Capítulo 4. Despedida

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MIAMI
Outubro, 2004

Eu nunca quis machucá-la, eu não vi que era ela ali. Eu estava cego, completamente fora de mim. Eu nem me lembro de tudo, eu só tenho fragmentos do que aconteceu. Eu não me recordo do rosto dele e de como ele era. Eu só me lembro de estar batendo em alguém sem parar, como se eu... como se não fosse eu. Era como se a minha mente tivesse se desligado e o meu corpo estivesse agindo por conta própria. Algumas pessoas tentaram me fazer parar e... ao ver que uma delas tinha sido ela e que eu tinha a acertado... eu voltei a mim. Eu não nego que algumas vezes eu apertei o seu braço com força, mas eu nunca quis machucá-la dessa maneira. Eu a amava demais e qualquer coisa que me fizesse pensar que a perderia, me aterrorizava. Era desesperador. Porém eu já a tinha perdido, mas não aceitava isso. Eu tinha medo de que a minha vida acabasse sem ela, achava que sem ela eu poderia não sobreviver, que a minha vida não faria mais sentido algum. Eu perderia o rumo e a vontade de viver, pois nada era mais importante para mim do que ela. Eu cheguei aqui ainda com esse pensamento, sentia raiva por ela não estar comigo, por não a ter e, principalmente, por saber que um dia ela conheceria outra pessoa e que ela amaria alguém como nunca me amou, que ela se casaria e teria a vida que era para ter comigo, que os filhos dela não seriam meus também. Mas agora eu entendo que pensar dessa forma era errado e que nada é mais importante do que eu. Eu preciso priorizar a mim, eu também tenho uma vida pela frente, tenho outros objetivos de vida, como ter sucesso profissional, e que eu posso e vou amar alguém de novo, mas não dessa mesma maneira, porque agora eu sei que isso não faz bem a ninguém. Esse amor que eu sentia por ela, não fez bem a mim e muito menos a ela. Mas faz parte do meu passado, é a minha história. Eu nunca irei esquecê-la, ela vai ser para sempre o meu primeiro amor, me lembrarei com carinho dela, nós tivemos momentos maravilhosos juntos, mas acabou, o nosso relacionamento chegou ao fim. Eu aceito isso. Aqui eu aprendi que o amor é diferente de obsessão, o amor te liberta, não te prende, e eu a deixarei ser livre, pois assim eu também serei livre. Por muito tempo eu não estava me sentindo ser eu mesmo, e agora... eu sinto que voltei a minha essência. Eu quero apenas a felicidade dela e eu também quero ser feliz. Nós dois merecemos ser felizes. – Terminei de falar com um meio sorriso e enxuguei o canto dos olhos com os aplausos de alguns e acenos de cabeça de outros.

— Muito bom, Phillip. Que bom que esteja pensando dessa maneira. Você fez muito progresso no seu tratamento. – A psicóloga responsável pela sessão em grupo falou e eu acenei, me sentando na minha cadeira. – E é exatamente isso! Você merece a felicidade e se você a amava tanto, você deseja que ela seja feliz também. Você também merece ser livre, porque a obsessão não faz mal e prende apenas o outro, mas para quem sente isso também. A obsessão muda a sua vida, atrapalha o seu desenvolvimento pessoal. Isso serve para todos vocês, não só para quem está aqui por ter alguma obsessão. Vício e obsessão atrapalham o crescimento pessoal, impedem que vocês tenham uma vida feliz. Tem tanta coisa boa no mundo para usufruir, tantos anos de vida ainda pela frente, vocês ainda têm tantas realizações! Planejem e se concentrem em projetos de vida, realizações profissionais e pessoais, acreditem em vocês!

Todos acenaram positivamente e, então, ela deu a sessão em grupo encerrada. O grupo se levantou e, um por um foi saindo da sala.

Há um mês e meio que eu passei a querer falar nas sessões. No início era admitindo que poderia ter algo de errado comigo, que com a medicação eu estava mais calmo e pude avaliar melhor os meus pensamentos e que eu não conseguia pensar em outras coisas a não ser nela. O ponto alto foi dizer para Sanchez, na sessão seguinte, de que aquilo estava acabando comigo e que eu precisava de ajuda. Isso mesmo, eu pedi a Sanchez que me ajudasse!

Obviamente ela sabia que um dia isso ia acontecer, só não fazia ideia de que era puro fingimento meu.

Comecei a falar, respondendo as suas perguntas, ainda hesitante, sem querer contar para ela as coisas que eu fiz, pois obviamente era constrangedor. Porém eu falava o que eu queria falar, omiti muitas coisas a respeito de mim mesmo e do meu relacionamento com Melanie. O que eu falava abertamente era o que tinha acontecido em público, ou na presença de algumas pessoas, pois isso era um fato que eu não poderia omitir e nem mentir, por haver testemunhas daquilo. Mas o que aconteceu entre mim e Melanie quando ficávamos sozinhos, coisas das quais ninguém tinha conhecimento, eu omiti. Eu não falaria para Sanchez o que somente eu e Melanie sabíamos, ou os meus pensamentos sobre ela ou o fato de eu só chegar ao orgasmo com outra pessoa se eu pensasse nela.

Obsessão: Los Angeles - Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora