucou e eu ri com ironia balançando a cabeça, voltando a olhar para a janela.

— A única razão para ele ter feito isso é ele achar que eu precisava.

— E por que ele achava isso? – Ela perguntou e eu permaneci calado. – Ele tinha que ter um motivo ou ele não teria feito isso.

Eu sabia que ela estava tentando me fazer falar sobre os motivos que levaram o meu pai a me internar ali, sabia que ela estava tentando me fazer falar sobre Melanie e tudo o que vinha acompanhado dela. O ciúme excessivo, a agressividade, a possessividade, a obsessão. Tudo aquilo era difícil para eu admitir que eu tinha, portanto eu não falaria nada, pois para mim aquilo era tudo por uma única razão: O meu amor obsessivo por ela. Um amor que se eu falasse para ela que eu tinha, ela ia querer arrancar de mim até não sobrar mais nada. E esse era um tratamento do qual eu não queria me submeter. Eu não queria deixar de sentir o que sentia por Melanie.

Obsessão: Los Angeles - Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora