Capítulo 9. Visitante

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BOSTON
Setembro, 2005

Mesmo deletando o contato de Natalie do meu celular, eu sabia que seria difícil me afastar completamente, pois Shane namorava Emily, que com certeza ia passar a me detestar por ter feito isso com a amiga dela. Mas o que eu poderia fazer? Natalie tinha se apaixonado e eu não queria compromisso algum. Ela sabia muito bem disso. Foi ela quem não sustentou ser apenas um caso. Eu não tenho culpa se ela se apaixonou e imaginou que eu ia simplesmente mudar de ideia e aceitar namorar por causa disso. A única pessoa que eu queria que sentisse isso por mim, e que exercia domínio sobre mim, estava há quilômetros de distância, do outro lado do país.

Shane já estava sabendo de tudo e eu falei para ele que não dava mais para continuar, que ela estava apaixonada e que para não piorar era melhor que tudo acabasse agora. Podia até não parecer, mas eu fiz isso pelo próprio bem dela, era melhor terminar de uma vez desse jeito, logo no começo dessa paixão dela, do que ficar enganando e dando esperanças e expectativas de algo que não ia acontecer. Eu me afastando, ela ia acabar me esquecendo.

Mas obviamente isso não aconteceu.

Nos dias seguintes, eu sumi do radar da Natalie e não demorou muito para ela me ligar, mas eu não atendi a nenhuma das suas ligações. Eu fugia até da Emily, evitando ficar no dormitório quando ela ia para lá com Shane, pois sabia que ela tentaria falar comigo sobre Natalie. Eu passava boa parte do meu dia andando pelo campus e saindo com outras pessoas. Estava aproveitando bem o tempo, antes das aulas recomeçarem, para conhecer novas pessoas. Harvard estava tomada de alunos novos para o período de orientação dos calouros. Nesse mesmo período, eu e Shane saímos do nosso dormitório e fomos para um novo. Aquele era apenas para os alunos do primeiro ano. No nosso novo dormitório tínhamos até uma pequena cozinha, somente com o essencial: um fogão, uma geladeira, micro-ondas e uma cafeteira elétrica. O resto continuava o mesmo, dois quartos, uma sala e um banheiro.

Uma semana e meia depois, as aulas do segundo ano já haviam começado e eu estava focado novamente, me dedicando apenas aos estudos. Eu tinha terminado o primeiro ano como primeiro da turma e queria continuar sendo.

Toda semana tínhamos algo para ler de até mil páginas e, naquelas primeiras semanas de aulas, isso não foi diferente. Eu nem me importava mais de ser chamado de traça por devorar livros. Muitos eu já tinha lido em casa, meu pai tinha todos eles, mas eu precisava reler algumas coisas para me lembrar. Após as aulas, eu ia para a biblioteca e ficava lá, muitas vezes sozinho. Todo mundo sabia onde me encontrar e exatamente por isso, na segunda semana eu estava lá, sentado à uma mesa e distraído lendo um livro, quando avistei ao longe a Natalie andando, passando o olhar pelas mesas. Eu não tenho vergonha alguma de dizer que me abaixei, me escondendo debaixo da mesa. Um rapaz que estava sentado próximo a mim, me olhou sem entender absolutamente nada. Eu expliquei e pedi a ajuda dele para sair dali. Peguei as minhas coisas e ao seu sinal, saí dali sumindo das vistas dela, passando entre as enormes estantes de livros. Por saber que ela me procuraria novamente ali, eu passei a ir para uma cafeteria perto do campus e ficava lendo lá. Nessa cafeteria, acabei conhecendo mais uma garota que faria parte da minha lista.

Nos fins de semana, quando eu tinha tempo, eu me divertia e procurava por sexo com quem eu já tinha uma relação fixa. Como Shane estava namorando, ele estava mais sossegado e já não saía mais tanto para festas. Eu saía com outras pessoas e com algumas garotas que eu já conhecia, inclusive a que eu conheci na cafeteria.

Mas mesmo quase depois de um mês, Natalie continuava tentando falar comigo, através de telefonema, ou por intermédio de Emily. Shane era persuadido por Natalie e pela namorada para ele falar comigo, porém ele não falava nada, nem discutia ou argumentava qualquer coisa, ele me conhecia muito bem para saber que seria perda de tempo, que eu não daria ouvidos algum a qualquer pedido, ele apenas falava o que elas pediam e que Natalie insistia, reclamava com ele sobre eu não atender suas ligações, ter sumido, e que estava com saudades minhas. Até que uma tarde, no início de setembro, eu estava sentado na cama, com as costas encostada à parede e usando somente uma bermuda, pois o calor era grande. O laptop estava no meu colo, com um arquivo do Word e uma aba da Internet abertos. Eu estava olhando uma página do Facebook que tinha mesmo passado a se chamar somente Facebook. Eu não tive nada a ver com isso, apesar de ter visto o tal do Mark Zu pelo campus. Ele e os amigos que criaram o site tinham se tornado uma celebridade na Universidade por conta disso. Mas isso não importa, o que importa é que eu estava fazendo apenas uma busca na rede para saber se Melanie tinha criado um perfil.

Obsessão: Los Angeles - Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora