Prólogo

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LOS ANGELES
Outubro de 2012

Eram dez horas de uma manhã de domingo e eu olhava fixamente para o marcador de localização no mapa na tela do monitor.

Desde a noite passada que ele permanecia parado no mesmo lugar, no mesmo endereço, na mesma casa.

Apaguei o número da busca e digitei outro, esperando em seguida o resultado da sua localização. Quando foi encontrado, um marcador apareceu na tela, no mesmo lugar em que estava o outro. Minimizei a janela do programa e abri outro da câmera de segurança. A imagem da casa logo apareceu, em tempo real. A câmera, instalada estrategicamente na parte alta de uma casa do outro lado da rua, me dava uma visão ampla da frente da casa e parte da rua. Era possível ver o portão da garagem, a porta principal e, através das janelas, eu podia ver a sala de TV e parte da sala de jantar. No andar de cima, eu tinha a visão do corredor e o quarto principal, do qual eu podia ver praticamente em toda a sua totalidade, incluindo a porta do banheiro e a entrada do closet.

Essas eram as únicas visões que eu tinha da casa por aquela câmera, os outros cômodos como: a cozinha, o segundo quarto e o terceiro cômodo, que há pouco tempo descobri ser um ateliê, eu não tinha imagens pelo computador. Mas só de ter a visão do quarto, principalmente da cama, posicionada de lado para a janela, me era suficiente.

Um movimento no andar de baixo me chamou a atenção. A figura masculina passou pela janela e andava de um lado para o outro em frente ao sofá, falando agitado ao celular. Depois de poucos minutos, encerrou a ligação e sentou-se no sofá, passando as mãos nos cabelos. Ele parecia bem nervoso. Alguns poucos segundos depois, ele levantou-se e virou para o lado, onde ficava a mesa de jantar e sumiu.

Depois de alguns minutos, sem movimento algum, eu vi um carro preto parar em frente à casa e as portas do mesmo se abriram. Duas pessoas, um homem e uma mulher, saíram dele e se dirigiram para a porta. O homem que estava na casa surgiu na porta antes dos dois chegarem e ele falava aborrecido com um deles. Em seguida, eles passaram pela porta que logo se fechou. Através das janelas, eu pude ver que o homem, que já estava na casa, e a mulher discutiam, mas ela pareceu ignorá-lo e passou para as escadas. Logo depois, ela apareceu na janela do corredor e depois entrou no quarto, tirando um blazer que cobria a roupa que tinha usado na noite anterior. Ela entrou no banheiro e fechou a porta. Os dois homens permaneceram na sala e conversaram rapidamente. Eles se cumprimentaram e o dono do carro logo saiu, andando em direção ao veículo.

Minutos depois de a mulher entrar no banheiro, ela saiu de lá com um roupão branco cobrindo o seu corpo e deitou na cama, se virando de frente para a janela. Ela permaneceu ali, enquanto o homem continuava no andar de baixo, sentado no sofá da sala.

Eu me levantei e saí do quarto, fechando a porta que se trancou automaticamente, graças a uma fechadura eletrônica que se destrancava com uma senha. Uma senha que apenas eu sabia.

Entrei na cozinha do meu apartamento e a minha governanta, Clarice, estava fazendo o almoço. Ela tinha quarenta e sete anos e estava comigo desde que eu me mudei para aquele apartamento há quatro anos. Clarice cuidava de tudo para mim enquanto eu ficava fora trabalhando na firma e até nos fins de semana. Ela era divorciada, sem filhos e morava sozinha em uma casa ao sul de Pasadena. Como ela ficava muito tempo sozinha, preferia ficar em meu apartamento durante o dia, inclusive aos domingos. Com exceção do cômodo, que eu tinha acabado de sair, ela tinha acesso a todos os outros do apartamento.

Aquele era o meu escritório e eu passava muito tempo ali dentro, depois de chegar do trabalho e, às vezes, no fim de semana. Clarice sempre me dizia que eu trabalhava demais, por eu passar a maior parte do tempo livre ali dentro, mas o que ela não sabia era de que, mesmo trabalhando em uma firma de advocacia grande que exigia muito do meu tempo, o que eu menos fazia ali era ficar lendo e redigindo documentos. Os assuntos da firma ficavam na firma. Ali não era somente o meu escritório, era também a minha central de vigilância. Tudo o que eu fiz nos últimos quatro anos estavam ali dentro, em arquivos no computador, em pastas de arquivos organizados em uma gaveta e, até mesmo nas paredes. Ninguém, absolutamente ninguém, poderia entrar ali, não sem a minha permissão, e as únicas pessoas que tinham autorização eram a minha mãe, claro, e o meu melhor amigo, mas eles não sabiam a senha da fechadura. Eles eram os meus maiores cúmplices, eu não teria conseguido chegar até ali sem eles dois me ajudando.

Depois do almoço, eu voltei para lá e fiquei vigiando a casa pelo monitor, enquanto eu fazia outras coisas. A mulher estava agora na sala, sentada no sofá e estava vestida com o que parecia ser uma calça de moletom e camisa. O homem, eu não sabia onde estava, ele não aparecia em nenhuma parte que eu tinha imagem.

Minutos depois, o mesmo carro preto de antes parou em frente à casa e, o mesmo homem saltou dele, andando em direção à residência. No segundo seguinte, a mulher se levantou do sofá e abriu a porta, lhe dando passagem e a fechou. Eu a vi passar pela janela da sala e os dois conversaram brevemente, antes de ela subir apressadamente até o quarto, o deixando esperando. Ela entrou no closet e saiu de lá segundos depois, vestindo um casaco e usando tênis. Apanhou o blazer que tinha deixado em cima da cama antes, pegou algo de dentro de uma bolsa e saiu, voltando para a sala.

Quando eu percebi o que estava acontecendo, os dois já estavam saindo da casa e andaram apressados até o carro. O outro homem que estava na casa, abriu a porta apenas para ver os dois já dentro do carro e se virou frustrado, quando o carro saiu. Ele entrou novamente na casa e alcançou o celular, sentando-se no sofá.

Abri novamente o programa de rastreio e digitei rapidamente o número na busca, esperando localizar. Quando o marcador de localização apareceu, dando a sua localização, eu não acreditei. Ele estava parado no mesmo lugar, na casa.

— Não, não, não. Não! – Bati com a mão na bancada e passei as mãos nos cabelos, nervoso por não ter a sua localização. – Para onde você foi? – Me perguntei, olhando para a tela e pensei por um momento. Só tinha um lugar para onde ela poderia estar indo. – Merda!

Fechei os programas, desliguei o monitor e saí. Passei rapidamente no meu quarto e troquei de roupa, peguei o capacete e as chaves da moto, e saí.

֎

Eu estava quase chegando ao meu destino, do qual eu achava que era para onde ela teria ido, quando o meu celular tocou. Como eu sempre usava o fone de ouvido quando saía de moto, eu atendi sem ver quem era.

Phillip, sou eu.

— Eu não posso falar agora, Clarice, estou de moto.

Desculpe, eu só precisava te informar que a sua prima Diana está aqui.

— Diana? – indaguei, estranhando o fato de minha prima, que mora em outra cidade, estar no meu apartamento.

Sim, ela e o namorado estão aqui. Passaram aqui antes de irem para o aeroporto.

Naquele momento, eu passei a pilotar no modo automático, perplexo sem conseguir reagir por segundos, pois não era a minha prima Diana quem estava no meu apartamento, ela tinha terminado o namoro há alguns meses. Quem estava no meu apartamento era ela. Era a Melanie.

— Estou voltando – informei, encerrando a ligação e fiz o retorno ali mesmo, sem nem me importar se eu estava infringindo alguma lei ou se eu ia provocar algum acidente.

Alguns carros buzinaram e frearam bruscamente, mas eu acelerei, me importando apenas em chegar lá antes que Melanie saísse, ou pior, que ela conseguisse entrar no meu escritório.

Melanie sempre foi curiosa e, se ela encontrasse aquela porta, ela ia querer entrar ali de qualquer jeito e, se ela entrasse ali, estaria tudo perdido. Tudo o que eu fiz nos últimos anos seria descoberto e tudo estaria perdido!

E o que eu fiz nos últimos anos? Eu vou contar.

Obsessão: Los Angeles - Vol. 2Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon